Claudio Leal e Raphael Prado
Quarta-feira, 9 de julho de 2008. Setenta e seis anos depois da revolução, a de 1932, São Paulo amanhece. Prédio da Superintendência da Polícia Federal, zona oeste da capital paulista.
Menos de 30 horas depois de outro fato revolucionário, a megaoperação da Polícia Federal que prendeu o banqueiro Daniel Dantas, o delegado Protógenes Queiroz, um dos líderes da Satiagraha, está ao telefone. São 10h30 da manhã.
Ele fala com Paulo de Tarso Teixeira, diretor de Combate a Crimes Financeiros. Comentam a operação da véspera, em termos que Terra Magazine já adiantou a seus internautas (leia
aqui), mas cujo áudio disponibiliza agora, com exclusividade.
» Ouça a conversa entre os delegados da PFNo telefonema, dois enxadristas pinçam cada palavra que vão usar, temendo deixar expostas suas rainhas ao adversário. Protógenes reclama da falta de pessoal para auxiliá-lo. Diz que tem 3 agentes, analistas, para varrerem mais de 120 gigabytes de dados apreendidos na operação.
Quarenta gigabytes per capita.
Paulo de Tarso também reclama. Logo no começo, diz que a reunião que seria realizada em Brasília para discutir a Satiagraha fora cancelada. "Ele mesmo mandou suspender. Então, não precisa vir não", diz a Protógenes. "Ele" é Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da PF. O DG.
O clima piora. Protógenes questiona sobre o inquérito disciplinar que estaria em fase de abertura, contra ele, pelos vazamentos da Operação. Paulo de Tarso inclui outro Tarso na história, o Genro:
- O ministro da Justiça já encaminhou requerimento solicitando informações da Polícia Federal, porque ele foi questionado. Sobre aquela filmagem. Então, o seguinte. O DG adiantou que essa situação aí vai ser apurada.
A filmagem a que Paulo se refere é a exclusiva tomada da TV Globo na prisão do ex-prefeito Celso Pitta. Flagrado de pijama, abrindo a porta de sua residência.
O delegado retruca. Garante que não está preocupado com a questão. Já tem um "grande volume de dados" para criar um novo inquérito, só sobre vazamentos, esclarece.
- Eu apenas... já tenho um grande volume que tá sendo informado ao Ministério Público e ao juiz diuturnamente.
O assunto termina de forma abrupta. Voltam a falar da falta de pessoal para a operação.
Paulo de Tarso pede justificativas para enviar mais efetivos. Diz que nem precisa mais dizer que o conteúdo é reservado, afinal, é "muita coisa que tá na imprensa".
Protógenes quer mais explicações sobre que tipo de justificativa mandar. Paulo tergiversa, conta que a Band o cobra pela exclusividade da Globo. E desabafa:
- ...hoje está difícil você recrutar gente.
Mas garante que atenderá a demanda. Termina o primeiro, o mais recente depois de deflagrada a operação, de muitos diálogos, triálogos, reuniões que costuram o poder na Polícia Federal. No último e mais tenso desses encontros, Protógenes e outros dois delegados que o auxiliam deixam o inquérito da Operação Satiagraha.
Mesmo sob nova direção, mais histórias estão por vir dos intestinos do Brasil.
Tudo isto deve ser bem esclarecido. O povo tem que cobra mais honestidade e ética de nossos políticos.