Luis Nassif - Política econômica

A arte de não entrar em bola dividida e a confraria dos agiotas

No Brasil, historicamente, a arte de governar é não entrar em dividida.
A falta de centros de pensamento consolidados, de um modelo claro de crescimento, as próprias vulnerabilidades do Executivo com o modelo político, criaram governos de contemporização.
De um lado é bom: impede aventuras que poderiam ser desastrosas. De outro lado, porém, posterga por anos, décadas, questões cruciais que amarram o desenvolvimento.
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É o caso da subordinação persistente das políticas econômicas aos ditames do mercado.
O mercado é parceiro ideal para o desenvolvimento, quando enquadrado em objetivos claros de política econômica. Cabe aos governantes desenhar o modelo e definir o papel do mercado, na capitalização das empresas, no realocamento da poupança para setores prioritários.
De que forma faz isso?
Qualquer manual de finanças define as três principais características dos investimentos: segurança, liquidez (maior ou menor demora para o resgate) e rentabilidade.
Quem quiser segurança ou liquidez tem que abrir mão da rentabilidade. Quem quiser rentabilidade, terá que arriscar em investimentos sem retorno assegurado, de renda variável, e de prazos maiores.
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A taxa básica de juros da economia define a rentabilidade dos investimentos teoricamente mais seguros e menos líquidos.  Para investir em renda variável, em novos projetos, em infraestrutura, os investidores exigirão uma perspectiva de retorno muito acima da taxa básica de juros da economia.
Dois anos atrás, quando a Selic baixou ao nível dos 7,5% ao ano, houve um início de revolução nas estratégias dos gestores de fundos de pensão e fundos de investimento em geral. Precisaram deixar a comodidade da renda fixa e buscar alternativas, inclusive para manter o equilíbrio atuarial dos seus planos.
Teve início um movimento promissor de mudança dos fluxos de poupança, que acabou interrompido por altas pontuais da inflação – provocadas pelo aumento dos preços internacionais de alimentos. O BC piscou e acabou cedendo às pressões do mercado, provocando um novo movimento de alta na Selic.
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E aí se entra na busílis da questão.
Os anos 90, especialmente os anos 2000 deixaram claro os malefícios advindos do controle da política econômica pelo mercado. O único objetivo do mercado é a rentabilidade dos seus investimentos. É um potro bravo que, quando bem guiado, traz desenvolvimento à economia; quando toma o freio aos dentes, derruba o cavaleiro.
É evidente que prefere a comodidade da renda fixa ao desconforto das operações de renda variável.
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O Banco Central continuou a enaltecer a Selic como única ferramenta de controle da inflação – uma hipótese tão falsa quanto uma nota de três. E nenhum dos pré-candidatos de oposição ousa apontar a maior vulnerabilidade da atual política econômica, porque também temem confrontar o mercado.
Por trás desse ritual de imobilismo, uma enorme concentração de mídia no Rio e em São Paulo, repetindo diariamente o discurso do mercado – não do mercado pujante, sofisticado dos gestores que apostam em empresas e setores, mas o mercado viciado da confraria da Selic.

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