por Alon Feuerwerke

Gato por lebre

A alardeada urgência de macrorreformas como a política e a tributária é uma verdade absoluta. Parece dispensar comprovação.



A tal verdade absoluta nasce de uma esperteza.

Num país repleto de passagens reprováveis na vida política, quem poderia ser contra uma reforma política, que o público poderia "comprar" como reforma benigna "da" política?



E num país de carga tributária sempre descrita como alta quem poderia se opor a uma reforma benigna do sistema de impostos? Desde que, naturalmente, o Estado continuasse a prover tudo que provê hoje. Ou mais.



Por motivos semelhantes, a maioria tenderá a inclinar-se para o "sim" se alguém propuser abstratamente uma reforma da segurança pública, ou da saúde, ou da educação. Ou do transporte público nas metrópoles. E por que não dos aeroportos? Ou das rodoviárias?



O reformismo genérico ganhou corpo entre nós depois da última Constituinte, por uma razão: segmentos da opinião pública preferiam uma Carta menos intervencionista, menos generosa no campo social. Daí o esforço ininterrupto para desidratá-la.



Na esfera trabalhista, por exemplo, o apelo permanente é por uma mudança que "facilite a contratação" de mão de obra. O próprio ex-presidente recém-saído andou no passado posando de bom moço em defesa da tese. Na passagem do primeiro para o segundo mandato falou longamente à The Economist sobre a ideia.



Mas sempre que a discussão desce para a vida prática do mundo do trabalho as medidas propostas visam a facilitar a demissão, e não a contratação. E ainda está para ser provado que demissões mais fáceis gerariam mais contratações.



No começo do governo do PT, em 2003, tentou-se implantar um tal de "Programa Primeiro Emprego", prometido pelo candidato na campanha do ano anterior. A ideia era precisamente reduzir encargos para facilitar a absorção de mão de obra novata. O programa foi engavetado depois do fracasso completo.



Mas a geração de empregos nos últimos anos acabou sendo bastante satisfatória, e sem mexer em nenhum direito dos trabalhadores.



No debate recente sobre a prorrogação da Contribuição "Provisória" sobre Movimentação Financeira havia o argumento de que sem a CPMF os preços cairiam, por não mais carregarem as taxas cobradas ao longo de toda a cadeia produtiva. Alguém ouviu falar de algo que tenha ficado mais barato por causa do fim da CPMF?



Não aconteceu. Apenas cerca de R$ 50 bilhões anuais deixaram de ser recolhidos aos cofres da União.



A discussão aqui não é sobre a CPMF, ou sobre o falecido Primeiro Emprego. É sobre a venda indiscriminada de gatos por lebres, com o bichano vindo embalado no papel de presente daquela reforma indispensável e inadiável que -finalmente- vai colocar o dedo nas grandes chagas nacionais.



Viu a lebre? Procure pelo gato. Na reforma política o que há até o momento é uma tentativa de abolir o voto direto na eleição proporcional (deputado, vereador). Chamam de "lista fechada".



Ela vem junto com a tentativa de impedir a oposição de se financiar na sociedade. Chamam de "financiamento exclusivamente público". Significaria dar ao(s) partido(s) no poder uma vantagem financeira estratégica e definitiva.



Ambas as medidas aumentariam ainda mais a força de quem está no governo, em qualquer governo, especialmente depois que a Justiça instituiu a fidelidade partidária estrita.



A boa notícia deste início de ano é que Dilma Rousseff não está muito a fim de lançar seus exércitos no pântano congressual das reformas. Mas é adequado ficar de olho.



E não é difícil monitorar. A cada situação, ou proposta, basta procurar pelo detalhe que esconde a tentativa de retirar direitos e aumentar obrigações do cidadão comum.


Fraquezas



O governo brasileiro decidiu disputar o comando da agência da ONU que se ocupa das políticas relacionadas a agricultura e alimentos. Parece que o concorrente será espanhol. Terceiro Mundo contra Primeiro. Sempre simpático.



Entretanto, uma fragilidade da candidatura brasileira é representar o país que em plena inflação mundial de alimentos procura convencer o planeta da conveniência de produzir biocombustíveis.



O mesmo país, aliás, que recusa debater a formação de estoques internacionais reguladores da oferta de grãos, estoques essenciais para combater a especulação com comida.



