Paulo Moreira Leite: cai outro mito

O mais novo mito das eleições municipais de 2012 informa que tivemos um alto número de brancos, nulos e abstenções. Até a presidente do TSE, Carmen Lucia, se disse preocupada com isso.

Como também tivemos um alto número de votos a favor dos candidatos do PT — partido que mais cresceu entre os grandes, tornou-se líder nacional de votos, além de levar o troféu maior que é São Paulo —  é fácil imaginar que há muita gente associando uma coisa a outra. 


Assim: baixa participação popular, alta votação para o partido de Lula. 

Nós sabemos aonde essa turma quer chegar, certo?

Querem dizer que a população está se cansando de votar.


Ainda bem que existem repórteres interessados em descobrir a verdade por baixo das aparências e do senso comum. Roldão Arruda revela, no Estado de hoje, que o problema não está na vontade de votar — mas no registro eleitoral. 


Em cidades onde o cadastro eleitoral não é atualizado, a contabilidade das  ausências produz números maiores. Uma consulta a votação nas capitais mostra isso. Em cidades como São Paulo e São Luiz, onde o cadastro não é atualizado há mais de 20 anos, a abstenção bateu em 20% entre os paulistanos e chegou a 22% entre os moradores da capital do Maranhão. 

Já em Curitiba, onde o cadastro foi feito há um ano, a abstenção fica em 10%. Os cadastros velhos mantém como eleitores aqueles cidadãos que já morreram, que se mudaram, que já não tem obrigação de votar. 

“Se todos os eleitores forem recadastrados, a abstenção tende a cair para 10%, soma razoável de pessoas doentes, que viajaram ou que tem mais de 70 anos e não querem mais votar,”afirma Jairo Nicolau, um dos mais respeitados estudiosos do comportamento do eleitor.

A má interpretação dos abstenções animou a turma que combate o voto obrigatório e pre
tende instituir o voto facultativo. 

Há bons argumentos a favor de uma coisa ou de outra mas é bom lembrar que a distribuição renda favorece o voto facultativo. Ou seja: nos países onde o voto é facultativo, há uma proporção maior de ricos que comparecem às urnas, por motivos fáceis de explicar. 

A  pessoa tem  mais recursos, mais tempo livre, mais facilidades de locomoção, mais facilidade para deixar o trabalho e exercer o direito de escolher o governante. 

Imagine o voto facultativo no interior de um estado pobre, dominado por nossos coronéis. Bastaria suspender o transporte nos bairros adversários para se ganhar uma eleição, não é mesmo?

Mulheres na janela

 


Olhar Digital: Facebook testa nova timeline


Facebook
O Facebook está testando novas mudanças do polêmico recurso da 'linha do tempo'. Alguns usuários já tiveram acesso à nova versão, que traz apenas uma coluna maior à esquerda com as atualizações e uma mais estreita na parte direita com outras informações sobre as atividades do usuário, bem como as atualizações de aplicativos.

Atualmente, quando o usuário rola a página para baixo, após passar pela parte de atividades recentes, amigos e aplicativos, à direita, o Facebook automaticamente preenche as duas colunas com posts. Com a nova versão, haverá um espaço em branco à direita assim que o usuário passar por esta parte.

A mudança é uma resposta direta a todas as críticas recebidas pelo Facebook pela implantação da timeline com duas colunas. Muitos usuários consideraram o recurso frustrante devido ao fato de precisarem dividir sua atenção conforme rolavam a página.

Reprodução

Com a nova versão, a linha que ficava no centro da página foi extinta, o que faz com que o design lembre muito menos uma "linha do tempo" no sentido literal. No entanto, as datas ainda estão no topo direito da página, facilitando o acesso a determinado período.

Segundo o Inside Facebook, representantes da rede social confirmaram que os testes estão sendo realizados com uma pequena porcentagem dos usuários, mas não forneceram mais detalhes.

