Se alguém tinha dúvidas, ela se dissipou: O “Fora Temer” ganhou as ruas e a conjuntura indica que não será coisa passageira, reação momentânea à deposição final de Dilma Rousseff. Houve protestos em 26 unidades da federação ao longo do dia e Temer ouviu uma vaia monumental na abertura das Paralimpíadas. Mas há outros elementos desestabilizadores no horizonte de seu governo: a Lava Jato foi prorrogada até setembro do ano que vem, os índices de aprovação são baixíssimos e a economia segue afundando, apesar dos votos de confiança do mercado. E mesmo o que foi apontado como grande capital político de Temer, a base parlamentar ampla e coesa, faz água pelas laterais. Vide os constantes arrufos do PSDB ameaçando negar apoio ao governo se ele não fizer isso ou aquilo. No plano internacional, o governo é visto com desconfiança ou desdém, sem falar na crise diplomática com países da América Latina.
Neste cenário, a tendência inexorável do governo é o derretimento político, a não ser que parta para a implantação definitiva de um Estado policial ditatorial. Falta pouco. Depois da repressão truculenta em São Paulo, a polícia voltou a intimidar manifestantes ontem em Brasília e em outros Estados. Tão ostensivo aparato de segurança na capital federal, num 7 de Setembro, não era visto desde o regime militar. À noite, na abertura da Paralimpíada, Temer não foi mostrado no telão mas mesmo assim houve um colossal “Fora Temer”.
A prorrogação da Lava Jato por mais um ano é um péssimo augúrio para o governo fruto do golpe. Como o PT já foi o alvo central da Operação nesta primeira e longa fase, nos próximos doze meses ela caminhará fatalmente para investigações que devem envolver o PMDB. “Ainda temos centenas de fatos e documentos para analisar”, disse o procurador Carlos Fernando. A prorrogação fortalece uma das faces do Estado policial: as práticas arbitrárias que caracterizam a Lava Jato, as prisões preventivas para obter delação e tudo o que já foi visto até aqui. A outra é a da repressão, que também deve se intensificar, na medida em que começarem a avançar, no Congresso, as reformas previdenciária e trabalhista, além da emenda que limita o teto do gasto, medida que comprometerá brutalmente a qualidade e a extensão da oferta de serviços públicos como saúde e educação. As ruas vão continuar cheias e a resposta previsível é o aumento da repressão.
Em setembro do ano passado, quando a popularidade de Dilma caiu a menos de 10%, seu então vice presidente, num dos primeiros ensaios da traição, afirmou: “Hoje, realmente o índice é muito baixo. Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice tão baixo”. Os dele, hoje, são pouco melhores. Desde que se tornou efetivo, saiu apenas uma pesquisa, do IBOPE, tabulada de modo estranho, em que os índices de aprovação foram apresentados por estado, gerando notícias mitigadas sobre a rejeição. “Aprovação ao governo Temer varia de 8% a 19% nas capitais, aponta Ibope”, informou o portal G1, das Organizações Globo. Mas sua média de aprovação, segundo a maioria das pesquisas feitas durante a interinidade, eram de 11%. Logo, o diagnóstico de Temer, feito no ano passado, continua valendo para ele mesmo: “Ninguém vai resistir dois anos e meio com esse índice tão baixo”.
Em resumo: a crise continua, o povo estará na rua e a polícia também. Uma tal situação, no atual estágio da democracia brasileira, bastante superior aos dos anos da ditadura militar, pode durar no curto prazo mas não dois anos e meio. É preciso ser muito otimista, se não autista, para não concluir que o tempo está fechado para o atual governo, Luz no fim do túnel, para o Brasil, só mesmo com a eleição de um governo legítimo, seja qual for sua orientação ideológica.
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