Eichmann foi um produto do seu tempo. Ele agiu dentro de um determinado contexto histórico (o do total colapso da ordem moral na Alemanha dos anos 1930) e cometeu crimes contra humanidade porque foi levado a acreditar na legitimidade das ordens que cumpriu. É fato, a “solução final” não teria sido possível se a imprensa alemã tivesse resistido as primeiras medidas adotadas por Hitler para excluir os judeus da vida política, econômica e social da Alemanha.
“A pólvora e a imprensa estão intimamente relacionadas. Ambas foram inventadas no auge do Gótico. Ambas procedem do pensamento técnico germânico. Ambas são meios supremos da tática faustiana, desejosa de produzir efeitos a grande distância.” (A Decadência do Ocidente, Oswald Spengler, Editora Forense Universitária, Rio de Janeiro, 4a edição, 2014, p. 386)
"Hoje vivemos entregues, sem resistência, à ação dessa artilharia espiritual, de maneira que poucos são os que podem manter distância interior suficiente para perceberem com toda clareza a monstruosidade inerente a esse espetáculo. Três semanas de atividade periodística, e toda gente terá reconhecido a verdade. Seus argumentos serão irrefutáveis, enquanto houver dinheiro necessário para repeti-lo ininterruptamente. Mas ficarão rebatidos, quando uma potência financeira mais forte apoiar os contra-argumentos e os oferecer com maior frequência aos ouvidos e olhos do mundo inteiro. Sem que os leitores se deem conta disso, muda o jornal de proprietário, e dessa forma recebem eles mesmos um novo amo. Também nesse ponto triunfa o dinheiro, pondo a seu serviço os espíritos livres. Não há sátira mais cruel contra a liberdade do pensamento. Outrora não era lícito pensar livremente: agora temos tal direito, porém somos incapazes de exercê-lo. Pensa-se tão somente o que se deve querer, precisamente isso afigura-se nos hoje em dia como nossa liberdade.” (A Decadência do Ocidente, Oswald Spengler, Editora Forense Universitária, Rio de Janeiro, 4a edição, 2014 p. 387)
Uma revista noticiou que o desembargador Gebran Neto (TRF-4) admitiu aos seus amigos que violentou a Lei para manter Lula preso https://jornalggn.com.br/noticia/gebran-diz-que-ignorou-lei-para-manter-lula-preso. Ilegal, a conduta dele deve acarretar consequências. Mas não é sobre essas que pretendo dissertar.
Eichmann renunciou à sua consciência para cometer crimes ao cumprir a Lei. Gebran renunciou à Lei que deveria cumprir para atender sua consciência (ele tinha convicção de que Lula deveria ficar preso). Nos dois casos o papel dos jornalistas foi preponderante. O crime cometido por Gebran Neto foi menos grave que o cometido por Eichmann. Mas o crime cometido pela imprensa brasileira foi muito maior que o cometido pela imprensa do III Reich. Enquanto a imprensa alemã era censurada e obrigada a legitimar um regime racista e assassino, desde 1988 a imprensa brasileira é livre e preferiu deslegitimar um regime constitucional republicano, tolerante e defensor dos direitos humanos.
Gebran recuperou sua consciência. Mas isso não basta. Quem indenizará o mal banal que ele fez a Lula? Quem responsabilizará a imprensa por ter levado um desembargador a descumprir a Lei? Quem restaurará a normalidade democrática num país levado à insanidade por causa do ódio vomitado pela própria revisa que noticiou o crime cometido por Gebran após ter exigido e aplaudido durante décadas a perseguição irracional ao PT e a Lula?
Blog do Fábio de Oliveira Ribeiro
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário