Eleição presidencial 2014: por Jânio de Freitas

Depois da comoção
Folha de São PauloOlhar para o lado e já encontrar Marina Silva junto ao seu ombro, como registrado na fotografia estatística do Datafolha, não surpreendeu Aécio Neves por dois motivos. Passadas apenas 48 horas da morte de Eduardo Campos, Aécio Neves mostrava-se convicto de que Marina Silva iria de imediato para uns 20% de apoio eleitoral, com opiniões saídas da quota de indecisos, nulos e em branco. Marina alcançou 21%, ultrapassando em um ponto a estabilidade de Aécio. O que talvez tenha sido, aí sim, uma surpresa para ele. E para ela.


Mas a convicção tranquilizadora de Aécio ia mais longe. A seu ver, desde então, o impulso emocional do apoio a Marina Silva não tem vida longa: ao entrar setembro, estará em declínio, a caminho da verdade eleitoral. Uma contradição ficou clara, porém. O candidato prevê o refluxo de Marina, o que lhe devolveria o segundo lugar na disputa, mas à sua volta era diferente. O vice da chapa e o coordenador da campanha, Aloysio Nunes Ferreira e Agripino Maia, entre outros, já transpareciam a sensação negativa de que a disputa com Dilma Rousseff caberá a Marina, e não a Aécio Neves: não escondiam a estratégia já fixada de não se confrontar com Marina, para não dificultar o eventual apoio do PSDB e do DEM à candidata do PSB no segundo turno.
Ora, em termos eleitorais, Marina é a adversária a ser batida por Aécio, porque será o obstáculo capaz de impedi-lo de chegar ao possível turno final. Em termos meramente políticos, PSDB e DEM querem, acima de tudo, a derrota do PT, mas esse lucro implica um risco perverso. Ambos em longo processo de desgaste, embora de intensidades muito diferentes, com a vitória simultânea do PSB e da Rede terão mais dois adversários fortes, com muitas posições extremadas na oposição aos (neo)liberais. E com ambos o PT, apesar de batido, poderá conviver na composição de uma frente nova. E poderosa.
Há, contudo, um elemento de fato favorável a Aécio Neves no crescimento de Marina. O manancial dos indecisos, nulos e brancos, está mais do que provado, não lhe é receptivo. Não se impressiona com sua campanha baseada na tática de "desconstruir" Dilma Rousseff. Por mais que Aécio tente disfarçá-los, a moçada sente o cheiro de temperos conservadores. Se não pretende conformar-se com o terceiro e inútil lugar, Aécio Neves terá de melhorar e clarear o seu programa para captar o necessário com que se manter na disputa. Tornar-se um pouco mais próximo, por exemplo, das ideias políticas e administrativas sustentadas pelo candidato Tancredo Neves em 84/85, ao qual está em indisfarçável oposição.
À margem da substituição de Eduardo Campos e seus efeitos diretos na disputa eleitoral, o Datafolha capta neste momento da sucessão um elemento a ser ainda pensado e pesado. Os seis pontos ganhos pelo governo Dilma no conceito ótimo/bom, confirmados por cinco de elevação até em São Paulo, tendem a produzir uma tradução eleitoral. Ainda mais se considerado que a medição foi posterior à morte de Eduardo Campos. E se assim foi, com toda a carga de noticiário e comentarismo obcecadamente oposicionistas, é presumível que os balanços do governo, no horário eleitoral, tornem a tarefa de Marina e de Aécio mais difícil do que a morte de Eduardo Campos fez supor a tantos.