Gilmar Mendes errou


Há uma questão de princípio e uma questão legal no caso Gilmar Mendes.

A questão de princípio é sobre o abuso ou não das operações policiais e da ação do Ministério Público.

Os críticos apontam para a espetacularização, o uso das algemas, o abuso nas escutas.

Os defensores sustentam ser a única maneira de prestar contas à opinião pública e legitimar as operações.

Acompanhando os bastidores da Operação Satiagraha, principalmente através dos relatos de Bob Fernandes, do Terra Magazine, fica claro que, se não tivesse havido a “espetacularização” e ganhado a opinião pública, teria fracassado.

A soma de interesses que Daniel Dantas conseguiu articular é de tal forma variada e influente, que os agentes da operação seriam massacrados em pouco tempo.

É por isso que o mundo jurídico se dividiu, ontem, entre advogados criminalistas de um lado e procuradores e juízes do outro.

Gilmar Mendes tem tradição de Ministro liberal, que se posiciona historicamente contra o que considera esses abusos. Mas, no episódio, a questão essencial é outra. Até que ponto, para combater o que ele considera abusos, Gilmaer não cometeu abuso maior ainda, indo contra o que determina a lei e a constituição?

É esse o ponto em que Gilmar naufraga.

A ciência jurídica não é exata, está sujeita a interpretações. Ontem li e ouvi detidamente os argumentos de Dalmo Dallari – que considera que Mendes avançou o sinal e criou uma balbúrdia jurídica. Depois, procurei ouvir a opinião de outro Ministro do STF, liberal.

Sua opinião é a de que Gilmar Mendes estava correto ao conceder o primeiro habeas corpus, mas errou pesado ao conceder o segundo.

As razões que consubstanciavam o segundo eram diferentes das do primeiro.

O juiz De Sanctis estava com a razão e com a lei. Mais não avançou.

Mas ficam claros alguns pontos:

1. No intuito de combater abusos, Gilmar cometeu um abuso maior. Transformou a questão em algo pessoal, atropelou as evidências ao conceder o segundo habeas corpus mostrou que estava motivado pelo sentimento de desforra, ao denunciar o juiz De Sanctis ao Conselho Nacional de Justiça.

2. Ao proceder dessa maneira, deixou que o ego atropelasse seu compromisso mais sagrado: a ordem constitucional e a imagem do STF, o tribunal máximo do país.

3. Mais: criou uma crise institucional sem precedentes ao avançar contra uma das prerrogativas do ordenamento jurídico do país: a autonomia dos juízes de primeira instância para julgar de acordo com sua própria avaliação e as prerrogativas das instâncias interemediárias.

4. Como fica agora? A rebelião de juízes e procuradores tornou-se legítima, porque o presidente do Supremo atropelou o ordenamento jurídico. Ou seja, juízes e procuradores têm, ao seu lado, a Constituição. Estão agindo em defesa do ordenamento jurídico.

5. Com sua atitude impensada, Gilmar Mendes permitiu que as suspeitas de politização do STF tornassem-se realidade, comprometendo profundamente a imagem da instituição. Não se trata meramente do clamor das turbas. Contra este, a resistência é nobre. Trata-se de um ato impensado que provocou uma balbúrdia no ordenamento jurídico do país.

6. Resta saber qual será o comportamento dos demais Ministros do Supremo: a solidariedade para com o colega ou para com o Supremo.

Luis Nassif

Os ‘3G’ na ante-sala do poder

Greenhalgh, Guiga e Guga usariam influência no governo para facilitar negócios de Dantas

De Soraya Aggege:

O ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, dirigente do PT, é suspeito de integrar um triunvirato que alcança desde a ante-sala do Gabinete da Presidência da República, passando por Congresso Nacional e partidos políticos, até contatos amistosos na cúpula do Judiciário federal, em especial, Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, para ajudar nos supostos negócios ilícitos do banqueiro Daniel Dantas. Segundo relatório da Polícia Federal, Greenhalgh — codinome Gomes — formaria a "equipe de apoio" a Dantas, ao lado de Guilherme Henrique Sodre Martins, o Guiga, e Humberto José Rocha Braz, o Guga, apontado como sócio do banqueiro. Greenhalgh teria recebido pelo menos R$ 650 mil do banqueiro, afirma a PF.

