Em meados de 2010, às vésperas de ser escolhido pelo PSDB para concorrer à sucessão de Lula, o ex-governador de São Paulo, José Serra, interrompeu por alguns segundos o que me dizia no seu escritório de candidato, olhou para o céu cinzento recortado pela janela à sua frente, e comentou traindo uma ponta de desânimo:
- E o pior de tudo é o seguinte: qualquer um que ganhe a eleição, eu, Dilma ou Marina, enfrentará sérios problemas na economia que logo, logo começarão a aparecer. Lula deixará uma herança muito pesada. Não fez as reformas que o país precisa. O próximo presidente, por exemplo, será obrigado a promover um duro ajuste fiscal.
- Se perder, essa será a última eleição presidencial que o senhor disputará? - perguntei.
- Não sei. Por que haveria de ser? Estou bem de saúde. E ainda me sinto jovem. Lula perdeu três eleições para presidente antes de se eleger pela primeira vez. Por que comigo não pode acontecer o mesmo?
Serra desfilou, anteontem, magro e sorridente pelas dependências do Congresso. Visitou alguns senadores. E foi embora depois de cometer duas frases que salvaram uma tarde fraca de notícias para os jornalistas que costumam bater ponto por ali.
A primeira:
- Não fico contente com a queda de ninguém em pesquisa, muito menos da presidente da República. Mas o fato é que temos hoje um governo fraco e uma crise. Há uma crise à procura de um governo.
Na conversa que tivemos em São Paulo, ele havia me alertado para a fragilidade de Dilma como gestora. "Ela não entende muito de economia. É fraquinha", disse.
A segunda frase, esta responsável pela excitação dos jornalistas:
- Ninguém pode desprezar os 43 milhões de votos que tive no segundo turno da eleição presidencial de 2010. O PSDB não despreza.
Perguntaram-lhe no Congresso se ele abandonará o PSDB para ser candidato a presidente pelo PPS, partido presidido pelo deputado federal Roberto Freire. Serra deu a entender que poderá fazê-lo, sim.
Há duas semanas, internado no Hospital Sírio Libanês para se submeter a exames, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) foi visitado por Serra. E ouviu dele sem meias palavras que trocará o PSDB pelo PPS para disputar pela terceira vez a presidência da República.
Roberto Freire já ouviu de Serra a mesma confissão.
Serra espera que as próximas rodadas de pesquisas de intenção de voto testem a força do seu nome. Se isso ocorrer, ele está convencido de que fará boa figura. Talvez apareça em segundo lugar, logo atrás de Dilma.
Não descarta a hipótese de vir a contar mais adiante com o apoio do PSDB. No segundo turno - se chegar até lá. Ou ainda no primeiro - caso Aécio Neves (MG), provável candidato do PSDB a presidente, não decole.
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