Joaquim Barbosa: o Obediente

Não demorou muito, após a faca no pescoço de Joaquim Barbosa ter sido exposta cruamente pela Folha, no formato de um apartamento em Miami, e o ministro marca o início da entrega do serviço para 14 de agosto. E, obediente e célere, opera também sem a menor sutileza, antecipadamente, em casa, em tratamento médico e em gozo de férias. 
Segue a trilha do colega Ayres Britto, com sua faca exposta no pescoço, no formato de um genro vendedor de facilidades no tribunal que também presidiu.
Quando se tratou de julgar a Lei de Anistia, Joaquim Barbosa não mostrou tanto empenho. Doente também, como agora, podia ter pedido vistas do processo ao tribunal, mas preferiu omitir-se covardemente, de forma mais criminosa do que os sete ministros (Celso de Mello, Gilmar Mendes, Marco Mello, Carmém Lúcia, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau) que mostraram a cara, pelo menos, e completaram com ele a quadrilha que inocentou de fato e deu a benção para os agentes estupradores, torturadores e assassinos da ditadura. Questão de cálculo ? Quem sabe ? 
Quem sabe os (supostos?) crimes da ditadura não tivessem tanta importância assim ? Quem sabe, poderia vir a precisar de um PMB, um Partido Militar Brasileiro, para vôos mais altos no futuro ? Quem sabe não teria tanta mídia como agora, quando afinal ultrapassaria o coleguinha Gilmar Mendes, com seus jagunços do Mato Grosso, na Globo, na Veja, na Folha e no Estadão ? Quem sabe ?
Faca no pescoço ? Que nada, tem apê porque pode, dentro da lei, e vê aqui o racismo, diz o ministro auto-condescendente.
Não, Joaquim Barbosa não está revendo ainda o racismo que certamente viu quando pobre.
Racismo Joaquim Barbosa poderá ver o que é, após entregar o trabalho sujo que está fazendo para a Casa Grande, ao jogar no lixo todos os princípios de Justiça, atentando contra os direitos das pessoas, falsificando e inventando provas de acusação, ocultando, de forma vil, provas de defesa, infringindo a lei em benefício próprio, para atender sua vaidade e tentar assim superar um complexo de inferioridade e um ressentimento doentios, não pelo correto tratamento médico, mas pela via escusa da prestação de serviços à elite escravocrata com sede no Brasil, e que há meio milênio explora, tortura, estupra, mata e oprime as classes populares, de onde Joaquim veio e que agora trai vergonhosamente com seu comportamento abjeto de negação da Justiça, na sua busca desenfreada e fora da lei para obter proteção e um lugar nos camarotes locais e nos resorts estrangeiros dos Senhores.
Racismo Joaquim Barbosa não verá da parte dos que, após pequena vitória das classes populares na intensa e torturada luta política de mais de 500 anos, nas cidades e nos campos, contra as ditaduras e ditabrandas, luta da qual não se tem notícia de participação sua, lhe demos a oportunidade de alçá-lo ao mais alto degrau da Justiça para honrá-la e, assim fazendo, honrar e dar o exemplo de Justiça para um povo sofrido, amordaçado e escravizado por séculos, de onde viemos, nós e ele. Daí ouvirá as críticas que merece e o combate civilizado aos erros e injustiças que comete.
Racismo Joaquim Barbosa voltará a ver o que é, quando, terminado o serviço sujo, ousar levantar um dedo sequer contra um qualquer dos membros desta elite escravocrata, e ver as opções que lhe restam, o olho da rua ou a prestação continuada de pequenos serviços, à moda Ayres Britto, até ser colocado num rodapé de página da história, no capítulo dos torquemadas. E não como uma Maria, a Louca, na sua demência com consciência de classe, mas sim como um mero colaboracionista a mais da Casa Grande, na sua desvairada perturbação psíquica.
Vai em frente, Joaquim Barbosa. Finalize o serviço. Põe na cadeia esta turma de poderosos do Butantã. E vai ao orgasmo, junto com os Senhores, não esquecendo de lhes brindar com um Mission accomplished ao final, como lá em Miami.
Apesar de você, nós continuaremos por aqui, presos ou não, braços dados ou não, caminhando e cantando as canções que aprendemos dos nosso heróis. 
Como esta, de João Cândido, João Bosco e Aldir Blanc:

O Mestre-Sala Dos Mares
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então
Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias
Glória à farofa
à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo
— Francisco de Assis

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