Poesia da noite

 Durante uma tempestade um raio atingiu-me, não sei onde, 
também não sei como, tamanha foi a sua força dentro de mim. 
Não tenho para onde escapar 
nesse incêndio no meu peito. 
Não sei se quero fugir 
É bom o que sinto 
É bom como me sinto 
Melhor ainda é estar ao seu lado 
Bem melhor é te tocar. 
Gostaria que, o tempo que estamos lado a lado, não terminasse nunca 
e fosse a única coisa existente para nós 
E o mundo 
O mundo não basta; 
o que sentimos vai além das estrelas, 
além do infinito. 
É maravilhoso o que se passa na profundeza do meu coração. 
Divino o que sinto quando simplesmente penso em voce. 
Como penso em você a todo instante: a qualquer momento, 
essa sensação é perene. 
Não existem palavras, pois, as palavras se perdem no ar 
ou num pedaço, como este, de papel. 
Apesar disso, neste momento faço uso de palavras 
para tentar explicar: 
Que Eu te Amo. 


Sapiência caipira


É impressionante a dificuldade que alguns - incluindo a maioria dos analistas e comentaristas - têm de entender como pensa o eleitor comum na hora de decidir seu voto nas eleições municipais.
E olha que o mestre Ziraldo já havia fornecido a pista há muitos anos.
Em um cartum antigo, ele mostrava dois caipiras de cócoras, conversando à beira de um caminho. Um dizia para o outro: “É muito simples, compadre: federá, nóis vota contra; municipá, nóis vota a favor!”
O texto aludia a um comportamento eleitoral típico daqueles tempos, quando tínhamos o bipartidarismo e a escolha dos prefeitos era pautada pelo medo dos prejuízos que a cidade sofreria se votasse em um candidato da oposição.
Os eleitores pareciam se contradizer: para prefeito, votavam na Arena, isto é, no partido governista criado pelos militares; para senador - a única eleição majoritária permitida -, no MDB, o partido oposicionista. Ou seja: um ano, votavam governo; no outro, oposição.
Mas não por confusão e sim por esperteza.
Sem que o fenômeno tenha deixado de existir - como se percebe ao comparar os resultados de eleições estaduais e presidenciais com as municipais em diversas partes do país - as coisas mudaram.
A tese de Ziraldo continua, porém, a valer. Os eleitores pensam diferente quando decidem coisas diferentes.
E as milhares de escolhas que vão fazer este ano, ao votar para prefeito nos 5564 municípios brasileiros, pouco têm a ver com as que fizeram em 2010 e as que farão em 2014.
A ânsia de encontrar “significados gerais” nas eleições municipais é infrutífera. Elas, simplesmente, não os possuem. Porque para seus atores centrais, os eleitores, são estritamente locais. Para eles, cada caso é um caso.
Assim como do ponto de vista dos políticos diretamente envolvidos. Também para eles, o que acontece aqui tem pouco efeito no que ocorre ali.
Exemplo eloquente dessa inútil mania de buscar “sentidos gerais” é a recente discussão sobre “o conflito entre PT e PSB”, que ocupou largo espaço nos debates políticos durante a semana que passou.
Por fatores unicamente locais, os dois partidos resolveram marchar com candidaturas distintas - nestas eleições - em três capitais onde estavam juntos. Isso aconteceu em Fortaleza, Recife e Belo Horizonte.
Na primeira, a separação se deu em função da decisão do diretório municipal petista. O governador Cid Gomes, principal liderança do PSB no Ceará, não concordou com o nome escolhido e decidiu lançar outro de seu partido, entendendo que o candidato indicado pelo PT tinha pequena viabilidade eleitoral.
No Recife, as dissensões dentro do PT foram consideradas tão graves que o governador Eduardo Campos (PSB) preferiu evitá-las e optou pela candidatura de um secretário de seu governo. O candidato do PT lidera - com folga - as pesquisas.
Em Belo Horizonte, os dois partidos desfizeram uma longa aliança e o PT terminou lançando candidatura própria - o contrário do que buscavam suas lideranças estaduais.
Só com muita imaginação - e pouca informação - os três episódios podem ser interpretados como se indicassem alguma coisa a respeito das relações mais gerais que PSB e PT mantêm. Como se sugerissem que estão em rota de colisão.
Apenas para lembrar: separados em Fortaleza, Recife e Belo Horizonte, mas juntos em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
Quem se apressa querendo se aproveitar do “conflito” pode se decepcionar. E fazer triste papel.
Como esse que os “serristas” ensaiam, acenando com seu “apoio” à hipotética candidatura de Eduardo Campos contra Dilma em 2014.
Primeiro, só em suas cabeças Campos é candidato (nas pesquisas, ele tem cerca de 2% e Dilma 60%). Segundo, quem falou que o “serrismo” tem esse cacife?
 Marcos Coimbra 

