Um dos traços marcantes de Aécio nas eleições de 2014, muito evidenciado nos debates, foi a sua risadinha irônica. Não faltaram analistas para tentar decifrar o significado da famosa risada de Aécio – quase um enigma, como o misterioso sorriso de Mona Lisa, imortalizado por da Vinci.
Alguns até tentaram ensaiar palpites, a exemplo, de que a tal expressão nada mais era do que um símbolo da prepotência do tucano em relação à sua adversária. Mas Dilma não se intimidou e como boa lutadora que é, terminou por nocauteá-lo na grande maioria das vezes.
Terminadas as eleições, o sorriso de Mona Lisa abandonou a feição do tucano e deu lugar ao Grito de Munch. Durante seguidas semanas o tucano sumiu do Congresso, e com ele seu sorrisinho, que já estava deixando saudades. Reapareceu somente agora para surfar, não no Rio como era de costume, mas na votação que definiria a mudança da meta do superávit primário de 2014.
Nos pronunciamentos inflamados proferidos contra a presidenta Dilma, Aécio fez um verdadeiro contorcionismo discursivo para tentar convencer o plenário de que a presidenta, ao alterar a meta de superávit, estaria incorrendo em “crime de responsabilidade”. Tudo em vão.
Ao final de sua aparição grandiloquente, depois de vociferar uma série de ataques à presidenta, em meio a uma ovação histérica da oposição, Aécio encerra sua fala épica abrindo aquele bom e velho, já conhecido de todos, sorrisinho irônico.
Só se pode deduzir que o riso é fruto de sua dissimulação, de seu cinismo, parte de seu grande show, de um teatro montado para externar críticas e opiniões, as quais nem mesmo ele tem convicção.
Desce da tribuna, cheio de si, cumprimenta correligionários, fãs e súditos, sempre com o sorrisinho estampado na cara, sua verdadeira marca registrada.
O grande cínico foi alçado a líder de uma trupe que insiste em não assimilar a derrota de outubro. E assim segue a oposição na estratégia de sair vitoriosa de um terceiro turno, que envolve, entre outras tentativas de golpe, delações premiadas, vazamentos seletivos, radicalização fascista, ânimos inflamados e diversos outros ingredientes que prometem continuar apimentando esse grande caldeirão da política nacional.
O cenário está tão nebuloso e incerto, que ninguém se arrisca a soltar a velha máxima do “quem ri por ultimo ri melhor”.