O amor é fome




Sexta-feira à noite e aquela angústia. São as tais borboletas no estômago, os suspiros de saudade, a lembrança de ter sido sempre bom, sempre gostoso.
E a pizza que não chega.
Nessas horas, o entregador é seu príncipe encantado que sempre traz o amor eterno. Conta-se as horas, coloca a roupa apressado, a ansiedade toma conta. Será que a mesa está bonita? Será que ele está pensando em mim também?
Fica tudo pronto, a televisão fala algo mas você não escuta, os dedos apressadinhos a bater no couro da carteira, o abre e fecha da janela para conferir. Uma buzinadinha e o coração dispara, o arrepio sobe. Mas não é ele. Se os motoboys soubessem desse sofrer, não banalizariam o aviso.
A pessoa simplesmente não relaxa, lembranças chegam a galope, se acumulam, se misturam. Os amores antigos, a língua brincando entre os dentes, no céu da boca, o tocar de lábios, no sofá, na cama, na cozinha. Teve uma vez que a vontade era tanta que subimos as escadas já provando de tudo, a sujeira entre os dedos, a respiração errada, os barulhos, a delícia de ser escondido.
Fazer charme é parte do ritual, dar uma atrasadinha, dizer que já saiu, que já está a caminho. E quem ama, espera. Se faz de bobo, solta aquele sorrisinho safado e condescendente, já que ninguém aguenta quem fica cobrando, quem não sai do pé, quem liga de novo e de novo já sabendo que "o carinha saiu daqui agora, já tá chegando aí". Não há relacionamento que resista a esse peso.
E aí você ouve as palmas e desce meio correndo. Ele diz que tocou a campainha, mas não ouviu o barulho, você envergonha-se, olha para baixo, sorri e diz que é verdade, que o botãozinho está com defeito, ele sorri de volta, diz que não tem problema. Conexão feita. A mágica está feita e não tem mais volta.
O amor é fome.
de Jader Pires

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