De embaixadores planetários contra a fome, convertemo-nos em embaixadores planetários da inflação e da especulação.
Briguilino

PROUNI - bate recorde de inscritos

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O Ministério da Educação anunciou novo recorde nas inscrições para o ProUni - Programa Universidade para Todos -.

Segundo o órgão, 1.048.631 concorrem a 123.170 bolsas de estudo em faculdades particulares, entre integrais e parciais.

Este número superam os 822 mil registrados no ano passado.

A lista dos pré-aprovados na seleção será divulgada na próxima sexta-feira (28) e os estudantes deverão confirmar seu cadastro até o dia 4 de fevereiro. Informações da Agência Brasil.



A presidente Dilma apresentará plano de governo

 Uma mensagem com um plano de governo expondo a situação do país e solicitando o apoio do Congresso para as providências que julgar necessárias. É o que a presidente Dilma deve enviar ao Parlamento, na proxima quarta-feira [2], quando o Congresso Nacional inaugura a sessão legislativa de 2011. O encaminhamento dessa mensagem atende a uma determinação da Constituição federal.

No texto que vai enviar, a presidente deve explicar seu projeto de erradicação da miséria e de criação de oportunidades para todos, promessa feita no dia 1 de janeiro, quando tomou posse.

A previsão do cerimonial do Congresso é de que o documento seja portado pelo chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci. Mas nada impede que Dilma encaminhe pessoalmente sua mensagem ao Congresso Nacional.

Nos EUA, por exemplo, o presidente Barack Obama foi ao Congresso, nessa terça-feira (25), cumprimentar os parlamentares e fazer um discurso prometendo congelamento de despesas governamentais e mais investimentos em educação e pesquisa. Ele mencionou, inclusive, que fará uma viagem ao Brasil em março.

Aa posse dos congressistas e a eleição dos que comandarão as duas Casas do Congresso consistem nas primeiras providências do Parlamento brasileiro na legislatura que se inicia na proxima semana, a 54ª desde que foi instalado, em 1826.

As 10h de terça, deputados e senadores serão empossados, prometendo guardar a Constituição e as leis do país, desempenhar lealmente seus mandatos e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.

Logo em seguida, no Senado, os 81 integrantes da Casa elegerão a nova Mesa, que comandará a instituição pelos próximos dois anos.

Briguilino

por Laguardia

Ao apresentar o relatório preliminar da inspeção realizada na região serrana do Rio, o presidente do Conselho Regional de Arquitetura, Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (CREA-RJ), Agostinho Guerreiro, disse que 80% das mortes em decorrência das chuvas seriam evitadas, caso a legislação ambiental do país fosse respeitada pelas prefeituras das cidades afetadas. "Técnicos apuraram que o desmatamento fez a velocidade da cabeça-d'água atingir em alguns trechos mais de 100 km/h", afirmou. Fonte: Estadão

Elegemos nossos governantes para que os mesmos cuidem dos interesses do povo e tomem as ações necessárias para garantir segurança, dignidade e justiça social à população.

Mas não é isto que acontece. Antes mesmo de tomarem posse já começam as discussões sobre a divisão de cargos. Novas secretarias e novos ministérios são criados para alojar os aliados da campanha eleitoral.
O que leva uma pessoa a pleitear com tanto ardor uma posição no governo ou na diretoria de uma estatal?

Pelo que sabemos do salário nominal de um ministro, este poderia ser mais bem remunerado em uma empresa privada, isto é se realmente fosse competente.

Mas é a ganância, a fome de poder, que levam a esta disputa por cargos. É a possibilidade da utilização do cargo em benefício próprio.

Para isto, como temos visto na história recente de nosso país, as leis e a Constituição são impunemente desrespeitadas. Tudo em nome do poder e do benefício próprio. Para que no fim do mandato além de ter amealhado uma invejável fortuna possam continuar usufruindo das benesses do poder, férias em instalações do governo, pensões exorbitantes por uns poucos dias de mandato, viagens com passaporte diplomático, possibilidade de ser eleito para outros cargos.

Com isto não importa que a população esteja morando em situação de risco. Faz-se um programa habitacional para inglês ver, uma propaganda intensiva nos meios de comunicação paga com o dinheiro do povo e tudo bem.

