STF, tribunal de exceção


Segundas impressões do mensalão
Leio e ouço que a decisão da primeira fase do STF mostra que os tempos estão mudando e que a votação de 9 a 2 contra os réus indica uma opção contra a impunidade.
Confesso que sempre gostei de Bob Dylan e sou daqueles que acreditam e torcem por mudanças. Mas não sei se é isso o que estamos assistindo. Mudança, no Brasil, é conseguir o básico. No caso da Justiça, garantir direitos iguais para todos, qualquer que seja sua cor, credo, condição social ou opinião política. Será que é isso que estamos vendo?
Estrelado pelo mesmo esquema, com personagens iguais e outros, equivalentes, o mensalão mineiro segue quieto lá nas Alterosas.
O tratamento desigual para situações iguais é constrangedor. Ao dar uma entrevista a Monica Bergamo, o relator Joaquim Barbosa lembrou que a imprensa nunca deu a mesma importância ao mensalão mineiro. Ele até disse que, quando tocava no assunto, os repórteres reagiam com um “sorriso amarelo.”
Eu acho bom quando um ministro do Supremo se refere ao tratamento desigual que parte da mídia dispensou aos dois mensalões. Mostra que isso não é “coisa de mensaleiro petista ” não é mesmo?
Mas há outro aspecto. O fato da imprensa dar um tratamento desigual é um dado da política brasileira e, no fim das contas, diz respeito a um jornal e seus leitores. Como leitor, eu posso até achar que a imprensa deve tratar todos da mesma maneira, deve procurar ser isenta mas a liberdade de expressão garante que todo jornal e todo jornalista tenha suas preferencias, suas prioridades e opções. Salvo patologias criminosas, todos têm o direito o direito de exercitá-las.
A visão que você lê neste blogue é diferente daquela que vai encontrar em outros lugares. É bom que seja assim.
A justiça não. Esta deve ser tão isenta que a querem cega. E aí, data vênia, quem sorri amarelo, neste caso, é quem desmembrou o mensalão (do PSDB) mineiro e unificou o mensalão petista.
Porque estamos falando de um tratamento desigual para situações idênticas, no mesmo país, no mesmo sistema, no mesmo tribunal. O direito de uns foi reconhecido. O de outros, não. Às vezes, chegou-se a uma situação surrealista.
Nos dois casos, o “núcleo operacional”, para usar a definição do procurador geral, é o mesmo. Marcos Valério, Cristiano Paz e os outros. O Banco Rural também. As técnicas de arrecadação e distribuição de recursos eram as mesmas. Só mudou o núcleo político. Então, me desculpem, o problema está na política. Sim.
Por causa do desmembramento, podemos ter sentenças diferentes para o mesmo caso. “Dois pesos, dois mensalões,” já escreveu Jânio de Freitas.
Se o mensalão petista tivesse sido desmembrado, o deputado João Paulo e outros dois parlamentares acusados até poderiam ser julgados em Brasília, como o deputado Eduardo Azeredo será, quando seu dia chegar. (O mensalão mineiro é mais antigo mas anda mais devagar, também. Ainda estão colhendo depoimentos, ouvindo testemunhas…) Ainda assim, teremos outros prazos e, muito possivelmente outras penas.
Mas em caso de desmembramento, José Dirceu e José Genoíno, para ficar nos nomes mais ilustres e simbólicos, teriam sido reencaminhados para a Justiça comum, com direito a várias etapas de julgamento antes da condenação. O Ibope seria menor. E não estou falando só da repercussão nas eleições municipais de 2012. Por favor: a questão não se resume ao novo candidato do PT a prefeitura de Osasco.
Nós sabemos que o troféu principal do julgamento é Dirceu. O número 2, Genoíno. É por isso que o caso se encontra no STF. Ali tem mais holofotes.
No início do julgamento, Gilmar Mendes chegou a sugerir que as chances dos réus serem absolvidos eram maiores num julgamento desmembrado do que num processo unificado. Concordo.