A vasta rede de contatos do grupo atuaria em prol dos interesses de Dantas, os novos investimentos em mineração, a obtenção de informações sigilosas etc. Os nomes citados pelo trio nas gravações interceptadas pela PF são poderosos: a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff — identificada como "Margaret"—, o ministro da Integração Regional, Gedel Vieira Lima, o secretário pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho, o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil).

Em um diálogo monitorado pela PF, dia 13 de março, Greenhalgh diz a Braz (preso no domingo pela PF, acusado de suborno) que recebeu um recado de Dilma, com referência à venda da Br Telecom: "Diga ao Greenhalgh que eu não quero falar sobre o assunto, que o governo já se meteu demais sobre esse assunto". Em todos os encontros que o grupo diz ter tido com a ministra, Dilma estaria livre nos momentos citados, segundo a PF, que checou sua agenda.

O grupo também afirma que foi informado pelo senador Heráclito Fortes (DEM) de que ele foi a plenário defender a ministra dos ataques por causa do chamado dossiê FHC, alvo de ataques contra Dilma. O senador teria defendido a ministra a pedido do grupo de Dantas.

No Senado e na Câmara, também haveria "colaboradores": Fortes, a senadora Ideli Salvatti (PT), o ex-deputado federal Sigmarina Seixas (PT) são os mais citados. Em uma das gravações, Fortes recebe agradecimentos pelo apoio. Ideli seria um alvo do grupo, que tentaria agradá-la. Seixas também teria sido acionado para ajudar o grupo e recebido Dantas em uma conversa.

Com tanta gente do PT evolvida neste caso para ajudar Dantas, não sei como os lulopetistas ainda querem dizer que este é um problema só do PSDB.

Dantas pagou advogados ligados ao PT sem contrato

De Rubens Valente e Leonardo Souza:

Documentos inéditos da auditoria interna da Brasil Telecom de 2005 sobre a passagem do banqueiro Daniel Dantas no controle da companhia telefônica revelam pagamentos de R$ 1,2 milhão para o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de pelo menos R$ 3 milhões para o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, amigo do ex-ministro José Dirceu (PT), sem que os auditores tivessem encontrado os contratos para a prestação de serviços de advocacia.

Kakay recebeu ao todo R$ 8,3 milhões. A auditoria encontrou apenas um contrato de R$ 5,3 milhões -sobre o qual afirmou não ter localizado nenhuma comprovação de efetiva prestação de serviços advocatícios. Teixeira afirmou que tem consigo uma cópia do contrato. A Brasil Telecom foi controlada pelo banco de Dantas até meados de 2005, quando os fundos de pensão de estatais conseguiram na Justiça assumir o controle da companhia. Os novos donos então determinaram uma ampla auditoria.

Tanto o PSDB quanto o PT estão atolados até o nariz neste mar de lama. Se Dantas abrir a boca o governo cai de podre.

Lula critica o sensacionalismo da ação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou na segunda-feira o "sensacionalismo" dos agentes da Polícia Federal na Operação Satiagraha. Numa reunião da coordenação política do governo, na segunda-feira, no Palácio do Planalto, Lula reclamou do uso exagerado de algemas e do flagra da prisão do ex-prefeito Celso Pitta, filmado de pijama enquanto era detido em sua casa.

"Para que humilhar uma pessoa se ela se dispõe a prestar esclarecimento e tem endereço fixo? Sou contra essa exposição desnecessária antes de comprovada a culpa", disse o presidente, segundo relato de participantes do encontro, ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo. Lula se disse preocupado com a legalidade das operações e fez um pedido de menos "espetáculo".

Também presente à reunião, o ministro da Justiça, Tarso Genro, admitiu o erro na divulgação das prisões pela TV (a Globo mostrou a prisão de Pitta), mas defendeu o uso das algemas. No geral, contudo, o ministro concordou que a operação poderia ter sido mais discreta. Sobre os crimes investigados pela operação, a avaliação de Lula é de que o destino do caso é imprevisível.

Metamorfose já lulopetistas. Em alguma coisa o Cappo dei tutti Cappi concorda co Gilmar Mendes.

Como Lula é infalível muitos comentários feitos por seus adoradores neste blog deverão desaparecer ou ser reinterpretados a luz da opinião do Cappo.

Procuradores pedirão impeachment de Gilmar Merda

De Bob Fernandes, no Terra Magazine:

Procuradores regionais de vários Estados, entre eles Ana Lúcia Amaral, procuradora regional da República de São Paulo, estão redigindo uma representação contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, por "crime de responsabilidade".