Quando vêm as tragédias ninguém sabe de nada. A culpa é da herança maldita dos governos anteriores.

Nunca na história deste país tantos morreram devido a irresponsabilidade de tão poucos.
Laguardia
Briguilino

A nova e a velha geopolitica


O tucano FHC [ a Ofélia da política brasileira] fechou seu governo deixando a Petrobrás em 27º lugar no PFC Energy 50 (de 1999), ranking das maiores empresas de energia do mundo em valor de mercado.

Lula encerrou seu segundo mandato, em dezembro de 2010, com a estatal ocupando a 3º colocação no mesmo ranking, atrás apenas da Shell e da Petrochina. Com US$ 228,9 bilhões em valor de mercado, a Petrobrás posiciona-se agora à frente da ExxonMobil e da Chevron -a quem Serra, em plena campanha presidencial de 2010, prometera reverter a regulação soberana das reservas do pré-sal. 'Vocês vão e depois voltam', garantiu o candidato da derrota conservadora a emissários da petroleira internacional,conforme revelações do Wikileaks.

Em 2010 a Petrobrás também bateu o recorde de produção de petróleo e gás, com a média equivalente a 2,583 milhões de barris/dia. Analistas especializados observam que as descobertas e o crescimento da produção em países da periferia do capitalismo mudaram a geopolítica do petróleo no século XXI. Quase em simultâneo, falando de Genebra, onde guarda repouso após as derrotas eleitorais no Brasil,  FHC assegurou que 'o governo Dilma está sem estratégia'. Sua referência, naturalmente,  é a exemplar condução estratégica do país  no ciclo tucano de privatizações e alinhamentos carnais.

Carta Maior

A nova e a velha geopolitica

O tucano FHC [ a Ofélia da política brasileira] fechou seu governo deixando a Petrobrás em 27º lugar no PFC Energy 50 (de 1999), ranking das maiores empresas de energia do mundo em valor de mercado.

Lula encerrou seu segundo mandato, em dezembro de 2010, com a estatal ocupando a 3º colocação no mesmo ranking, atrás apenas da Shell e da Petrochina. Com US$ 228,9 bilhões em valor de mercado, a Petrobrás posiciona-se agora à frente da ExxonMobil e da Chevron -a quem Serra, em plena campanha presidencial de 2010, prometera reverter a regulação soberana das reservas do pré-sal. 'Vocês vão e depois voltam', garantiu o candidato da derrota conservadora a emissários da petroleira internacional,conforme revelações do Wikileaks.

Em 2010 a Petrobrás também bateu o recorde de produção de petróleo e gás, com a média equivalente a 2,583 milhões de barris/dia. Analistas especializados observam que as descobertas e o crescimento da produção em países da periferia do capitalismo mudaram a geopolítica do petróleo no século XXI. Quase em simultâneo, falando de Genebra, onde guarda repouso após as derrotas eleitorais no Brasil,  FHC assegurou que 'o governo Dilma está sem estratégia'. Sua referência, naturalmente,  é a exemplar condução estratégica do país  no ciclo tucano de privatizações e alinhamentos carnais.

Carta Maior

O discreto estilo da presidente Dilma

Conservadora no traje, eficaz, firme e pontual na ação de governo

Primeira mulher a comandar o País, a presidenta se veste de forma sóbria. Um pouco conservadora, há quem diga. Nas roupas, opta pelos tons café, terracota e bege. A maquiagem é discreta e as joias, pouco chamativas. "Ser mulher presidenta não é fácil. Para os homens é mais simples, basta sair com uma camisa e uma gravata. O que fiz foi me adaptar às agendas, porque era  complexo ter sempre comigo um par de sapatos diferentes se saía a campo ou um vestido, se tinha de comparecer a algo mais formal", declarou a presidenta. Não, não foi Dilma Rousseff quem disse isso, mas sua colega Laura Chinchilla, que tomou posse em maio do ano passado na Costa Rica.