Mas se isso é verdade, por que mesmo se deu um tratamento diferenciado? Não é preciso sofisticar mais o raciocínio. Como perguntou Eduardo Kossmann, advogado. Considerando que a Constituição diz que todos são iguais perante a lei “como explicar para meu filho de cinco anos?”
Uma sentença do Supremo é um acontecimento duradouro. Repercute hoje, amanhã, no ano que vem e daqui a uma década. Destrói uma vida, aniquila uma reputação.
Como disse Pedro Abramoway, que passou os dois mandatos de Lula em posições importantes no área jurídica, o mensalão propriamente não foi julgado. Aquela denúncia, de compra de consciências, que é o centro da acusação do procurador Roberto Gurgel, ficou para mais tarde.
As provas de que os parlamentares colocavam dinheiro no bolso para mudar seu voto não apareceram até agora.
Isso apareceu quando o deputado Ronnie Von Santiago (olha só, mais um roqueiro no debate) confessou que tinha recebido R$ 200 mil para votar a favor da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, há quase 20 anos. Ali foi suborno, foi propina, foi compra de votos. Pelo menos ele disse isso. Os mais de 300 ouvidos no mensalão sempre negaram. Todos.
Até Roberto Jefferson mudou o depoimento na hora em que era para valer.
Mas o caso de Ronnie Von não gerou um processo tão grande. Nada aconteceu com seu núcleo politico, vamos combinar.
E é isso que mostra que tudo pode estar mudando para que nada mude.
O deputado João Paulo Cunha foi condenado a 6 anos de prisão em função de uma prova que pode ser discutida. A de que recebeu uma propina de R$ 50 000 para aprovar um contrato de R$ 10 milhões com as empresas de Marcos Valério. Você pode até dizer que é tudo “parte do mesmo esquema” e dar aquele sorriso malicioso de quem acha todos os argumentos contrários apenas ingênuos ou cúmplices mas vamos combinar que há um pressuposto nessa visão.
O pressuposto é de que não houve nem podia haver outro tipo de pagamento nesta operação. Não podia ser dinheiro de campanha, nem recurso de caixa 2. O problema é que as campanhas costumam ser feitas com caixa 2, que devem ser apurado, investigado e punido. Mas são outro crime.
Caixa 2 não é uma “tese” da defesa. Pode ser “tese” artificial ou pode ser uma “tese” com base na realidade. Mas a sonegação existe, está aí, pode ser demonstrada em vários momentos da vida brasileira, inclusive em campanhas eleitorais. Existem empresas criadas especialmente para ajudar os interessados nesse tipo de coisa.
Acho positivo o esforço de questionar e desvendar o que está por trás das coisas. Mas não sei se neste caso tudo ficou tão demonstrado como se gostaria.
Por exemplo. Os milhões de dólares que Paulo Maluf mandou para o exterior foram comprovados. Funcionários das empreiteiras explicaram, detalhadamente, como o esquema funcionava, como se fabricavam notas frias e como se fazia o desvio dos recursos públicos. No entanto, Maluf hoje em dia não pode viajar por causa de um mandato da Interpol. Mas não cumpre pena de prisão. Foi preso quando havia o risco de fugir.
Outro exemplo. As agências de Marcos Valério foram acusadas de embolsar um dinheiro a que não teriam direito nos contratos com o Visanet, o chamado bônus por volume. O problema é que essa prática é muito frequente no mercado publicitário e, em 2008, foi regulamentada em lei no Congresso. O que não era proibido nem permitido foi legalizado. Mas ontem, o ministro Ayres Britto, presidente do STF, disse que a aprovação dessa lei foi uma manobra para beneficiar os acusados do mensalão. É muito possível. Mas eu acho que um ministro do Supremo não deveria fazer uma acusação gravíssima contra uma decisão de outro poder. Ou pode?
por Paulo Moreira Leite