Entrevista com a 1ª dama, Ana Estela Haddad


Trechos da entrevista
iG: No cenário atual, qual é o papel da mulher do prefeito e qual será a sua bandeira?
Ana Estela Haddad: Não existe um modelo pré-determinado para a atuação da primeira dama e os exemplos são os mais variados. Acredito que o principal é que, seja qual for a atuação da mulher, ela deve estar sintonizada e em harmonia com a forma de ser, com as crenças, que nada seja forçado ou artificial. Eu atuei como gestora e agora de volta à USP como docente e pesquisadora nas áreas da educação e na saúde. Não há dúvida de que a história e as atividades que já desenvolvemos influenciam nosso olhar sobre os problemas e a concepção de cidade com a qual sonhamos. Não pretendo estabelecer uma bandeira, mas buscar sempre o que é essencial e o que esteja ao meu alcance contribuir para o bem coletivo.
iG: Como o governo municipal pode atuar para diminuir as desigualdades entre homens e mulheres?
Ana Estela Haddad: De um lado as políticas públicas e de outro a sociedade civil organizada precisam estabelecer como valor e praticar na família, na educação dos filhos, nas relações de trabalho, a igualdade de gêneros. A situação de pobreza muitas vezes pode acentuar a violência e a desestruturação familiar, situação em que a desigualdade de gênero também se manifesta. As políticas públicas que combatem a miséria, que ampliam o acesso à educação e à saúde, seja em âmbito municipal, estadual, federal, ou preferencialmente de forma articulada entre as três esferas, podem sem dúvida contribuir para que nossa sociedade seja mais justa em relação à questão do gênero.
Educação e acesso ao planejamento familiar são o primeiro passo necessário[para atuar na questão do aborto] , ainda não acessíveis a uma parcela considerável dos adolescentes e das famílias
iG: As internações por aborto – sem contar os abortos espontâneos – superam as internações por câncer de mama. Como o governo municipal pode atuar nesta questão?
Ana Estela Haddad: Em primeiro lugar, a questão da saúde é uma das questões centrais e mais críticas a serem enfrentadas pela nova gestão municipal em São Paulo. Os desequilíbrios e carências são enormes. Os serviços não estão organizados em rede, nem distribuídos de forma equitativa na cidade. Então, seja qual for o problema de saúde considerado, é possível que sejam verificadas grandes distorções. A questão do aborto é um tema extremamente delicado e complexo, ainda por ser enfrentado na nossa sociedade. Como profissional de saúde compreendo a dimensão grave que estas ocorrências representam para a saúde pública e para a vida e integridade de cada mulher/família implicados. Educação e acesso ao planejamento familiar são o primeiro passo necessário, ainda não acessíveis a uma parcela considerável dos adolescentes e das famílias.
iG: A senhora participou do plano de governo? Se sim, quais foram suas contribuições?
Ana Estela Haddad: Acompanhei desde a etapa inicial da pré-campanha. Integrei o Grupo de Trabalho que construiu o capítulo da saúde. Realizamos mais de 20 reuniões, desde fevereiro deste ano, durante as quais traçamos um diagnóstico dos problemas e dificuldades atuais, e uma proposta abrangente para melhoria do acesso da população às ações de saúde em toda a rede de atenção. Vale ressaltar que a saúde é a área mais mal avaliada da atual gestão pela população paulistana. Realizamos também seminários temáticos tendo recebido a contribuição de aproximadamente 600 pessoas, entre trabalhadores da saúde, gestores e usuários do SUS. Minha contribuição foi principalmente na saúde bucal e na formação e educação permanente dos profissionais de saúde. Durante os últimos seis anos ocupei no Ministério da Saúde o cargo de Diretora de Gestão da Educação na Saúde, integrando a equipe que liderou um amplo processo de reorientação da formação em saúde no país.
iG: Que mulher a senhora tem como exemplo? Por quê?
Ana Estela Haddad: Não tenho um caso único como exemplo. O que geralmente me chama a atenção é o quanto determinado comportamento é natural ou artificialmente construído.
iG: A divisão entre carreira e maternidade ainda é um desafio para a mulher contemporânea?
Ana Estela Haddad: Acho que ainda é. Nas novas gerações, a divisão de tarefas dentro de casa e fora tem sido cada vez mais compartilhada de forma equilibrada. Mas nas camadas menos favorecidas da população é muito comum encontrar mulheres que são ao mesmo tempo a fonte de renda e assumem sozinhas todas as responsabilidades com a família.
iG: Qual barreira as mulheres ainda precisam superar na questão da igualdade dos gêneros?
Ana Estela Haddad: As mulheres que conseguem alcançar autonomia de renda e também emocional, e que ao mesmo tempo têm sua autoestima preservada, certamente estarão mais bem preparadas para se colocar em condição de igualdade com os homens.

