*Veja não faz jornalismo. Veja não publica reportagens. Veja faz antijornalismo e publica reporcagens
A declaração cima é do advogado José Luis Oliveira Lima, defensor do ex-ministro José Dirceu. Ele comentou a reportagem da revista publicada neste fim de semana sobre inexistentes regalias que Dirceu estaria recebendo na prisão.
“Nesta semana acompanhei o depoimento que o meu cliente prestou perante o doutor Bruno, no juízo da Vara de Execuções Penais de Brasília. Naquela oportunidade, José Dirceu negou categoricamente que tenha qualquer regalia no sistema penitenciário. O doutor Bruno, quando inquiriu meu cliente, jamais apontou qualquer fato concreto que tivesse alguma relação com a matéria hoje publicada. Matéria essa que não aponta um fato concreto contra o meu cliente, mas tão somente ilações, interpretações feitas na véspera do Judiciário apreciar o pedido de trabalho externo do meu cliente”, afirma o advogado.
Ele ainda lembra que o juiz da Vara de Execuções Penais faz vistorias regulares na Papuda e nunca registrou a existência das supostas regalias apontadas pela revista. “O doutor Bruno visita regularmente o presídio onde o meu cliente encontra-se cumprindo pena. Se verificasse qualquer irregularidade, teria feito os apontamentos legais e devidos.”
Malabarismo verbal
Ainda a respeito dessa reportagem da Veja, recomendamos a todos a leitura do artigo de Ricardo Melo hoje na Folha de S.Paulo, com o título O linchamento de José Dirceu. “O sigilo de fontes é salvaguarda crucial para o trabalho dos jornalistas e geralmente é usado como ponto de partida de uma investigação. Deve ser defendido incondicionalmente. Isso não isenta o autor de medir a gravidade do que escreve. O malabarismo verbal costuma ser uma defesa antecipada de quem faz denúncias impactantes sem ter como prová-las. Exemplo: ‘Uma conversa entreouvida por um servidor’ serve de base para acusar um preso de arriscar a própria vida para ter acesso a benefícios aos quais, por sua vez, já teria direito”, afirma o jornalista.
“Tão espantoso quanto tudo isso é o fato de, em nenhum momento, a reportagem lembrar ao distinto público que José Dirceu está preso ilegalmente. Mérito do julgamento à parte, queira-se ou não, concorde-se ou não, o ex-ministro foi condenado ao regime semiaberto. Pois bem: desde que a sentença foi promulgada, Dirceu vive em regime fechado ao arrepio da lei”, acrescenta.
Também merece ser lida a coluna do jornalista Paulo Moreira Leite sobre o assunto, “A fábrica de ‘supostas irregularidades noticiadas’”. Ele vai direto ao ponto: “A reportagem da VEJA sobre a vida de José Dirceu na Papuda, sem apresentar um fato concreto, sem conferir um boato junto a quem poderia confirmar ou desmentir o que se pretendia publicar, é aquilo que todos nós sabemos. Não é séria nem respeitável”.
“Não passa de um esforço redundante para acrescentar uma nova camada de boatos (no juridiquês da Papuda eles se chamam ‘supostas irregularidades noticiadas’) para prejudicar os réus da AP 470, esforço redobrado depois que eles conseguiram vitórias importantes, como o reconhecimento do erro no crime de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.”
No Tijolaço, Fernando Brito também escreve um bom artigo: “Publicar fotos tiradas clandestinamente por servidores do presídio, possivelmente pagas a peso de ouro, para dar credibilidade a uma história de privilégios supostamente gozados por José Dirceu na prisão, sem um prova sequer, equivale a se publicar que a redação da revista da Abril é sede de bacanais, regadas a champagne, com mulheres agenciadas por Carlinhos Cachoeira, com base em informações de um contínuo que pediu para não ser identificado”.
Por fim, também recomendamos a leitura do artigo de Miguel do Rosário com o título Denúncia de “regalias” de Dirceu reflete o desespero da mídia. Ele afirma que “o mundo real se distancia cada vez mais das ficções políticas da mídia. Esta esqueceu algumas lições simples do que poderíamos chamar de ‘economia da justiça’. Em sua obsessão por baixar o preço de Dirceu, a mídia apenas está deixando-o mais acessível a mais gente”.
*Frase de Joel Neto
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