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Segunda-feira, a Petrobras troca de comando

pinçado do Tijolaço

[...] com a entrada de Maria das Graças Foster no lugar de José Sérgio Gabrielli na presidência da empresa.
Troca de comando, mas não troca de política. A ordem é acelerar os investimentos da empresa e coube a Gabrielli enfrentar a etapa mais pioneira deste processo.
A conversão de uma enorme empresa, com estrutura, rotina e capacidade para ser uma das grandes petroleiras do mundo numa empresa gigantesca, com a vocação de ser a maior petroleira do mundo.
Porque Gabrielli chegou à Petrobras antes do pré-sal. E o pré-sal, até 2020, significa uma Petrobras com o dobro da produção que, sem ele, se poderia esperar para este mesmo prazo.
Porque o pré-sal ser um achado, uma dádiva providencial ao povo brasileiro não é um fato em si, e pronto. É resultado de um processo de acumulação de conhecimento da empresa – onde brilhou Guilherme Estrella, o lider dos ousados que decidiu ir além do horizonte petrolífero convencional – e tem como consequência uma mudança de qualidade na própria organização da atividade petrolífera no país.
Um número resume magistralmente esta mudança: em 2007, a empresa – já então líder no segmento exploratório de águas ultraprofundas – possuía duas sondas de águas ultraprofundas, com capacidade de perfurar em lâminas d´água acima de 2,5 mil metros de profundidade. Hoje, opera 26 e terá 65 delas em 20o2,  metade delas produzida aqui, como as 26 que se contratou, definitivamente, ontem.
Quando se considera que  cada uma destas sondas custa meio bilhão de dólares, é possivel compreender a complexidade de tamanha decisão empresarial.
Agora, extrapole isso para terminais, gasodutos, navios, barcos de apoio, refinarias, equipamentos, tecnologia, especialistas, logística e tudo o mais e verifique se seria tarefa simples para o melhor administrador da face da terra.
Dizer que Gabrielli era “um político” à frente da empresa é verdade, mas apenas meia-verdade. Não apenas porque é um economista de qualificação extraordinária como porque, também e por isso, compreendeu que a reestruturação necessária para fazer frente ao desafio fazia parte de um embate político de mais de 70 anos no Brasil: termos a capacidade de controlar – e controlar – a grande fonte da riqueza mundial, ao lado do trabalho, que é a energia.
Mas sim, ele foi político e não poderia ser um bom administrador se não o fosse. Porque o desafio da Petrobras é permanentemente político, por fazer parte essencial de um projeto de país que ainda está por se realizar e que, por cinco séculos, esbarra nas forças terríveis que drenaram nossas riquezas e que construíram – aqui e com brasileiros – uma camada de beneficiários deste saque e a ideologia da incapacidade de nos condiserarmos capazes de trabalhar, criar, produzir e progredir por nossas próprias pernas e em favor de nossas próprias vidas.
Gabrielli soube entender que ele não era o “pequeno imperador” de uma grande empresa. Poderia ter sido, facilmente, um Agnelli do petróleo, bajulado pela mídia, correndo para apresentar resultados expressivos na quantidade e vazios no conteúdo, porque obtidos  em detrimento do desenvolvimento da indústria nacional, do emprego dos brasileiros, da criação de conhecimento e tecnologia que, ao contrário dos bolsões de petróleo, são inesgotáveis.
Soube associar, com Lula e Dilma. o futuro da Petrobras ao futuro do Brasil e dos brasileiros. A Petrobras voltou a ser amada, voltou a ser um ícone de nossos sonhos de futuros e, sobretudo, voltou a ser um instrumento de sua construção. Aos idiotas que querem tudo mais rápido, mais barato, mais lucrativo em instantes, a Petrobras respondeu com um sistema de compras consistente, que reativou e multiplicou o parque produtivo nacional, as oportunidades de trabalho, a formação de profissionais e, ainda por cima, nos devolveu, com a capitalização, uma fatia daquilo que Fernando Henrique havia, criminosamente, entregue à Bolsa de Nova York.
No último ano, soube ser paciente e conduzir com prudência o apoio que a empresa – tão apoiada pelo país – precisava devolver ao Brasil, contendo preços para livrar o Brasil do ataque especulativo que pressionava a inflação. Compreendeu que, tanto quanto plantas industriais e equipamentos, o apoio dos brasileiros é um grande capital daquela empresa.
Agora, passa a  Graça Foster o comando da empresa.
Dizer que Graça é uma técnica é, igualmente, uma meia-verdade.
Ela sabe, em sua prória existência pessoal, o que a Petrobras pode fazer pela vida das pessoas e deste país. Sabe que, sem a paixão pelo Brasil a Petrobras não teria nascido e, muito menos, sobrevivido a todo o ódio que lhe votam aqueles que vêem no país apenas uma fonte de enriquecimento pesoal. Sabe que ela é capaz de tirar milhões da pobreza e que, por ser assim, não pode parar, transigir, vacilar e tremer diante dos desafios.
O seu desafio não é, como o de Gabrilli não foi, nada pequeno. Se as plantas da construção estão traçadas e seus alicerces bem fundados, o tamanho e a complexidade das estruturas que saião deles vai exigir, a toda hora, ajustes e correções. A “engenheira-chefe”  desta obra não será nem poderia ser apenas uma planejadora ou gestora. Por mais que haja áreas específicas, entregues a comandos próprios e responsáveis, ela terá de percorrer e olhar por todas elas, todo o tempo.
Animando, desafiando, cobrando, exigindo e, sobretudo, decidindo, por vezes com alguns sacrifícios e prejuízos nada agradáveis dentro de uma corporação.
Uma missão de gerente? De certa forma, sim, como é de se esperar de quem tem essa responsabilidade funcional. Mas, também, uma missão fundamentalmente política, porque se a Petrobras é a edificação concreta do sonho dos brasileiros, este sonho também é matéria prima, tanto quanto o concreto e o ferro, desta construção nacional. E jamais pode se permitir que esta matéria-prima, a compreensão e o amor por esta grande empresa se perca no tecnicismo ou se abale com as campanhas, imensas e incansáveis, que se farão contra ela.
Os tolos, os céticos, os descrentes que se preparem. Os próximos anos vão tornar evidente o tamanho do gigante que está se erguendo e erguendo com ele, para o lugar que merece, o povo brasileiro.