Silvio Sonso

Aonde foi tirada a foto?

- Não sei.
- Tu sabe aonde foi tirada a foto?
- Não sei nem me interessa saber. O que me interessa é a criança.
- Tu sabe aonde foi tirada a foto?
- Pode ter sido tirada no Sudão, em São Paulo, Fortaleza, Botucatu. Era uma criança morrendo e dois urubus a espreita.
- Se eu encontrasse quem tirou a foto, eu era capaz de matar.
- Tu sabe aonde foi tirada a foto?
- Pensando bem, eu não matava quem tirou a foto. Eu daria a ele o mesmo tratamento que ele deu a criança.   O supremo desprezo.

- TU SABE AONDE FOI TIRADA A FOTO?

- Ah, sei que existem muitos outros urubus atrás de lentes.

Fatiado Gloelbelemos


Autor: 
 
O procurador Joaquim Barbosa deve ter escutado com um sorriso de escárnio suspenso nos lábios a leitura da acusação feita pelo PGR Roberto Gurgel. Era inepta. Gurgel usava de sarcasmo, citava Chico Buarque de Holanda, mas cometia um erro grosseiro, sustentava que uma quadrilha atrevida instalou-se no Palácio do Planalto e do escritório do Ministro da Casa Civil comprava apoio parlamentar - o mensalão. Contudo, terminava de maneira patética a acusação. Pedia a compreensão da Corte por não apresentar provas do que dizia. Provas, como todos ali sabiam, nesses casos são muito difíceis de serem obtidas.
Convenceu um já convencido, desgosto e retirante Ministro Peluzo, que mesmo assim teve de cometer um acidente automobilístico na sua biografia para concordar com Gurgel. Inovou em matéria penal ao admitir que um fato prove outro a ele relacionado por si só, dispensando a apresentação de provas da correlação. Ou a prevalência de tese de que "quem bate atrás é culpado". Nesse momento o ministro Joaquim Barbosa é quem deve ter intimamente gargalhado do argumento rebolativo de seu colega e desafeto. 
O procurador Joaquim Barbosa é muito mais engenhoso, a utilidade do mensalão já havia acabado quando o STF aceitou a denúncia. Para o julgamento usaria outra estratégia. Na verdade a idéia do mensalão voltou a ser útil quando a questão dos réus sem foro privilegiado foi novamente apresentada. O procurador Joaquim Barbosa se encolerizou, isso era questão já decidida, não se volta atrás. Ali a sua estratégia perigou, mas vencido o questionamento o procurador Joaquim Barbosa sorriu vencendor mais uma vez.
A tese do mensalão era útil à acusação apenas como uma imagem que justificasse o STF como fórum do julgamento. Ora, admitindo-se a hipótese de um ministro de estado corrompendo deputados e senadores para obter apoio político, que outro fórum poderia julgar tal delito? E, assim, mesmo réus sem foro privilegiado deveriam ser julgados na ultíssima instância, pois, se divididos em vários tribunais como processos individuais, ainda que entregues aos seus juízes naturais, a interessa das provas e correlação dos atos que comprovavam o mensalão seriam prejudicadas. Esses réus formavam uma quadrilha – Lula lá e seus 40 ladrões.
Esse era o primeiro movimento de engenho e arte jurídica do procurador Joaquim Barbosa. Aceita como tese, a hipótese do mensalão não servia para mais nada, podia ser dispensada. Como peça acusatória era contraproducente, pois teria de ser provada. E o procurador Joaquim Barbosa sabia que era inverossímil malas executivas recheadas de dinheiro circulando pelo plenário do Congresso Nacional, assim como, no mínimo, difícil de acreditar que era necessário corromper congressistas do PT para votar nas propostas do PT.
Logo, o procurador Joaquim Barbosa apresenta ao ministro Joaquim Barbosa e aos outros Ministros do Supremo uma peça acusatória totalmente diferente da do Procurador Geral da República e de modo algum relacionada com o mensalão. Num engenhoso salto mortal, fatia o julgamento. Cada delito agora deveria ser julgado como único, dissociado dos outros e principalmente da idéia de que formavam um conjunto chamando mensalão. 
Estava consumado com sucesso o segundo movimento do procurador Joaquim Barbosa, engenho, arte e contradição calculados.
Assim assistimos decisões sobre peculato, lavagem de dinheiro, propina, corrupção rasteira e genérica. Não ao julgameto do "maior escândalo de corrupção da história deste país", nenhum ministro tendo que se questionar sobre onde estaria comprovada a compra de apoio político ou quais as matérias tiveram suas votações corrompidas.
Mantida assim as teses do procurador Joaquim Barbosa, ao final do julgamento, todos os réus estarão condenados por delitos outros que os apresentados inicialmente como compra de apoio parlamentar. E a condenação é o que interessa à procuradoria, a quem cabe acusar e não julgar o mérito.
Por último, o mensalão restaria provado pela condenação dos réus a ele associados e não porque qualquer prova dele tenha sido apresentada ou mesmo que tenha realmente existido.
Fatiados venceremos.

Eleições e o mito do desinteresse


Pesquisa realizada pelo Datafolha, divulgada no último final de semana, ajuda a desmistificar a ideia, habitualmente disseminada pela mídia, de que o eleitor brasileiro é desinteressado do processo político e até o repudia.

