No primeiro caso são muito bons, no segundo podem criar efeitos devastadores!” Aplicar tal sentença às pesquisas divulgadas recentemente sobre as intenções de voto dos brasileiros me parece no mínimo oportuno. As mudanças de orientação nas escolhas presidenciais por parte do eleitorado parecem muito volúveis para acreditar cegamente nelas. Dito isso, é aconselhável enxergar as tendências subjacentes ao processo democrático e tentar elaborar ideias de fôlego.
Considerando-se o amplo consenso popular conquistado pelo curso lulista da última década, não há dúvida de que Dilma Rousseff, se confirmasse sua candidatura, estaria em condição de reconquistar a Presidência em 2014. Graças também ao fundamental apoio eleitoral de Lula ela teria força suficiente para superar o impasse pelo qual está passando nos últimos tempos.
O maior interesse do povo brasileiro nesta fase reside, no entanto, no automático segundo mandato da honesta presidenta. Ou será que outras considerações estratégicas se impõem diante do debate nacional que finalmente se desencadeou, em consequência da efervescência social?
Os que afirmam que o Brasil teve nos últimos dez anos um governo do PT erram por aproximação e criam um equívoco político. O Partido dos Trabalhadores, mais simplesmente, obteve a chefia do Estado e do governo sem nunca ter maioria homogênea no Parlamento. Viu-se obrigado, portanto, aos compromissos deletérios que conhecemos e, em relação a suas origens, sofreu inevitavelmente uma parcial mutação genética. A ilusão de que chegar ao governo do País fosse sinônimo de conquistar o “poder” foi breve e se chocou inexoravelmente contra a resistência de estruturas estatais, instituições e leis forjadas por décadas de autêntico domínio oligárquico.
Em consequência, a tentativa de democratizar profundamente a sociedade e resolver seus graves desequilíbrios por meio do controle do Estado tem se revelado efêmera: poderia ser um instrumento formidável de mudança, mas o Estado continua preponderantemente nas mesmas mãos de sempre, e sua reforma com intenção democratizante, sem uma maioria parlamentar coerente, é de fato impossível. Por essa razão, resulta fundamental realizar a mãe de todas as reformas, ou seja, a política, para conseguir a superação do sistema construído com base na Constituicão de 1988.
Hoje é urgente não uma reforma política indefinida ou de fachada, como enchem a boca os tartufos de qualquer facção, e sim um novo pacto nacional entre os integrantes amplamente majoritários da sociedade, cujos interesses convergem: o povo e os trabalhadores de um lado e, de outro, a burguesia e a classe média democráticas, ambos interessados em construir um país mais equilibrado, competente e próspero. Esse novo pacto, através de compromisso parlamentar e lutas sociais na próxima legislatura, poderia abrir o caminho para uma Assembleia Constituinte exclusiva, única possibilidade de realizar uma reforma política que atenda aos interesses majoritários da Nação.
Politique d’abord! (Política antes de qualquer coisa!), exclamam os franceses aludindo à centralidade do pensamento e da ação política. E, no Brasil também, hoje mais do que nunca, a política alta e nobre é a única resposta de valor. Um modelo de sociedade e de política se exauriu: agora é preciso pensar e realizar outro, mais avançado, para evitar o retrocesso das conquistas sociais da última década.
Por essas razões, entende-se que alguns analistas se abalem a imaginar a volta de Lula à Presidência. Sustentam que o povo precisa da orientação e do carisma que só Lula garante, para determinar o momento de ruptura do qual a democracia brasileira precisa. Essa força popular, no parlamento e na sociedade, seria crucial para forjar em paralelo novas alianças e o novo curso que a Nação necessita.
Sigo o raciocínio: pedidos de radicalidade emanam da sociedade de modo claro e forte. Só Lula, voltando às origens, poderia dar respostas a essas demandas para depois ser capaz de negociar, obrigatoriamente, com os adversários de sempre.
por Claudio Bernabucci
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