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Mais que um depoimento sobre a presidente da Petrobrás

[...] um depoimento sobre a Petrobrás

por Carlos Souza
Conheci a Graça há uns 20 anos. Eu tinha acabado de voltar do doutorado e ela era chefe de um setor no centro de pesquisas da Petrobras. Eu tinha tido um trabalho técnico aprovado para apresentação em um congresso no exterior. Nessa conferência a Petrobras apresentaria 6 ou 7 trabalhos. Como era comum naquela época, a Petrobras não aprovou a viagem para a conferência de vários dos autores, apenas uma vaga foi aprovada para o Centro de Pesquisas. A Graça foi a escolhida e iria apresentar seu trabalho. Os demais, como era comum acontecer, dariam “no show” no congresso.
Quando soube disso, a Maria da Graça, por conta própria, telefonou para todos os autores e se prontificou a apresentar todos os trabalhos. Com isso, acabei indo ao CENPES, o centro de pesquisas da empresa, para mostrar a ela minha apresentação e explicar um pouco do trabalho, que obviamente passava longe de sua especialidade. Ao encontrá-la, não resisti e fiz a pergunta: porque você, que poderia ir à conferência, apresentar seu artigo, e depois aproveitar o evento para conhecer outros autores e assistir a outras apresentações, está preferindo se expor, e enfrentar essa maratona para apresentar 7 trabalhos, em inglês (que não era seu forte), em áreas técnicas que não são exatamente as suas? E isso tudo por iniciativa própria, sem que ninguém sequer tenha lhe sugerido isso?
p>Sua resposta foi interessante e inusitada. Graça preferia correr os riscos de apresentar um trabalho alheio a ver a Petrobras dar um “no show” em um congresso.
Depois desse primeiro contato, passei os anos seguintes trabalhando muito próximo da Graça. Coordenei um projeto do CENPES em que 8 dos engenheiros de seu setor trabalhavam comigo. Na aprovação desse projeto conheci o hoje famoso mal humor da Graça. Ela, que nunca teve paciência para esperar, queria que o projeto fosse aprovado e tivesse ssuas atividades iniciadas o mais rápido possível. Eu porém, como futuro coordenador e observando vários aspectos técnicos e econômicos, só aceitei iniciar o projeto depois de ter todos os planos de trabalho revisados e atendendo a todos os requisitos de meu departamento. Essa demora deixou a Graça muito irritada, mais ainda ao ver que sua irritação não tinha nenhum efeito na aprovação do projeto. Quando finalmente todos os requisitos foram atendidos e o projeto deslanchou, ela veio a minha sala, na avenida Chile, e pediu desculpas reconhecendo que minha atitude visava buscar o melhor para a empresa. Essa qualidade, de reconhecer seus eventuais erros e pedir desculpas, também é bastante conhecida hoje na empresa. Somente por curiosidade, informo que esse projeto visava capacitar a empresa a perfurar poços horizontais e de longo alcance em águas profundas. Hoje a Petrobras é uma das empresas que dominam essa técnica e esse tipo de poço é o poço básico usado na produção dos grandes campos marítimos da empresa.
Depois disso ficamos amigos, trabalhamos juntos em diversas frentes, ela sempre no CENPES e eu no E&P (Exploração e Produção). Uma das últimas atividades que exercemos juntos foi sair pelo Brasil, palestrando em diversas universidades, buscando parcerias dos pesquisadores brasileiros para solucionar os diversos desafios que a Petrobras enfrentava e viria a enfrentar. A Petrobras tornava-se uma empresa gigante, o CENPES sozinho não daria conta de tudo. Precisávamos de parceiros. Palestramos e buscamos apoio desde o Sul até o Amazonas. Hoje a Petrobras tem projetos de pesquisa, sem exagero, com centenas de universidades e centros de pesquisa no Brasil e no mundo.
Depois disso, passei a ver a Graça cada vez menos. Ela começou, por mérito próprio, a exercer cargos cada vez mais altos na empresa, o que a tornava cada vez mais ocupada. Eu por meu lado, sai da Petrobras e do Brasil para ser professor em uma universidade no exterior. Mais tarde, quando retornei à indústria do petróleo, foi também no exterior,  e desde essa época nunca mais vi a Graça. Já lá se vão mais de 10 anos. Mesmo sem vê-la, e sem nenhum contato, sequer por email, ainda a considero minha grande amiga e estou orgulhoso de sua conquista.
Que momento especial passa a Petrobras. Além de uma mulher como presidente, funcionária de carreira, tem entre seus diretores um engenheiro como o Formigli, também funcionário com carreira de mais de 30 anos na empresa, trabalhador e muito competente. Temos ainda o Duque e o Zelada, ambos diretores, ambos funcionários de carreira, ambos com mais de 30 anos de trabalho na Petrobras. A eles veio agora se juntar na diretoria o José Alcides, também trabalhando na empresa há mais de 30 anos. E na Petrobras Distribuidora, temos como presidente o José Lima, meu grande amigo desde os tempos em que éramos estagiários e mais tarde jóvens engenheiros em Sergipe e posteriormente na Bahia.
Tive o prazer de conhecer todos esses engenheiros, hoje ocupantes dos mais altos cargos da empresa. Conheci-os ainda jóvens, ralando, trabalhando duro e contribuindo para formar essa Petrobras que hoje conhecemos. A Graça e o José Lima também ralaram por anos a fio antes de sequer ocupar suas primeiras, e humildes, posições de chefia. A todos conheci em algum momento de minha carreira, jogamos bola, tomamos chopp, rimos e trabalhamos juntos.
Sai do Brasil antes do primeiro governo Lula, não trabalho na Petrobras e não sei muito sobre a política brasileira. Ouço sempre falar que fulano é indicação do PMDB, que o sicrano é da quota do PT, e etc. Porém, o fato é que esses engenheiros, assim como eu, ingressaram na Petrobras ainda jovenzinhos. Passaram, como eu, num concurso nacional e aberto a todos os brasileiros. Foram bons empregados, deram sua contribuição e hoje estão na diretoria da empresa. Não os vejo nem tenho com eles tenho nenhum contato há mais de uma década, mas isso não me impede de me sentir feliz por essas conquistas. Na história da empresa não me lembro de ter visto tantos empregados de carreira, competentes e merecedores, ocupando tantos cargos na direção. Para mim é motivo de orgulho. Creio que para todos os brasileiros.

