Um dos temas da semana foi a reaparição de Lula no centro do poder – do qual, diga-se, jamais se afastou. Mas o simples fato de se ter exibido sem qualquer discrição, participando de reunião no Palácio da Alvorada com a presidente Dilma e alguns ministros, mostra que fazia questão de ser visto, no papel que exerce desde que transmitiu a faixa presidencial: o de tutor da presidente.
Não foi uma reunião qualquer. Durou cinco horas e, ao final, anunciou-se a troca de guarda na Casa Civil: saiu a senadora Gleisi Hoffmann, entrou o senador Aloizio Mercadante.
A saída de Gleisi estava prevista, já que deve se candidatar ao governo do Paraná. Mas a nomeação de Mercadante, que jamais se incluiu entre os favoritos de Dilma, é sinal de que Lula quer dar cunho mais político que administrativo à Casa Civil e quer se fazer mais presente na antessala da presidente.
Mercadante, assim como Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, é de seu staff pessoal. Com eles, Lula está agora no Palácio. A presença no encontro de Franklin Martins, que dá expediente no Instituto Lula, é outro sinal de que o presidente prepara-se para assumir papel mais ativo no governo, nesse período. É o PT no efetivo comando.
As relações do partido com Dilma sempre foram meio esquizofrênicas. Dilma não é petista histórica. Sua carreira na administração pública começa no Rio Grande do Sul, pelas mãos de Leonel Brizola, que a filiou ao PDT. Seu ingresso no PT deu-se posteriormente, pelas mãos de Lula.
É uma história conhecida, no relato de Lula, que disse ter se impressionado quando a conheceu, admirando seu jeito afirmativo. Trouxe-a para seu governo, deu-lhe o importante cargo de ministra de Minas e Energia e, depois, na crise do Mensalão, que fulminou a carreira de José Dirceu, colocou-a na chefia da Casa Civil.
De lá, à revelia do partido, tornou-a candidata à sua sucessão. Dilma chegou ao Planalto pela vontade pessoal de Lula – e contra a do PT. No auge de sua popularidade, Lula dizia, nos palanques e no horário eleitoral, que, na cédula eleitoral, “onde se lê Dilma, leia-se Lula”. Deu certo, mas
o PT não gostou.
Sentiu-se atropelado – e com razão. Em política, afinal, há fila – e Lula fez com que Dilma a furasse, caroneando alguns petistas históricos. Desde então, as relações entre a presidente e o partido jamais foram amenas. Idem com os aliados fisiológicos da base. Dilma teve que demitir, por denúncias de corrupção, nada menos que sete ministros nos seis meses iniciais de seu governo.
Ensaiou uma faxina, interrompida por Lula e pelo PT, em nome, claro, da governabilidade. Sempre que a barra pesa, Lula entra em cena. Agora, com a campanha eleitoral à vista, ele assume mais uma vez o papel de salvador da Pátria.
A economia vai mal, a insatisfação difusa que alimentou as manifestações de junho passado continua presente, o cenário internacional é nebuloso – enfim, Lula é necessário.
No PT, jamais extinguiu-se a esperança de que ele possa mesmo voltar a ser o candidato do PT. Ele próprio disse mais de uma vez que, quando chegassem as eleições, se Dilma não mostrasse competitividade, ele iria “pro sacrifício”.
Dilma, até aqui, tem liderado com folga as pesquisas. Mas isso pouco significa, na medida em que a população ainda não se deteve para pensar no assunto. Pesquisas precoces nada significam. Se significassem, José Serra teria sido eleito, pois liderou-as até uns quatro meses antes das eleições passadas.
Lula, portanto, continua peça-chave na política brasileira, goste-se ou não disso.
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