Do Brasil de Fato Tchau, Aécio, por João Paulo Cunha


Aécio Neves não é um cara esperto, mas acha que é. Como é próprio do tipo, personalidades como a dele se nutrem mais da autoimagem que da realidade. Uma vez que a vida não lhes proporcionou a saudável experiência do arrependimento nem a construtiva vivência da frustração, acreditam que o real é consequência natural de seus desejos. Não compreendem a derrota, não divisam o outro em seu horizonte, não são capazes do compartilhamento.

Essa infantilidade de caráter se configura, na vida política do senador mineiro, como um misto de arrogância e ressentimento. Quando vence uma disputa, apenas consagra a distinção que julga merecer de nascença. Quando é derrotado, insiste em questionar o resultado e, na efetivação da perda, recolhe a bola ou tenta virar o tabuleiro e espalhar as peças. Completa o diagnóstico mirim dos “espertos-só-que-não” uma peculiar relação com a lei.

Trata-se de uma convicção que os anistiam da prestação de contas dos delitos que eles fazem questão de denunciar em quem está ao lado. Podem, por exemplo, tratar mal as mulheres e dirigir embriagados. Estão liberados para ter amigos donos de aeronaves que transportam drogas e para perseguir jornalistas que fazem seu trabalho. Na atividade política, são inimputáveis de erros e incompetência, pagam publicidade em emissoras da própria família e empregam parentes enquanto espalham aos quatro ventos a litania da meritocracia.

Um falso esperto é facilmente desbancado por um esperto de verdade. Foi onde Aécio se deu mal ao aproximar seu rancor de derrotado de Eduardo Cunha e Michel Temer. Ao associar sua birrenta e irresponsável estratégia de terceiro turno com os próceres do PMDB, que lhe pareceram no momento o melhor caminho – depois que foi vaiado na rua e deixado de lado por seu partido – o ex-governador de Minas, como péssimo mineiro, entregou a faca e o queijo. Mineiro que entrega o queijo não merece perdão.

De nada, agora, adianta dizer que o apoio a Temer está ligado a projetos e compromissos. Não é assim que o PMDB age. O partido – e o avô de Aécio, este sim esperto de verdade, só entrou em suas hostes para ser eleito indiretamente – não cumpre acordos. Afinal, por que Temer seria leal a Aécio quando se mostrou um traidor de letra de bolero com Dilma? É da natureza do PMDB não dividir bônus, apenas ônus. Ele fia apoios que não cumpre, mas cobra a conta antecipadamente. Desta vez, levou o tucano no bico.

Aécio se desmanchou ao se aproximar do PMDB. Tornou-se fiador do mais condenável político do Brasil, Eduardo Cunha, réu no STF. Nunca mais vai se desgrudar dele. Como uma tatuagem, qualquer tentativa de corrigir o equívoco vai gerar uma imagem cada vez mais feia e distorcida. Em relação a Temer, Neves se tornou um triste carregador de lança na cruzada contra a lei. Sua aliança apenas reforça a busca do objetivo do partido mais fisiológico da história republicana: o domínio de fato e de direito da máquina de governar o país.

Para completar, Aécio implodiu seu partido de origem, perdeu confiança entre os empresários que sustentam o ideário liberal e ficou isolado no salão da política. Afinal, a inteligência econômica nunca foi um atributo do senador, que sempre tinha à mão um ministro-papagaio de plantão para explicar o que ele não entendia. Perdeu, ao fim, até mesmo a simpatia que lhe era creditada pela mídia. Ficou chato e não vende mais jornal.

Depois de tanta histeria e ranger de dentes, Aécio ficou com a broxa na mão. Há uma crença no mundo político de que ser presidente é destino, não merecimento ou vocação. Lula, JK e Vargas nasceram para presidentes. Itamar o foi sem que tivesse os méritos do berço ou mesmo a vaidade do desejo. Assim como Dilma Rousseff. O neto de Tancredo, sem os atributos do valor e sem a ventura do acaso, não vai ser presidente da República. Não tem distinção intelectual, competência gerencial, nem carisma. Escolhe mal suas companhias. Para completar, nem a sorte está ao seu lado. Pelo mal que fez ao país, é um desfecho de carreira merecido.