Os mensalões, um comparativo


Por Marcos Coimbra, na Carta Capital
Por coincidência, justamente quando o julgamento do mais famoso “mensalão”, que alguns chamam “do PT”, foi marcado, a Procuradoria-Geral da República encaminhou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) sua denúncia contra os acusados de outro, o “mensalão do DEM” do Distrito Federal.
Trata-se mesmo de um acaso, pois a única coisa que os dois compartilham é o nome. Equivocado por completo para caracterizar o primeiro e inadequado para o segundo.
Naquele “do PT”, nada foi provado que sugerisse haver “mensalão”, na acepção que a palavra adquiriu em nosso vocabulário político: o pagamento de (gordas, como indica o aumentativo) propinas mensais regulares a parlamentares para votar com o governo. No outro, essa é uma das partes menos importante da história.
Alguns acham legítimo – e até bonito – empregar a expressão como sinônimo genérico de “escândalo” ou “corrupção”, mas isso só distorce o entendimento. O que se ganha ao usar mal o português? No máximo, contundência na guerra ideológica. Chamar alguma coisa de “mensalão” (ou adotar neologismos como “mensaleiro”) tornou-se uma forma de ofender.
Fora o nome errado igual, os dois são diferentes.
Ninguém olha o “mensalão” de Brasília como se tivesse significado especial. É somente, o que não quer dizer que seja pouco, um caso de agentes políticos e funcionários públicos, associados a representantes de empresas privadas, suspeitos de irregularidades.
Por isso, se o STJ acolher a denúncia, o processo terá tramitação normal. Sem cobranças para que ande celeremente. Sem que seja pintado com cores mais fortes que aquelas que já possui. Sem que se crie em seu torno um clima de “julgamento do século” ou sequer do ano.
É provável que aconteça com ele o mesmo que com outro mais antigo, o “mensalão do PSDB”. Esse, que alguns dizem ser o “pai de todos”, veio a público no mesmo período daquele “do PT”, mas avança em câmera lenta. Está ainda na fase de instrução, sem qualquer perspectiva de julgamento.
Por que o que afeta o PT é mais importante?
A resposta é óbvia: porque atinge o PT. Se os “mensalões” da oposição são tratados como secundários e se outros são irrelevantes (como os que a toda hora são noticiados em estados e municípios), deveria existir no do PT algo que justifique tratamento diferente.
Há quem responda com uma frase feita, tão difundida, quanto vaga: seria o “maior escândalo da história política brasileira”. Repetida como um mantra pelos adversários do PT, não é substanciada por nenhuma evidência, mas circula como se fosse verdade comprovada.
“Maior” em que sentido? Os recursos públicos movimentados seriam maiores? Mais gente estaria envolvida?
É difícil para quem lê as alegações finais do Ministério Público Federal (MPF) compreender o montante que em sua opinião teria sido desviado e como. O documento é vago e impreciso em algo tão fundamental.
Essa indefinição pode ser, no entanto, positiva: deixa a imaginação livre. Qualquer um pode inventar o valor que quiser.
O “mensalão do DEM”, ao contrário, tem tamanho especificado: 110 milhões de reais. Nele, o MPF não se confundiu com as contas.
Se o critério para considerar maior o petista for a quantidade de envolvidos, temos um curioso empate: dos 40 acusados originais, número buscado pelo MPF apenas por seu simbolismo, restam 37, tantos quanto os denunciados no escândalo de Brasília.
E há diferenças notáveis. No “mensalão do DEM”, os agentes públicos foram citados por desviar dinheiro para enriquecimento pessoal, o que, em linguagem popular, significa roubar. No “do PT”, nenhum.
De um lado, valores certos, acusados em número real, motivações inaceitáveis. Do outro, o oposto.
Quando o procurador-geral declarou que “a instrução comprovou que foi engendrado um plano criminoso para a compra de votos dentro do Congresso Nacional”, esqueceu que nem sequer uma linha de suas alegações o demonstrou. Arrolou 12 deputados (quatro do PT), que equivalem a 2% da Câmara, número insuficiente para sequer presumir que houvesse “um esquema de cooptação de apoio político”, a menos que inteiramente inepto.
No caso de Brasília, nada está fantasiado, é tudo visível, o que não significa que tenha sido provado de forma juridicamente correta.
No fundo, essa é a questão e a grande diferença entre os dois. Quando a hora chegar, o “mensalão do DEM” deverá, ao que tudo indica, ser analisado de maneira técnica. Se o “do PT” o fosse, pouco da acusação se sustentaria.
Tomara que os ministros do STF consigam independência para julgá-lo de maneira isenta, livres das pressões dos que exigem veredictos condenatórios.