Uma coisa é se eleger presidenta. Outra é livrar-se da abordagem "feminina" (alguns diriam fútil) do fato de uma mulher ter chegado lá. Nem Ângela Merkel, a dama de ferro alemã, se livrou de ter a maneira de vestir discutida, o que talvez desminta a ideia de que seria provincianismo nosso explorar batons, marcas de roupa, bolsas e sapatos da mulher que chegou à Presidência. Ora a imprensa alemã caçoava da imagem da candidata pescando ao lado do marido, metida em uma calça de agasalho e camisa masculina, ora fazia troça do inusitado decote da já primeira-ministra em uma noite na ópera de Oslo, em 2008. E que, diga-se de passagem, deixava à mostra um belo colo de mulher aos então 53 anos de idade.

Há menos de um mês no cargo, já sabemos pela imprensa que a presidenta Dilma usou batom na cor cereja queimada ao posar para a foto oficial, aquela que vai ser pendurada nas paredes das repartições Brasil afora. Tendo ao fundo as colunas do Alvorada, houve pouco retoque nas fotos – segundo o fotógrafo Roberto Stuckert Filho, a pedido da própria – e se percebem as marcas de expressão da presidenta. Exatamente o contrário do que aconteceu na Nova Zelândia há dois anos, quando o lisonjeiro, para dizer o mínimo, pôster de campanha da então primeira-ministra Helen Clark causou polêmica ao tornar retos seus dentes tortos sem a ajuda de aparelho e ao suavizar-lhe os traços em uma espécie de lifting digital que o fotógrafo Monty Adams jura sobre a Bíblia não ter executado.Candidata à reeleição, Clark perdeu.

É certo que o estilo  de Dilma, visualmente falando, difere das outras duas mulheres que chegaram ao topo na América do Sul. A ex-presidenta do Chile Michelle Bachelet vestia-se de forma talvez ainda mais conservadora do que a brasileira. Sequer tirou os óculos ou mudou o penteado, como Dilma, ao se tornar candidata. A argentina Cristina Kirchner, pelo contrário, é bem mais ousada e abusa da maquiagem pesada e das cores fortes. Comparadas por especialistas em moda de seu país, Michelle seria o retrato da mulher chilena, mais "mamãe", enquanto Cristina espelharia as argentinas, mais "coquetes", seguindo a linha da fashioníssima Eva Perón. Não foi perguntado às argentinas e chilenas se concordavam com a simplificação.

 A imprensa argentina, pelo menos, foi capaz de explorar o tema também com os presidentes homens, como Carlos Menem, famoso por sempre carregar o cabeleireiro a bordo do avião presidencial, o Tango 1. Obcecado pela manutenção do toupée e das suíças, de perto era possível enxergar no presidente os retoques de tinta que fazia antes de cada uma das aparições oficiais. Em 2009, foi noticiado que Menem, mesmo às voltas com problemas judiciais, estava promovendo concurso para contratar um novo cabeleireiro, fluente em inglês e com passaporte americano em dia. O escolhido por Dilma, todo mundo já sabe, é o paulistano Celso Kamura.

Felizmente, em termos políticos, apesar das tentativas, aqui e ali, de frugalizar a chegada da mulher ao poder no Brasil, a comparação mais frequente até agora tem sido entre o jeito de governar de Dilma e o de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. O estilo discreto da presidenta conquistou inclusive velhos detratores do ex-presidente, que agora não regateiam elogios à sucessora. Ao aparecer, de galochas, em meio às enchentes no Rio de Janeiro, a presidenta foi unanimidade na mídia por ter feito declarações "cuidadosas", em contraponto ao que foi criticado como "excessos" e "anormalidades" de Lula. Dilma seria mais "obediente" à liturgia do cargo do que seu popularíssimo antecessor.

No entorno da presidenta, os elogios são vistos com reservas. "Percebe-se que continuam a menosprezar Lula, a fazer com que seja visto como fanfarrão. Há uma tentativa, por um lado, de diminuí-lo e, por outro, de tentar intrigar Dilma com ele", avalia uma fonte do Planalto. Não deixa de ser curioso que se aposte na cisão entre ex e sucessora como uma notícia boa, quando durante a campanha um dos elementos de terror utilizados pela oposição a Dilma era que brigaria com o homem que a alçou ao cargo na primeira oportunidade, instalando o caos no País.

