Após desentendimentos estratégicos, Renato Pereira, o marqueteiro do senador Aécio Neves, foi demitido pelo PSDB. A justificativa é que Pereira condenava a polarização do partido com o PT e desejava um Aécio menos radical em sua postura como candidato à Presidência da República nas eleições de 2014.
Consta que Pereira também teria discordado dos 12 pontos apresentados como tópicos da campanha de Aécio em evento do PSDB realizado no início da semana. E que gostaria de uma mensagem mais voltada ao eleitor real. Ou seja, menos genérica.
Em que pese ser o candidato com maior chance de chegar ao segundo turno contra Dilma, Aécio tem menos intenção de votos do que deveria e continua atrás do ex-governador tucano José Serra, quando é substituído por ele na pesquisa. Na última sondagem do instituto Datafolha, Aécio aparece com 19% das intenções de voto. Quando o representante do partido é Serra, o percentual sobe para 22%.
A falta de rumo do partido é antiga e a saída do marqueteiro é apenas um sintoma de que, mesmo às vésperas das eleições, o PSDB ainda não ajustou seu discurso.
Tampouco parece ter uma estratégia definida para vencer a campanha.
A demissão equivale a trocar de técnico da Seleção às vésperas da Copa do Mundo. É um risco que pode dar certo ou não. Se Aécio chegar ao segundo turno, terá sido uma boa opção. Se ficar pelo meio do caminho, terá sido mais um erro dos muitos que o PSDB cometeu.
O principal deles é o de não ter estabelecido claramente uma linha de atuação para explorar as incongruências e os equívocos do lulismo na fase Dilma. Não apenas no campo econômico, mas sobretudo nos campos político, social e sindical. Aliás, nada sobre o trabalhador é mencionado nos 12 pontos apresentados por Aécio.
Conforme se pôde observar no evento realizado pelo PSDB, o discurso de Aécio Neves tenderá a ser mais crítico a partir de agora. Não por acaso o slogan apresentado foi intitulado de “a mudança de verdade”.
Ao que tudo indica, a questão ética deve estar presente de forma mais efetiva na fala do senador. “Ética e política não devem ser divorciadas como estão na mente de tantos brasileiros”, afirmou.
Em seu discurso, Aécio Neves também enviou acenos ao agronegócio e deu destaque à economia. O ponto alto da retórica foi a crítica ao comportamento fiscal do governo. Mesmo assim, para o povo, a questão parece fazer pouco sentido.
Ao optar por restabelecer a polarização com o PT, Aécio reafirma sua posição de principal antagonista do governo Dilma Rousseff. No entanto, essa situação tem seus limites. Como a comparação entre PT x PSDB é desfavorável aos tucanos, principalmente na área social, ela pode ser suficiente para impulsionar Aécio, mas insuficiente para fazê-lo superar Dilma num eventual segundo turno.
Assim, sem agregar algo novo em sua agenda, o discurso mais crítico, de forma isolada, pode não funcionar.
Murillo de Aragão é cientista político.
No cearensês bunequeiro significa: aquele que bota boneco. Aquele que manipula marionetes.
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