Artigo semanal de Marcos Coimbra


O terceiro turno da eleição municipal começou antes mesmo de o segundo terminar. Enquanto os eleitores ainda votavam, a disputa pelo troféu do “grande vencedor” já estava em curso.
Políticos, lideranças partidárias, observadores e comentaristas entraram em campo desde a manhã de domingo, apresentando sua interpretação do “sentido da eleição” e decretando quais eram, a seu ver, os ganhadores e os perdedores.
Em política, como em várias coisas na vida, às vezes importa mais a versão que o fato. Adequadamente embalada, a narrativa sobre o ocorrido pode até prevalecer sobre o que efetivamente se passou.
É possível ganhar e ser derrotado, assim como perder e posar como vencedor. Depende, no fundo, de quão alto se bate o bumbo na propagação da versão que sobrepuja as outras.
Não que seja decisivo esse terceiro turno. No final da eleição municipal de 2008, por exemplo, a mídia se encheu de análises que afirmavam que o PMDB havia se tornado a “noiva cobiçada” na disputa presidencial seguinte.
Falso. O partido já era, desde a eleição legislativa de 2006, desejado como parceiro por petistas e tucanos, fundamentalmente por ter eleito a maior bancada na Câmara e ter vasto tempo de televisão. Não era por ter muitos prefeitos em cidades pequenas e algumas capitais que queriam se casar com ele.
Todos sabem que isso conta pouco na hora de ganhar a eleição para o Planalto. Pela simples razão que a maioria dos eleitores não acha relevante ouvir o prefeito quando escolhe o candidato a presidente.
Para as oposições e os setores da sociedade - e da imprensa - mais hostis ao que chamam lulopetismo, o terceiro turno da eleição recém concluída está sendo complicado.
De um lado, precisam reduzir o significado do desempenho objetivo de Lula e do PT, especialmente em função do resultado em São Paulo. De outro, têm que produzir “vencedores”, nem que seja às custas de alguma prestidigitação.
O fato é as eleições foram ruins para as oposições. Em especial, para o PSDB.
De 2004 para cá, o total de prefeitos que elegeu, junto com o DEM e o PPS, caiu quase à metade. O número de vereadores diminuiu - apesar do aumento de vagas. Suas bases municipais, tão necessárias para a eleição legislativa, estão se esgarçando ano após ano.
O PSBD não fez, em 2012, o prefeito de nenhuma das 7 capitais das regiões Sul e Sudeste – sequer apresentou candidato em 3 e foi derrotado em 4. No segundo turno, ganhou apenas 5 prefeituras nas 34 cidades dessas regiões que o realizaram.
Saiu-se bem na região Norte e em algumas capitais menores do Nordeste.
Em São Paulo, foi derrotado na capital e viu o PT vencer em 7 das 10 maiores cidades do estado.
Na tentativa de desqualificar a vitória de Fernando Haddad, começou a circular, desde a semana passada, a tese de que é de Serra a responsabilidade exclusiva pela debacle. Que, em outras palavras, o único derrotado foi ele.
Dizer, no entanto, que “A culpa é do Serra!” – como até Kassab se apressa em declarar – expressa apenas parte da verdade.
O que foi julgado e reprovado o ultrapassa: um discurso, uma proposta de governo, uma “turma”. O eleitorado da cidade rejeitou mais que um indivíduo.
Os problemas do PSDB preocupam a democracia. Quando a oposição legítima se enfraquece, abre-se o caminho para toda sorte de fantasia extra-política. É nesse vazio que viceja o golpismo.
Quem perde a esperança de vencer na urna faz de tudo para levar o jogo para o tapetão.