A cada dia vai ficando mais claro que existe uma guerra de bastidores pelo domínio da Operação Lava Jato e com ele o domínio do poder político de facto nesta quadra autoritária pela qual o Brasil passa. Um dos lados dessa luta é a “Força-Tarefa de Curitiba”. Não confundir com o Ministério Público Federal, há muito mais combatentes. Em toda guerra existem aliados estratégicos e táticos. E os aliados táticos são, por característica, temporários e não raro até antagônicos.
A Força-Tarefa os tem ambos. Aliados de primeira hora e, em grande parte, fonte do poder extralegal demonstrado por ela são a imprensa, a “cooperação internacional” e as forças do antipetismo. Tanto do antipetismo burro quanto do antipetismo “esperto”.
O antipetismo burro é o que veste camisa amarela e sai domingo afora batendo panela. O antipetismo esperto é o que patrocina a domingueira e depois comercializa a bom preço o poder político que o domínio sobre o antipetismo burro representa.
No front oposto ainda há sombras. Mas na parte iluminada está uma parcela do STF. É possível que, percebendo que a Operação Lava Jato tornou-se um poder paralelo e autocrático, tente circunscrevê-la aos limites constitucionais. A refrega mais recente diz respeito aos milionários acordos feitos no âmbito das investigações. Onde há dinheiro, há guerra por ele.
O ministro Gilmar Mendes e o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, estão na condição dos aliados táticos de um e do outro lado. Ora, enfrentam-se um ao outro.
Gilmar foi aliado da Força-Tarefa enquanto ela não mexeu com o seu PSDB. Agora alia-se a senadores investigados pela Operação Lava Jato para fazer passar a jato legislação que sob o pretexto de impedir “abusos de autoridade” na prática limite o poder dessas operações.
Janot jamais teve a intenção de fazer o contraponto necessário à isenção da Lava Jato. Ou seja, fazendo avançar as investigações sobre Aécio Neves ou abrangendo o período FHC. Poderia e deveria ter feito desde o início. Não o fez. Mas, a partir de dado momento, as evidências contra Aécio passaram a falar por si e ele não teve escolha. Encaminhou o pedido de investigação de Aécio e comprou briga com Gilmar Mendes.
E os próprios integrantes da Lava Jato? O trabalho deles tem o inegável mérito de ter trazido à luz aquilo que todos sabíamos em relação ao financiamento da política brasileira e seus interesses. Há de tudo entre eles. Mas não me surpreenderia se ao fim fossem apenas soldados.
Neste 09 de julho de 2016, simbólico, mais uma pequena batalha dessa guerra – o editorial da Folha de São Paulo – ”Censura ao pixuleco”.
A Folha se alista às tropas da Força-Tarefa e bate duro na solicitação feita pelo STF para que se investigue quem patrocinou os bonecos infláveis que em uma “manifestação” foram usados para ridicularizar o presidente do STF e o PGR.
“o próprio STF que tem sua imagem comprometida…; nada arranha mais a credibilidade da corte do que vê-la patrocinando um ato de cabal ignorância jurídica e em claro descompasso com princípios constitucionais. O Supremo fica a dever, portanto, desculpas à sociedade. Um boneco inflável jamais constituirá “ameaça à ordem pública”. Já a liberdade de expressão, por vezes, sofre com a pequena prepotência oficial. Há egos, sem dúvida, inflados demais na instituição”.
Deixemos de lado a pretensão do editorial em dar lições de constitucionalidade ao Supremo e a prepotência de cobrar-lhe um pedido público de desculpas. E o já desgastado recurso à defesa da “liberdade de expressão” fica ridículo na boca de quem move processo contra um blog de humor.
Fiquemos no não considerar o que politicamente significa ridicularizar o presidente da Suprema Corte e o Procurador Geral da República. Fiquemos no comparar isso à mesma crítica feita a políticos e considerá-las análogas.
Santa ingenuidade. Desautorizar decisões judiciais ridicularizando juízes é diferente de “xingar o Lula” pelo simples fato que Lula não profere decisões judiciais. A Folha deveria perceber a diferença. Ainda mais quando o “protesto” é feito por um desconhecido “movimento de internet”.
Quem patrocinou os bonecos? De onde veio o dinheiro necessário, algumas dezenas de milhares de reais, cada um? A líder do movimento pode apresentar a nota fiscal e comprovar a origem dos recursos?
Simples assim. Bastava a Folha ter feito essas perguntas, antes do editorial. Ou talvez no lugar dele.
Saberíamos então de que lado da guerra está alistado o soldado Pixuleco.
PS.: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia continua engajada na luta pelo Estado Democrático de Direito e pelo respeito aos resultados das eleições livres e democráticas de 2014. Luta de bodoque e canivete, mas não abandona as trincheiras.
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