Se Eu For Embora é Para o Nosso Bem

Viva

Aprenda a confiar. Cultive rosas, e lembre que elas tem espinhos

Candidato a prefeito ou a presidente?

[...] José Serra iniciou sua campanha pública com discurso velho. Disse que a eleição em São Paulo será determinante para o "futuro do Brasil" e da "luta democrática". Já havia dito isto antes, várias vezes, inclusive quando se lançou candidato depois de vacilar meses. Foi até mais forte naquela ocasião. Justificou que saia candidato porque se o PT ganhar a democracia está ameaçada.

E sobre a cidade de São Paulo, nenhuma frase? É candidato a prefeito da capital, ou a presidente da República, de novo, em 2014? Quem está nacionalizando a campanha, trazendo a eleição de 2014 para esta de 2012? Como vocês constatam, o discurso do José continua o mesmo. Continua>>>

O livro dos insultos de H.L. MENCKEN

Pintura
Para mim, a pintura parece uma forasteira no mundo das artes. Seu problema é o de que lhe falta movimento, ou seja, a principal função da vida. O melhor a que um pintor pode aspirar é registrar a sensação de um instante, o aspecto momentâneo de alguma coisa. Se quiser sugerir movimento real, terá de fazê-lo por truques palpáveis, os quais pertencem mais ao domínio da carpintaria do que ao da arte. O que um pintor produz pode ser comparado a um simples acorde em música, sem preparação ou resolução. Pode ser bonito, mas sua beleza não se enquadra nitidamente num escalão superior, e a mente logo se cansa dela. Se um homem se posta diante de um quadro por mais de cinco ou dez minutos, é geralmente um sinal de afetação; está tentando se convencer de que tem percepções mais delicadas do que os mortais. Ou talvez seja ele próprio um pintor, interessado pelos aspectos técnicos do quadro, assim como um encanador contempla embevecido uma torneira instalada por um concorrente. Pode ser também que esteja encantado pela história contada pelo quadro – ou seja, pela literatura que o quadro ilustra.
A escultura é um pouco melhor. O espectador, diante de uma estátua, não está vendo algo morto, embalsamado e fixo numa moldura; vê algo que se move quando ele se move. Uma bela escultura, em outras palavras, não é uma escultura, mas centenas delas, talvez até milhares. A transformação de uma em outra é infinitamente agradável; sai-se dela com um estímulo tão satisfatório quanto o provocado por um quarteto de cordas. O mesmo se dá com a arquitetura: esta não apenas rodopia, mas move-se verticalmente à medida que o espectador se aproxima. Quando se passa por um belo edifício, tem-se uma sensação que ultrapassa a de um mero acorde; lembra mais o efeito de todo um cortejo de acordes, como no começo do andamento lento da sinfonia Novo Mundo ou o do conhecido e sovado prelúdio de Chopin. Se fosse um quadro, não demoraria a arrancar bocejos. Ninguém, depois de alguns dias, lhe botaria de novo os olhos.
Este vazio intrínseco da pintura tem os seus efeitos até sobre aqueles que mais vigorosamente a defendem como a rainha de todas as artes. Ouve-se falar de pessoas “superlotando as galerias”, mas sempre se descobre – basta perguntar – que o que elas realmente superlotam são as salas de mostruário. Em outras palavras, extraem seu maior prazer contemplando uma interminável sucessão de quadros novos, e a profusão de acordes acaba produzindo, no final, uma espécie de satisfação confusa. As outras artes produzem um apelo muito mais poderoso e permanente. Já ouvi cada uma das oito primeiras sinfonias de Beethoven mais de cinqüenta vezes, e a maior parte das de Mozart, Haydn, Schubert e Schumann quase tanto. No entanto, se a Dó Menor de Beethoven fosse apresentada esta noite, iria ouvi-la de novo. E não perderia um segundo dela. Até música de categoria inferior pode conquistar esta qualidade duradoura. Outro dia fui ouvir a valsa de Strauss,Geschichten aus dem Wiener Wald (Contos dos Bosques de Viena), pela primeira vez, em muitos anos. Eu a conhecia bem em meus tempos de lubricidade e, anos depois, cada nota continuava familiar. Mesmo assim, deu-me imenso prazer. Imagine alguém extraindo este mesmo prazer de um quadro de calibre correspondente – um quadro tão familiar que este alguém possa reproduzi-lo de memória.