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De catadora de lixo a presidente da Petrobrás

Graça Foster, a nova presidente da maior empresa do Brasil

Da Carta Maior
A nova presidenta da Petrobrás, Graça Foster, cresceu num favela. Sua infância foi vivida no Morro do Adeus, no Rio de Janeiro, que hoje integra o Complexo do Alemão. Até os 12 anos, ela catou papel e lata na rua para custear os estudos, como narrou recentemente em entrevista ao jornal Valor. Há mais de três década na Petrobrás, Graça sucederá a José Sérgio Gabrielli, que dirigiu a estatal no ciclo mais importante desde sua criação, nos anos 50. O saldo mais reluzente desse período foi a descoberta  das reservas pré-sal, mas, sobretudo,  a regulação soberana dessa riqueza pelo Presidente Lula.
Em 2009, a contrapelo da coalizão demotucana e do candidato da derrota conservadora, José Serra, o governo brasileiro  transformou a principal descoberta mundial de petróleo dos últimos 30 anos numa poupança do povo brasileiro. Recusou-se a reduzí-la a uma commodity para o repasto dos mercados. Serra, na campanha de 2010, prometeu: vitorioso, decretaria a 'reintegração de posse do pré-sal' às petroleiras internacionais. A mulher que assume esse patrimônio histórico sabe onde o Brasil grita e precisa ser ouvido.
O Brasil pobre hoje grita em 'Pinheirinho', por exemplo, a ocupação de 1660 famílias, violentamente despejadas neste domingo em São José dos Campos (SP). No momento em que a truculência do dinheiro grosso e o menosprezo conservador pelos excluídos produz uma tríplice aliança entre o poder judicial paulista, o governo do Estado e a administração tucana de São José dos Campos, é valioso saber que na esfera federal existem olhos e ouvidos que sabem onde o Brasil grita. Reverter o arrasa-terra em 'Pinheirinho' seria a melhor  forma de o governo Dilma transformar a nomeação de Graça Foster mais do que numa boa notícia: um símbolo de seu mandato, em defesa das meninas pobres que ainda catam papel e lata nas ruas do país.
    
(Carta Maior; 3ª feira; 24/01/ 2012)