Gostando dele ou não, Eduardo Cunha é o mais competente político, hoje, em atividade no Brasil. Mais do que Kassab, Lula, Renan, Eduardo Paes, Alckmin.
Essa não é uma análise sobre a moralidade de seus atos. Ou a falta dela. Mas a respeito de suas virtudes no campo político.
Vamos aos fatos: governo e oposição comem em suas mãos. Ele sabe jogar com a opinião pública, quando a opinião pública favorece seus pontos de vista, mas também com parte da imprensa que não quer se indispor com ele ou evita bater em quem bate no governo. Sempre entrega o que promete: teve apoio das bancadas da bala, ruralista e dos fundamentalistas à sua eleição e, agora, devolve a eles, colocando projetos em votação. Não acha que fazer algo que pareça imoral é vergonhoso, pois vergonhoso, em sua opinião, é perder.
Surfa na terra arrasada deixada pelo governo federal, que conseguiu o feito de aumentar a ojeriza às narrativas defendidas pela esquerda – mesmo que o próprio governo não seja de esquerda, pois se afirma como tal, mas não age como tal. Terra arrasada na qual "direitos humanos'' é relacionado assustadoramente com "comunismo'', apesar de direitos humanos serem o fruto liberal do debate sobre o patamar mínimo de civilidade no capitalismo.
Pode ser que não seja eleito no voto popular para presidente da República, dada a quantidade de esqueletos e denúncias de corrupção e achaques que tem no armário. Mas certamente seria primeiro-ministro, caso a ideia ainda muito distante de parlamentarismo que ele mesmo defende vingue por aqui. Com mandato talvez tão longo quanto o de Margaret Thatcher.
Exagero? Talvez. Futurologia é uma droga alucinógena muito barata, ainda mais quando se trata de alguém que é causa e, ao mesmo tempo, consequência de seu tempo. E que está longe de ser unanimidade mesmo dentro de seu partido. Mas vejamos:
Eduardo Cunha tenta aprovar o financiamento privado de campanha nas eleições.
Sociedade civil se mobiliza. Parlamentares contrários à medida se mobilizam.
Eduardo Cunha perde. Mas não chora.
Parte da sociedade civil comemora loucamente nas redes sociais, dança em torno de fogueiras, entoa cânticos, sacrifica carneiros, bebe até cair de alegria.
Eduardo Cunha, incansável, passa a madrugada articulando e mandando recados.
No dia seguinte, manobra o regimento e coloca uma proposta semelhante em votação.
Sociedade civil desmobilizada. Parlamentares contrários à medida desmobilizados.
A palavra "governabilidade'' ecoa no plenário da Câmara por parte de membros da base governista.
Eduardo Cunha consegue a aprovação do financiamento privado de campanha nas eleições.
Supremo Tribunal Federal se omite?
Eduardo Cunha sorri.
***
Eduardo Cunha tenta aprovar a redução da maioridade penal para 16 anos.
Sociedade civil se mobiliza.
Parlamentares contrários à medida se mobilizam.
Eduardo Cunha perde. Mas não chora.
Parte da sociedade civil comemora loucamente nas redes sociais, dança em torno de fogueiras, entoa cânticos, sacrifica carneiros, bebe até cair de alegria.
Eduardo Cunha, incansável, passa a madrugada articulando e mandando recados.
No dia seguinte, manobra o regimento e coloca uma proposta semelhante em votação.
Sociedade civil desmobilizada.
Parlamentares contrários à medida desmobilizados.
A palavra "governabilidade'' ecoa no plenário da Câmara por parte de membros da base governista.
Eduardo Cunha consegue a aprovação da redução da maioridade penal para 16 anos.
Supremo Tribunal Federal se omite?
Eduardo Cunha sorri.
E sorri.