Os pintores, como os barbeiros e ferreiros, são capazes de falar enquanto trabalham, o que lhes permite gabar-se mais de sua arte do que os outros artistas; o mundo, em conseqüência, passa a acreditar que ela é muito complexa e cheia de sutilezas. Isto não é verdade. A maior parte de suas supostas sutilezas são gabolices de pintores que não sabem pintar. Os verdadeiros pintores de categoria tinham pouco a dizer sobre a técnica de sua arte e pareciam não se dar conta de sua dificuldade. Observe os estudos e sketches de Leonardo: você descobrirá que ele era muito mais interessado em anatomia do que em pintura. Na realidade, pintar era para ele uma espécie de segunda natureza; era, em primeiro lugar, um engenheiro, e a engenharia que mais o fascinava era o corpo humano. Vejamos, então, Cézanne. Ele pintava da maneira que lhe parecia a mais natural e ficou surpreendidíssimo quando um grupo de maus pintores, tentando imitá-lo, passou a creditá-lo no Boul’ Mich’ (Boulevard St. Michel) com uma longa série de teorias mais ou menos místicas, a partir do verbete sobre ótica na Encyclopaedia Britannica.
Os homens mais remotos do Paleolítico já eram pintores consumados. Estavam ainda tão perto dos macacos que nem sequer tinham inventado o arco e flecha, a usura, a forca ou o batismo por imersão total – e, no entanto, já eram ótimos desenhistas. Alguns de seus desenhos nas paredes das cavernas continuam mais competentes que a maioria das ilustrações das revistas de hoje. Também esculpiam em pedra e modelavam em gesso, e eram poetas tão competentes como alguns de nosso tempo. Mais importante, eles se mudaram das cavernas para casas artificiais, e os princípios dodesign de arquitetura que criaram, na verdadeira aurora da história, continuam imutados até hoje, sendo papagueados até pelos arranha-céus que apontam suas torres contra os querubins. Ê verdade que aqueles homens primitivos não sabiam desenhar tão bem quanto uma câmara fotográfica! mas não ficavam nada a dever a, digamos, Matisse ou Gauguin. Todo o progresso feito pela pintura nos últimos cinqüenta ou sessenta anos tem sido baseado.em sorrateiros furtos contra a máquina fotográfica ou o espectroscópio. Quando um pintor professa o seu desprezo por esses avanços científicos, estamos diante de um pintor incapaz, na realidade, de pintar ou desenhar, e que tenta esconder sua incompetência através de uma prestidigitação verbal. Esta é a origem da arte moderna e de toda esta conversa fiada sobre cubismo, vorticismo, futurismo e outras tolices.
Considero qualquer ser humano que, com instruções apropriadas, não consiga aprender a desenhar relativamente bem, como um débil mental. Estará num estágio culturalanterior até àquele dos Cro-Magnons. Já o ser humano incapaz de escrever um verso passável, este simplesmente não existe. Costuma ser feito, como todos sabem, até por crianças – e às vezes tão bem que seus poemas saem em livros e merecem solenes estudos. Mas a grande música nunca é escrita por crianças – e não estou me esquecendo de Mozart, Schubert ou Mendelssohn. A música pertence ao último estágio da cultura; compô-la em grande estilo requer extremo aprendizado e a mais alta habilidade natural. Ê complexa, delicada, difícil. Um jovem prodígio pode mostrar algum talento, mas nunca chegará a nada que possa ser classificado de maestria antes da maturidade – antes de ele se dobrar à experiência. O mesmo acontece com a prosa. A prosa não tem biombos onde se esconder, como tem a poesia. Não pode usar máscaras ou perucas. Não é espontânea, mas deve ser fabricada pelo pensamento e pelo esmero. Dá trabalho. Depois da música, é a mais importante entre todas as artes e é, de longe, a mais importante das artes que lidam com a palavra.