Porque (guardei os fogos) e não comemorei a prisão de Temer

(...) Bater palma (não digo panela, que é franquia dos coxinhas) para a prisão do ex-presidente Michel “Golpista” Temer e para a de Moreira “Gato Angorá” Franco, entre outras peças do esquema que parece ter faturado com as obras de Angra 3, é fácil. Não só fácil, prazeroso. Quem gritou “Fora Temer” desde que o postiço – como diria Fernando Morais – conspirou para derrubar Dilma Rousseff e assumir uma transição catastrófica até a prisão de Lula e a ascensão do governo Bolsonaro, como eu, quer mais é ver Temer em cana. Ele, Moreira, Geddel, Padilha, Jucá, Leonardo Picciani, Henrique Eduardo Alves, a turma toda. Não vou nem falar dos tucanos – o partido impermeável a prisões, exceto de Betos Richas da vida. O caminho fácil é ir na janela e gritar: “Eu avisei”. Mas Temer, que logo estará solto, não deveria estar preso. Nem Moreira. Suas prisões, como foi a de Lula e outros dirigentes petistas, obedeceu à lógica da República da Lava Jato, convertida, no lugar da imprensa, em quarto poder. Provas circunstanciais, delatores encagaçados, ilações irresponsáveis, e a caneta pra assinar as prisões e buscas e apreensões. A Lava Jato, que já foi de Moro e Dellagnol em Curitiba, não renasceu com Bretas, nem hoje, nem nunca. A prisão de Temer e Moreira é o troco da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, que melou a tentativa dos procuradores de garfar R$ 2,5 bilhões da Petrobras para criar o Comitê Sérgio Moro 2022, grana oriunda da estatal a título de penalidades aplicadas pelas autoridades americanas por danos a investidores nos Estados Unidos, e transferiu os crimes de caixa 2 para a Justiça Eleitoral.


Com o Congresso, mais especificamente com a Câmara, presidida por Rodrigo Maia, principal fiador da reforma da Previdência, a guerra é pessoal. E atinge, por tabela, o Executivo – mas o quarto poder não liga para isso. Evitando atear fogo às próprias vestes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, rechaçou a “especulação” de políticos nos bastidores de que a decisão do juiz Marcelo Bretas de determinar as prisões de Temer e Moreira – que é sogro do parlamentar – seria uma espécie de “troco” ao Congresso. O “troco” seria resposta à troca de farpas entre Rodrigo Maia e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, sobre o pacote anticorrupção enviado pelo ministro ao Congresso. Moro queria seu pacote como prioridade, junto com a reforma da Previdência – afinal ele precisa brilhar tanto quanto Paulo Guedes -, mas Maia colocou-a na caixinha de lembretes, o que irritou o ex-juiz ególatra que deseja substituir Bolsonaro em 2022. Quase monopolizadores das atenções e dos holofotes nos últimos cinco anos, os procuradores da República que formam a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba estavam na berlinda, mas a Lava Jato fluminense veio em seu auxílio. Nesse contexto, e só nele, entram as prisões de Temer, Moreira e cia. Foi um gesto político, como política foi a prisão de Lula, a caminho de completar um ano em abril. A diferença é que Temer será solto. Ou alguém duvida? Do fundo do coração, espero que ainda tenham em seu coração o sentimento impuro da vingança. Pela forma constrangedora como foram presos e exibidos aos caçadores de imagens e memes.  Como disse Reinaldo Azevedo, na BandNews, o que a Lava Jato fez foi rosnar, arreganhar os dentes. Mas não tem tanta força mais para morder. A dentadura já não é a dos tempos de outrora – a pré-Moro na Justiça de Bolsonaro.
Bretas, como é o modus operandi da Lava Jato, confunde a pré-condição para prender alguém com a urgência da prisão em um processo ainda em curso. Do jeito que a coisa vai, se a Lava Jato não for contida, prende -se qualquer um. Eu. Você. Apenas porque podemos ser presos. Quem defende uma prisão arbitrária deve saber que está colocando seu pescoço na reta. A mesma arbitrariedade que levou Lula à cadeia para não ser presidente, somada aí uma a raiva fóbica do petismo, levou Temer à cadeia. A sucursal da Lava Jato no Rio, em comunicação com sua sede em Curitiba, quer, assim, encurralar Câmara, Supremo e manter-se como um poder paralelo. Para exibir a musculatura que quer manter, como se não percebesse que já começa a embarangar. Melhor os narcísicos procuradores começarem a se olhar no espelho – de lado. E não adianta encolher a pança.
Publicado em primeira-mão no A Confeitaria política de Gilberto Pão doce, pelo jornalista Ricardo Miranda

Vida que segue
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