Mauro Santayana - o Brasil e a República de Salem
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Jean Wyllys - Cunha, o impeachment e a hipocrisia de Aécio Neves
Em uma tentativa de justificar a negativa do PSDB a acompanhar o pedido de investigação contra Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, o presidente da sigla e candidato presidencial derrotado nas últimas eleições, Aécio Neves, deu mais uma prova de sua hipocrisia, comparando a atitude dos tucanos com relação a Cunha com a negativa do PSOL a apoiar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Como se fosse a mesma coisa, ele disse que, assim como o PSDB não assinou a representação do PSOL contra Cunha, o PSOL não assinou os pedidos de impedimento da presidenta.
O que os tucanos querem é, apenas, derrubar a Dilma para aplicarem eles mesmos essa política que o PSOL critica. Mas uma oposição republicana e democrática não tenta derrubar um governo sem motivos constitucionais, só para ocupar seu lugar. E muito menos faz isso aliado a um deputado acusado de corrupção e lavagem de dinheiro e com contas milionárias secretas na Suíça. Essa é a diferença entre o tipo de oposição que faz o PSDB e o tipo de oposição que faz o PSOL.
Paulo Nogueira - Eduardo Cunha virou o símbolo da corrupção
Tanta campanha da mídia para ardilosamente associar o PT à corrupção, e eis que irrompe espetacularmente Cunha no cenário e estraga tudo.

Para a plutocracia, é uma má notícia. O ideal era deixar Cunha com as mãos livres para favorecê-la.
No Congresso, ele liderou, a seu estilo, ações em prol dos plutocratas. Comandou ataques a direitos trabalhistas, cerceou o debate em torno da regulação da mídia e fez o diabo para a manutenção do financiamento privado das campanhas.
É nisso, neste financiamento, que ele e os donos do dinheiro se conectam. Ele recebe dinheiro para servi-los, e é recompensado com uma espécie de licença para roubar.
O azar, para ambas as partes, é que a polícia da Suíça entrou em cena.
E então, depois de quase uma década de tentativas da plutocracia de carimbar no PT a pecha de grande fator de corrupção no país, repetindo uma estratégia feita antes contra GV e Jango, explode o caso Eduardo Cunha.
E toda a armação desmorona.
A corrupção tem um ícone: Eduardo Cunha.
Se ele não for exemplarmente punido em praça pública, o país levará uma bofetada moral de proporções épicas.
E essa punição tem que vir rápido.
Me pergunto o que Janot está esperando para enquadrar devidamente Eduardo Cunha: que a polícia e a Justiça suíça façam mais este serviço?
Ah, Eduardo Cunha tem foro privilegiado, aliás um absurdo que apenas reforça o caráter antiigualitário do Brasil.
Diante desse obstáculo, evoco Guy Fawkes, o célebre rebelde britânico que tentou derrubar o Rei Jaime no começo do século 17 com bombas destinadas a explodir o Parlamento.
Descoberta a trama, o rei interrogou Fawkes. E lhe perguntou o motivo de tanta agressividade.
"Situações extraordinárias requerem medidas extraordinárias", respondeu o rebelde, logo executado depois de torturas excruciantes durante as quais famosamente não falou nada que comprometesse seus companheiros de trama.
Com Eduardo Cunha, estamos diante de uma situação extraordinária.
Ele não pode ficar desembaraçado para fazer o que bem entende porque ele, já sabemos todos, representa o mal, a corrupção, a trapaça.
Todo um país à mercê de alguém como ele?
De novo: situações extraordinárias demandam ações extraordinárias.
Prender Eduardo Cunha vai ser o mais duro golpe na corrupção jamais dado no país.
E que fique claro.
Enquanto não for tão simples prender figuras como Cunha como foi simples prender Dirceu e Genoíno, não haverá razões para respeitar a Justiça brasileira.