Alex e o buteco improvisado na praça
Se a ironia estivesse à procura de um endereço, ela teria uma morada certeira na Praça Popular de Cuiabá, capital do Mato Grosso. Reduto badalado da cidade, a região que fica a dois quilômetros da Arena Pantanal cobra sua fama – e seu preço – em época de Copa do Mundo: entre os cerca de dez bares abertos e espalhados pela região na última terça-feira, 30 reais era o preço médio das entradas cobradas de quem quisesse assistir ao jogo entre Brasil e México.
Mas se a ganância floresce durante o Mundial, as oportunidades também.
Aos 33 anos de idade, Alex é dono da banca de jornais e revistas que ocupa um dos lados da praça há pouco mais de três. Acostumado a levantar as portas de seu negócio às 7h30 da manhã e encerrar o expediente às 21h30, ele fez da Copa do Mundo sua rotina antes mesmo que chilenos, russos e colombianos botassem os pés no Centro-Oeste.
Primeiro, arrumou algumas cadeiras e mesas e transformou sua banca em um ponto de encontro para troca de figurinhas do álbum do torneio – são três grupos de WhatsApp dedicados aos clientes apaixonados pelo tema. Mais tarde, com as partidas prestes a começar e a ajuda da esposa, resolveu dar outro destino ao espaço. Encheu um freezer de cervejas, refrigerante e água, instalou um televisor na parede externa da banca e passou a oferecer, sem entrada ou consumação mínima, um buteco improvisado entre os bancos e as árvores de uma das regiões mais valorizadas da cidade.
No primeiro evento-teste da nova fonte de renda, a farra pós-jogo de Chile 3 X 1 Austrália, a tampa da geladeira só foi fechada às 5h30 da manhã. A prorrogação valeu à pena: em um mês regular, a banca arrecada entre 3 e 4 mil reais. Naquela noite, o faturamento foi de R$ 9 mil.
Quando a criatividade e o improviso são padrão Brasil, pouco importa se o butequim não é padrão Fifa.
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Uma Copa do Mundo se faz com pessoas.
As que entram em campo, as que viajam para testemunhá-la, as que enchem as ruas, as que se voluntariam, as que torcem e as que veem no evento uma oportunidade para garantir seu sustento ou para extravasar.
A seção “Álbum de Figurinhas” pretende contar, com um microrrelato artesanal e um retrato por dia, a história de algumas dessas pessoas, muitas vezes invisíveis, que povoam os bastidores da Copa do Mundo do Brasil.
É mineiro, jornalista, fotógrafo, devoto de Hunter Thompson e viciado em internet. Quanto mais abas abertas, melhor.
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