Joaquim Falcão
O silêncio é gritante.
D. Helder, que com certeza teria sido Prêmio Nobel da Paz se não tivesse sido vítima da aliança do regime militar com João Paulo II e Dom Dedé, o arcebispo quase anônimo que lhe substituiu na prestigiosa até então Arquidiocese de Olinda e Recife, talvez hoje estivesse se não entre os papáveis, pelo menos entre os santificáveis da Igreja.
Para que o Vaticano se reconcilie com os pobres brasileiros, é prudente pedir perdão aos próprios brasileiros pela censura eclesiástica que impôs a D. Helder e à Teologia da Libertação, ao ostracismo que D. Helder aceitou na sua desilusão calada e sofrida.
Enquanto isso João Paulo II fazia ostensivamente política ocidental capitalista em sua terra natal para derrubar o regime comunista polonês, amordaçava os padres e fiéis brasileiros, muitos torturados, que também queriam implantar a democracia no Brasil. E conseguiram, sem auxílio do Vaticano.
Hoje, o Papa Francisco corre atrás do prejuízo. Vamos saudá-lo e ajudá-lo. O elitismo político religioso de João Paulo II abriu as largas avenidas da fé e da esperança, não para o catolicismo, mas para as demais religiões, não tradicionais ao Brasil, como a dos evangélicos. Estes ocuparam o vácuo do desprezo e do medo das massas experimentado pelos cardeais e papas de Roma. Agora a Igreja Católica amarga uma perda de mais de 30% de seus fiéis para os evangélicos.
O Vaticano europeizado em sua distância, aprisionado pelos esquemas mentais da guerra fria – ou comunismo ou capitalismo – não foi capaz de ver D. Helder com a singularidade da esperança. Estigmatizou-o. Não percebeu que a Igreja Católica tinha sido, em nossa história, “o cimento de nossa nacionalidade”, como disse certa feita Gilberto Freyre.
Não me espantaria se um separatismo religioso se instaurasse progressivamente no Brasil com a expansão dos evangélicos. O que é um direito deles, sem dúvida.
Será possível que o Papa Francisco, que prega como pregava D. Helder, com simplicidade, a favor da pobreza, contra os ouros dos altares e os veludos carmim, vá silenciar, nesta longa viagem, sobre D. Helder? Não vá lhe estender a mão?
O quarto de D. Helder, em sua pequena casa no Recife, e não no palácio do Arcebispado a que tinha direito, era mais despojado do que este quarto, difundido no mundo todo, que o Papa Francisco tanto recomenda como simbolismo de expiação dos pecados da elite religiosa diante dos pobres. Já é algo em comum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário