Na Folha de São Paulo: O escândalo do silêncio, por Jânio de Freitas

São mais de quatro meses de intensa presença, na política e na imprensa, do múltiplo escândalo envolvendo o doleiro Alberto Youssef, negócios passados da Petrobras com as refinarias Abreu e Lima e de Pasadena, e a corrupção do ex-dirigente da estatal Paulo Roberto Costa. Já é um escândalo mais longo que o desnudamento da Presidência de Collor, de pouco mais de três meses. E, por certo, é o escândalo mais obscuro de todos para a opinião pública, apesar de duas CPIs e vários inquéritos da Polícia Federal com a Procuradoria da República.

Uma de suas faces, porém, está bem nítida. É a obediência à regra fundamental dos escândalos brasileiros de corrupção.




Sem estar sob segredo de Justiça, a investigação sobre as atividades do doleiro Alberto Youssef resultou em razoável quantidade de informações públicas. Mas confusa o bastante para que não se saiba, até hoje, como e quem formou a tal montanha de R$ 10 bilhões que Youssef teria posto no exterior por meios ilegais. O custo da refinaria Abreu e Lima, dezenas de vezes maior do que o previsto, tem números, mas não tem a explicação. Os envolvimentos de políticos na corrupção delatada por Paulo Roberto Costa têm alguns nomes, mas os negócios que se ligariam a esses nomes ficam silenciados.




O elo que reúne todas essas omissões: nenhuma pode ser preenchida sem a revelação, também, do lado corruptor. No qual estão as empreiteiras fortes, como OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Engevix, Mendes Júnior, Coesa (da OAS), e por aí em diante. As intocáveis, portanto.