Segundo levantamento feito pelo instituto, 64% da população deseja que o horário eleitoral na TV e no rádio seja mantido, contra os 34% que gostariam que o espaço fosse extinto. Dentre aqueles que apoiam a publicidade eleitoral, 30% consideram que o modelo atual deve ser mantido, enquanto 34% avaliam que o formato deve ser repensado.
Em que pese o fato de que a amostragem seja restrita, já que a pesquisa foi realizada apenas em São Paulo, os dados são reveladores da importância conferida à propaganda eleitoral pelos eleitores e do impacto que ela tem sobre a definição de seu voto.
De acordo com o levantamento, 57% dos entrevistados afirmaram que assistirão aos programas dos candidatos ao pleito municipal deste ano na TV e 62% declararam que o horário eleitoral gratuito influenciará na escolha de seus candidatos.
Outra constatação feita pela pesquisa é que quanto maior a renda do eleitor, maior é a sua indiferença em relação ao tema. Dentre os que possuem renda familiar acima de dez salários mínimos, a opinião de que o horário eleitoral deveria ser abolido atinge 43%. Também neste grupo a influência da propaganda eleitoral sobre o voto revela-se muito menor: 64% disseram que não é “nada importante”.
Ainda que as críticas ao modelo sejam cabíveis, uma vez que muitos candidatos se rendem à publicidade em vez do debate programático, o horário eleitoral gratuito oferece uma das poucas oportunidades para que ideias e propostas sejam apresentadas com autonomia, sem a imposição da agenda eleitoral determinada pela imprensa.
De fato, para torná-lo mais profícuo seria necessário aperfeiçoá-lo, tornando-o não apenas um espaço de apresentação de ideias, mas também de debates entre os candidatos, no qual pudessem ser confrontadas suas propostas e visões sobre os diversos problemas que afligem as cidades e seus cidadãos.
Outra questão referente ao modelo atual do horário eleitoral gratuito que precisa ser reformada é a distribuição do tempo entre os partidos e as coligações. Pelas regras atuais, um terço do tempo é dividido igualitariamente, enquanto os dois terços restantes são distribuídos proporcionalmente ao número de representantes na Câmara dos Deputados.
No caso das coligações, considera-se a soma dos representantes de todos os partidos que a compõem.
O mais coerente, entretanto, seria que a distribuição se fizesse de forma proporcional, conforme os resultados obtidos pelos partidos e coligações na eleição anterior. Isso impediria que a representatividade fosse afetada pela migração de deputados federais entre os partidos no período pré-eleitoral.
As inserções veiculadas ao longo da programação das emissoras, que hoje totalizam 30 minutos diários, também poderiam ser ampliadas, para que o eleitor pudesse se aproximar ainda mais do processo eleitoral, levando-se em conta que a televisão é o veículo de comunicação de massa que mais atrai o público.
Ainda que as emissoras reclamem da obrigatoriedade da exibição dos programas eleitorais e partidários, sob a alegação dos prejuízos pela perda de espaço para a publicidade, a legislação define isenções tributárias para que os canais façam as transmissões.
Fica patente nos resultados da pesquisa Datafolha e é importante salientar que a repulsa ao horário eleitoral e às instituições políticas de forma geral, não é um “mal” da sociedade. Esta tem interesse pela vida política e quer conhecer o que aqueles que pleiteiam seu aval para administrar suas cidades pensam e propõem. A ideia de que o cidadão tem uma percepção acrítica do candidato não condiz com a realidade.
Por isso, os espaços e canais de discussão, sejam os estipulados por lei, sejam os poucos abertos pela imprensa, devem ser bem aproveitados. Utilizar o horário eleitoral para fazer campanha de baixo nível, desqualificando adversários, ao invés de expor e debater as ideias e programas que podem melhorar a vida das pessoas, configura desperdício e desrespeito ao processo político e à sociedade.
Além disso, por mais importante que sejam a abertura, o aperfeiçoamento e a ampliação destes canais, a conquista do voto se dá menos em estúdios de gravação e mais nas ruas, através do contato pessoal com os cidadãos e do conhecimento de seus problemas e necessidades cotidianos.
 José Dirceu

Charge

Medidas de estímulo ao crescimento econômico terão efeito no 2º semestre

 

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, afirmou hoje (31), após ser recebido pela presidenta Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, que as medidas tomadas pelo governo para estimular o crescimento econômico terão efeito a partir do segundo semestre. Segundo ele, a indústria está se recuperando e há expectativa de crescimento do setor nos próximos meses.

"Nós enfrentamos muitas dificuldades no primeiro semestre, a presidenta conhece bem nossas dificuldades. As políticas que o governo tem adotado e apresentado como desoneração de folha de pagamento, desonerações tributárias, redução da taxa de juros, melhoria do câmbio, isso certamente vai dar um efeito agora a partir do segundo semestre. A expectativa que nós temos, por pesquisas realizadas com a indústria brasileira, é que a partir do ano que vem vamos estar crescendo em torno de 4,5%", disse Andrade.