Criança mimada, quando exposta às asperezas da vida, sofre em dobro.
O mesmo vale para político mimado.
Até há pouco tempo, Aécio viveu no mundo superprotegido de Minas Gerais. Jamais foi exposto pela mídia local, dependente dos anúncios do governo, a embaraços e a enfrentamentos.
Isto o poupou de aborrecimentos, é certo. Mas o deixou absolutamente despreparado para lidar com outras coisas que não sejam tapinhas nas costas de repórteres.
O caso do aeroporto – o primeiro grande teste de Aécio como vidraça – é exemplar.
Ele vem mostrando não ter preparo nenhum para as adversidades jornalísticas. Nas vezes em que se pronunciou sobre o assunto, misturou nervosismo, arrogância e falta completa de convencimento.
Decretou, numa das ocasiões, que estava “tudo explicado”, como se coubesse a ele decidir isso. A melhor resposta a isso veio do colunista Elio Gaspari: “Explicação de Aécio não decola”.
E como poderia?
Sua melhor alegação é que o aeroporto pertence não a seu tio, mas ao Estado, pois a terra onde ele está foi desapropriada. (Em termos, porque a desapropriação está na justiça, num caso de litígio.)
Mas, se é um aeroporto de interesse público, como justificar que o acesso a ele só se dê se você, autorizado, pega a chave na fazenda?
É um aeroporto para poucos, muito poucos. Sintomaticamente, Aécio não respondeu, numa entrevista, se ele estava entre os poucos. Não disse se usou o aeroporto, o que na prática sabemos o que significa.
Em outro capítulo desastrado de sua louca cavalgada, ele atribuiu o vazamento ao PT. Aos velhos e conhecidos métodos do PT, segundo ele.
Será que ele imagina que, assim, vai transferir o ônus do escândalo para outras mãos que não as suas?
A vida fácil de neto de Tancredo poupou Aécio de dissabores como este com que ele lida agora.
Mas, ao virar personagem nacional, a mamata tinha mesmo que acabar. E o que se vê é uma criança mimada contrariada, pronta a culpar os outros pelas artes que comete.
Não é certa ainda a extensão dos danos do aeroporto para as pretensões presidenciais de Aécio.
Num mundo menos imperfeito, ele retiraria sua candidatura, sob o assédio da mídia e, mais ainda, da opinião pública.
Um homem que repetiu a palavra ética milhões de vezes, sobretudo para acusar seus adversários, não pode tropeçar, ou será visto como detentor de um descaro total.
Mas este aqui é o mundo que temos.
A mídia está fazendo o máximo para preservar Aécio: a mínima cobertura possível, tom quase dócil — o suficiente apenas para não passar vergonha.
Mas não há nada que ninguém possa fazer para poupar Aécio das dores excruciantes que um político mimado sofre ao lidar com dificuldades das quais foi sempre protegido.
Paulo Nogueira - jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.