O tempo passa e as certezas econômicas se esvaem. Começando pela decantada defasagem de preços da gasolina e do óleo diesel baratos - ontem uma realidade, hoje passado.
Com a queda do preço do petróleo no mercado internacional nossa gasolina ficou mais cara e nosso óleo diesel idem. A Petrobras, que antes perdia, agora ganha bilhões ao mês.
Nesse quadro um pouco de humildade faria bem aos economistas e articulistas de nossa mídia. Portam-se – e escrevem – geralmente como se fossem professores de Deus. Particularmente os que escrevem sobre economia, sejam economistas ou não. O ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto é uma das poucas exceções, ao lado dos economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Amir Khair.
Agora a moda é desenhar um futuro sombrio, começando por 2015, para nossa economia. Demoraram mas hoje não tem mais como esconder a grave situação da economia mundial. Reconhecem que até a América Latina vai mal das pernas, como não podia deixar de ser com a maioria dos seus países dependendo de duas ou quatro matérias primas; muitos de apenas duas; e alguns exclusivamente do turismo e do envio de dólares dos imigrantes.
Muitas certezas e incertezas no mundo
Há muita incertezas no mundo mas, também, algumas certezas. Uma economia como a nossa, que depende apenas 14% do comércio exterior – aliás, como a dos Estados Unidos – pode e deve buscar exportar mais. Principalmente capital, tecnologia e serviços.
Mas, seria uma estultice apostar nosso crescimento apenas no comércio mundial. Outra coisa é priorizar a integração regional onde temos todas as vantagens comparativas e um mercado igual ao nosso (pelo menos em população, 200 milhões de habitantes), próximo de nós e ávido para crescer e se integrar com nossa economia e investimentos.
Mas, falta audácia e prioridade. Falta-nos um banco para financiar os avanços na integração regional, industrial e econômica em geral. Integração que para se dar pode e deve começar pela legislação tributária e ambiental.
É em nosso mercado interno e nos investimentos na infraestrutura econômica e social, então, que devemos apostar: nos investimentos em energia, petróleo e gás; na distribuição de renda; nas reformas tributária e urbana; nas reformas política e do Estado; numa revolução educacional e científica; e no aumento geral de nossa produtividade e competitividade.
Só aqui querem reduzir papel dos bancos públicos
Fazê-lo apoiados em políticas ativas como a cambial e a comercial. Conscientes de que somos parte de um mundo onde impera o protecionismo e a administração do câmbio e onde os governos e bancos centrais emitem moeda aos trilhões para salvar seus bancos e empresas.
Só aqui querem reduzir o papel dos bancos públicos – começando pelo BNDES – e se escandalizam com o superávit zero esse ano.
Nossos economistas e articulistas agem – e escrevem – como se no mundo todo os governos não operassem com déficits e fazendo jorrar dólares aos trilhões para desesperadamente evitar a estagflação que os apavora.
Economistas e articulistas tupiniquins passam ao largo do fato de que governos em toda parte desvalorizam suas moedas e se protegem, controlam os organismos internacionais e as finanças com as quais procuram determinar e controlar as políticas de desenvolvimento de todos países sem exceção – inclusive as do Brasil.
Um pouco de humildade e realismo, sem esse pessimismo mórbido, faria bem ao debate das saídas e dos desafios do pais nos próximos anos.