Uma solução definitiva para reverter a política dos juros altos
A diretoria do Banco Central presidida por Tombini estabeleceu, por unanimidade, mais um aumento da taxa básica de juros. O lado sórdido dessa decisão é a unanimidade. Não existe nesse colegiado sequer uma voz discordante. Seus membros se apoiam uns nos outros em busca de impunidade para um dos casos mais asquerosos de crime continuado na história da República, reflexo da ação criminosa que os discípulos de Milton Friedman realizaram no Chile depois do assassinato de Allende, sob a segurança implacável do ditador Pinochet.
Sim, essa Diretoria do Banco Central tem as mãos sujas de sangue. Não o sangue físico que escorreu das vítimas de Pinochet, mas do sangue que lentamente escorre das veias de brasileiros abertas por uma política monetária estúpida, que combina um principismo técnico tosco com o poder absoluto, ditatorial, conduzido por um bando de burocratas não eleitos e que não obstante tem a prerrogativa de ajudar a provocar no Brasil a maior recessão de todos os tempos, caso esses degenerados não sejam bloqueados.
Creio que devo ter escrito mais de 100 artigos sobre a política monetária adotada no Brasil desde a ditadura, e com mais vigor a partir do domínio neoliberal. O argumento é o mesmo, os dados são similares, o ritmo das decisões igual – exceto no breve período inicial do Governo Dilma. Basta. Cansei de repetir a mesma sinfonia. Observem na chamada imprensa especializada e verão que nada muda. As justificativas são as mesmas – combater a inflação. E não obstante a inflação não sai do lugar e, se sai, sai por outros motivos que não os juros.
A teoria monetária na qual acreditam dogmaticamente esses cavaleiros do Apocalipse é um embuste, um ato de supremo charlatanismo em situações fora do pleno emprego. Essa teoria só pegou fora dos Estados Unidos, tendo em vista o balanço de forças internas na alta burguesia. Aqui, sua efetividade está ligada à política cambial, não à política monetária propriamente, na medida em que juros altos atraem capital especulativo para ajudar a fechar o balanço de pagamentos tendo em vista os altos déficits em conta corrente que temos.
Se tivéssemos uma política antiinflacionária eficaz – eliminação da indexação, estímulo à competitividade, estoques reguladores etc – cairia a máscara da política monetária, que já não poderia ter o pretexto do combate à inflação para aumentar os juros. Em consequência, estamos presos a uma política cambial-monetária e fiscal que elimina qualquer possibilidade de autonomia na gestão da política econômica. A sociedade inteira trabalha para os banqueiros, dentre os quais se destacam os que foram “privatizados” nos últimos anos.
Quando o queridíssimo amigo, o Vice Presidente José Alencar assumiu cumulativamente o Ministério da Defesa, eu, que era uma espécie de seu assessor informal em economia, comentei com ele: “Aproveite a oportunidade, Alencar, e resolve essa questão dos juros de uma vez por todas. Mande uma divisão de tanques cercar aquele prédio do Banco Central no Setor Bancário, dê uma ordem para a evacuação de todos os andares – exceto o da diretoria – e dê ordem para abrir fogo. Garanto que a sociedade vai amanhecer aliviada.”
José Carlos de Assis - Economista, professor, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre Economia Política Brasileira.