Escrevo esta crônica dentro de um Airbus 380 a 12.500 metros acima do chão, afastando-me cada vez de Fortaleza, das lembranças e dos motivos de empreender esta jornada em busca de um destino qualquer aonde quer que chegasse. Não faria diferença. Naquele momento, em pleno ar, eu era apenas um número de assento e um canhoto da bagagem pouca. Comecei a escrever depois de ler as mensagens dos românticos teimosos que se solidarizavam com as minhas queixas e feridas abertas pelos motivos das partidas, ou pelas razões e culpas que já não valem mais a pena comentar. Desisti de desistir quando mesmo sentindo que o coração estava morrendo devagar por dentro ainda havia o que fazer para completar o caminho, chegar ao fim da estrada fosse para fincar uma bandeira ou uma cruz. Quando é de amor que o coração padece ele começa a bater devagar e depois silencia. Antes de fazer as malas para ir embora, abracei-me ao travesseiro confidente e chorei. Não por querer voltar e bater à mesma porta, mas para ser ouvido, para dizer que senti medo de falar dos meus medos, mais nada. Mas nem para isso tive coragem e ainda havia uma torcida contra, a mesma que fiz rir e riu comigo e se divertiu com o meu bom humor moleque. E aí, sozinho, sem defesa, sofrendo ataque por todos os lado, pelas hienas de plantão, sucumbi, deixei-me escorregar para o chão do fundo do poço e me aquietei rendido. Li, certa vez, que existem momentos na vida de uma pessoa em que a dor é tamanha e tão insuportável que até o amor parece imprestável. E foi assim mesmo. Na realidade, não havia a quem atribuir uma culpa a não ser a mim mesmo. No momento em que achei que estava sendo vítima de uma mesma armadilha, descobri, entre assustado e revoltado que fui eu mesmo quem preparou todas as armadilhas que camuflei com um ego inflado e uma vaidade inaceitável para ver, logo depois que a idade me apontava seus dedos acusadores e implacáveis para as marcas do tempo estampadas no rosto. De repente, um aviso de apertar os cintos por conta de uma zona de turbulência. Quando um avião decola, por mais tecnologia embarcada que exista em sua configuração, quando ele está mais perto das estrelas ou desce e pousa, como pousou, suavemente, no aeroporto de destino. Ou não. A melhor frase para descrever Dubai, a primeira escala antes de Saigon é:...
"Dubai não existe..." Existem nomes que parecem mágicos para um viajor solitário, Akureiry, por exemplo, Saigon, Can Thò, Farida Sokolowsla, delta do Mekong, e Linh Hoang, nomes de lugares e de um anjo da guarda. Os desafios que busquei e os que encontrei foram muitos até ali, e até o momento havia vencido todos. Era uma guerra pessoal, feito um Dom Quixote a enfrentar moinhos imaginários, fazendo com suas mágoas e suas dores uma lança mortal a perfurar ventos distante e desconhecidos; a gritar contra os céus montado em um cavalo de aço alado, voando alto, muito alto, desfazendo sonhos impossíveis, enterrando mágoas e procurando um destino distante para ficar de vez ou fazer a curva e começar um caminho de volta. Diferente. De tudo.
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