Em outras palavras, os procuradores vão pedir ao Senado o impeachment de Gilmar Mendes.

O pedido se baseia no artigo 52, inciso II da Constituição Federal, que dá ao Senado a competência para julgar o impedimento de ministros do Supremo.

Para aprová-lo, é necessária uma maioria de dois terços.

A sessão deve ser presidida pelo presidente do Supremo. Como no caso a representação é contra ele, se aceita, seria presidida pelo vice, Cézar Peluso.

A aprovação implica em inabilidade do ministro impedido por 8 anos.

Se dá pra um dá pra todos

PSDB/DEMO/PPS/PSOL e cia cadê a CPI do DVD


Quando eu era um jovem editor do Jornal da Cidade, faz tempo, banquei com o repórter Eduardo Nasralla a investigação de um crime cometido por um policial civil de Bauru.

Batizamos de "crime da igreja".

Ao descer de um andaime usado para pintar as paredes externas de uma igreja, um homem foi morto por um policial que dizia investigá-lo.

Nasralla descobriu, no entanto, que os dois já se conheciam. Mais: que faziam negócios juntos. De acordo com a viúva, os negócios envolviam o tráfico de drogas.

Bauru era uma cidade pequena. Recebemos ameaças e muita pressão para abandonar o assunto.

Nasralla persistiu.

No dia em que o crime foi reconstituído fui assistir junto com o repórter.

De repente, a polícia passou a simular uma suposta agressão do morto, que teria causado a reação do investigador - legítima defesa.

Buscamos saber o motivo daquela reconstituição inesperada.

Ela se baseava em uma nova testemunha, que dizia ter visto a cena.

Mais tarde descobrimos que a "testemunha" havia sido plantada pelo investigador para confundir o processo.

Uma forma nem um pouco sutil de "sujar a água".

É o que sinto que está acontecendo, agora, no caso envolvendo o banqueiro Daniel Dantas.

Onde é que estão os nossos congressistas, sempre ávidos por uma CPI?

Sumiram.

De Brasília, nem um pio, além do óbvio favorecimento àqueles que foram acusados de cometer crimes gravíssimos.

Durante o escândalo do mensalão, que acompanhei de perto como repórter, não me lembro de ter lido na mídia brasileira nenhuma preocupação com vazamentos da Polícia Federal, nem com o uso de algemas, nem com a possibilidade de que pessoas inocentes fossem acusadas.

Agora, curiosamente, sim.

Vozes se levantam contra a polícia, contra o poder dos juízes, contra o Ministério Público, contra os grampos, contra os vazamentos...

Quando um delegado federal se reuniu com repórteres, entregou a eles um CD com fotos do dinheiro dos aloprados e combinou uma mentira coletiva, em 2006, na véspera do segundo turno das eleições presidenciais, toda a mídia brasileira dançou conforme a música.

Todas as emissoras de televisão, os jornais e os portais da internet reproduziram as fotos e as informações e OMITIRAM do público o fato de que profissionais da imprensa tinham obtido o material depois de combinar uma mentira com o delegado. Alguns fizeram isso apesar da posse de uma gravação em que a combinação estava registrada.

Na gravação, o delegado Edmilson Bruno disse aos jornalistas que mentiria ao superior, simulando um furto para justificar o vazamento das imagens.

Os repórteres protestaram? Não. Os jornais divulgaram o teor da gravação? Não. As emissoras de TV reproduziram a gravação? Não. Quando a gravação se tornou pública, a mídia brasileira tratou de reproduzí-la? Não. O comportamento dos jornalistas virou tema de debate da categoria? Não.

Era o caso de divulgar as fotos do dinheiro? Claro que sim.

Mas era uma obrigação jornalística divulgar também as circunstâncias em que aquele vazamento havia acontecido.

A mídia preferiu, no entanto, se calar sobre o assunto, mesmo depois que o delegado Edmilson Bruno assumiu o vazamento - e, portanto, abriu mão do sigilo de fonte.

Fez isso por um motivo muito simples: a mídia não expõe os seus métodos de atuação.

Não cumpre nem mesmo as regras de transparência que cobra de autoridades e governos.

E, ao contrário do que propaga, mistura jornalismo com seus interesses políticos e econômicos.

Isso ficará claro se o esquema de Daniel Dantas com jornalistas e empresas de comunicação vier a tona.

Porém, antes disso, é provável que se encontre uma forma de condenar o pintor de paredes por homicídio qualificado.

Luiz Azenha