Dito isso, não é só o fato de preferir tomar café coado ao expresso que Dilma difere de Lula. Ao que tudo indica, Dilma será a Dilma da Dilma. Ou seja, as funções de cobrar metas que Lula lhe delegava como ministra da Casa Civil foram assumidas por ela própria. Porta-se mais como gestora, no sentido empresarial do termo, e fala mais regularmente ao telefone com os ministros, embora faça questão de desfazer em algumas ocasiões a imagem de durona. Na primeira reunião ministerial, contou que em momentos de crise Lula dava-lhe duas reuniões para chegar a um acordo com o ministro em questão. Se o assunto não tivesse sido resolvido, ia parar na mesa dele. "E as pessoas se enganam achando que o Lula não era duro na hora de cobrar. Assim como Dilma, quando saía do sério, sai de baixo", conta um ex-assessor.

Na reunião, a presidenta afirmou ao sucessor na Casa Civil, Antonio Palocci, que seria mais "generosa" do que Lula e lhe concedeu três reuniões para resolver os imbróglios. Mas Dilma mostrou também que será menos condescendente que o antecessor em relação ao fogo amigo. Disse que admitirá divergências em seu governo, desde que explicitadas internamente, não por meio dos jornais. Outra coisa que, afirmou, não vai tolerar é que, ao não concordar com um colega de ministério, o titular de determinada pasta leve a pendenga para o Congresso, como acontecia no governo Lula, quando, por exemplo, Reinhold Stephanes (Agricultura) volta e meia atiçava os ruralistas contra Marina Silva (Meio Ambiente).

"A presidenta deu um recado claro de que vai cobrar lealdade e espírito de equipe no grupo de ministros", diz um colaborador. Dilma alertou que o ministério "não é feudo de ninguém" e defendeu que os titulares das pastas trabalhem com os demais. Até por isso, dividiu o governo em quatro áreas prioritárias em que os ministérios se interligam: "erradicação da miséria", "direitos da cidadania", "desenvolvimento econômico" e "infraestrutura". O Ministério da Saúde, por exemplo, está em três dos fóruns, só não participa de desenvolvimento econômico. Fazenda não está em direitos da cidadania, mas pode ser convocado a comparecer.

A fase atual é de organização. Dilma espera dos ministros o retorno da tarefa que lhes deu nos primeiros dias de governo, de levantar em suas pastas os programas que estão funcionando bem e os que não estão. E que ninguém volte para a presidenta com as informações pedidas iniciando a fala com a frase "eu acho que", que Dilma abomina. "Se o cara chega para a presidenta e diz 'eu acho que' já era, vai tomar uma chamada inesquecível, do tipo: 'Você não tem de achar nada, tem de saber'", confidencia um palaciano.

 Com fama de "acelerada", Dilma tem se mostrado mais exigente do que Lula com os horários. Começa o expediente no Palácio do Planalto por volta das 9h30, após caminhar na esteira ou ao ar livre na Granja do Torto, onde ainda reside – só vai se mudar para o Alvorada em fevereiro. Reúne-se toda manhã com o chefe de gabinete, Gilles Carriconde Azevedo, e a ministra Helena Chagas, da Comunicação, que lhes expõem os principais assuntos do dia. A presidenta lê as notícias pelo clipping preparado diariamente. Por enquanto, almoça no próprio palácio, mas a tendência é de que isso mude após a ida para o Alvorada, que é mais perto do Planalto do que o Torto. Vai embora por volta das 21h30.

Dilma Rousseff realmente  pretende falar menos do que Lula, tanto em entrevistas quanto em discursos e aparições públicas. Estratégia de marketing ou cansaço depois da superexposição vivida na campanha? Nada disso, garante um assessor da presidenta. "É da natureza dela ser mais discreta. Até na época do combate à ditadura Dilma era uma pessoa dos bastidores, do planejamento. Nunca foi para a linha de frente." De todo modo, é onde agora está, e a discrição no cargo que serve para elogios pode servir para críticas amanhã. Os momentos de acerto no governo poderão ser justificativa para reparos ao figurino, e vice-versa. Ossos do ofício: mulher sempre fez mesmo jornada dupla.

por Cynara Menezes

Cynara Menezes é jornalista. Atuou no extinto "Jornal da Bahia", em Salvador, onde morava. Em 1989, de Brasília, atuava para diversos órgãos da imprensa. Morou dois anos na Espanha e outros dez em São Paulo, quando colaborou para a "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Veja" e para a revista "VIP". Está de volta a Brasília há dois anos e meio, de onde escreve para a CartaCapital.