247 - RESISTÊNCIA DE DILMA E SEU GOVERNO INTRIGA OPOSIÇÃO

No frigir dos ovos das últimas pesquisas, sobressai dificuldade da oposição em galvanizar para um de seus candidatos os desgastes do governo da presidente Dilma Rousseff; permanência de cenário de vitória em primeiro turno contraria prognósticos da oposição, que apostava, para esta altura do campeonato, ao menos em aproximação maior com a líder; Dilma, e também o ex-presidente Lula, perderam pontos, mas a questão para os adversários Aécio Neves e Eduardo Campos é que eles não cresceram; percentual de intenções de votos brancos e nulos cresceu, aumentando o desafio da oposição de atrair para si – e não deixar cair no vazio – o voto do contra; como fazer?

247 – Os números das pesquisas eleitorais não estão especialmente bons para nenhum dos presidenciáveis e não presidenciáveis estampados no noticiário político. Mas entre os pré-candidatos Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos, e o "me sinto realizado" ex-presidente Lula, alguém vai ter de ganhar as eleições de outubro. Por mais ou menos que se torça para uma ou outro, é forçoso revelar o que não transparece em análises à disposição na mídia tradicional: a resistência do governo e de sua política econômica ao cerco de números e críticas é maior do que se pensava.

No resumo de resultados das últimas pesquisas Ibope e Vox Populi, o que se tem, ainda e mais uma vez, é a vitória em primeiro turno da presidente Dilma Rousseff. Ela alcança um índice próximo aos 60 por cento das intenções de votos válidos. A parte essa fotografia, vê-se mais detidamente a elevação das declarações de votos brancos e nulos, que já seriam a segunda força da eleição. Também se observou uma diminuição das intenções de voto a Lula, que estaria somente quatro pontos acima de Dilma no Ibope. Houve seguidos destaques sobre a queda da avaliação do governo federal, que chegaria agora ao menor nível, com 36% de ótimo e bom na pesquisa CNI - contra 43% no levantamento anterior – e um recorde de 27% de avaliações ruim e péssimo. Está posto, então, que o governo se desgastou.

Mesmo com todos esses ingredientes a favor, porém, por que raios a oposição a Dilma não cresce. No Ibope, o presidenciável tucano Aécio Neves conseguiu, com 14% de intenções, um ponto a mais do que na pesquisa anterior, e Eduardo Campos manteve 8%. O fato político maior, neste momento, está aqui. Não falta exposição para Aécio e Campos. Ambos são políticos de longa cepa, conhecidos de longa data do público. Será que a questão deles com o que as pesquisas mostram nesse momento é exatamente essa?

Lançado por FHC, Aécio faz questão de relembrar e defender o governo do ex-presidente, prestigiar alianças as mais variadas entre as oposições e empreender uma dura luta parlamentar contra o governo Dilma. O presidente do PSDB, em franca atividade, vai mostrando o melhor de si mesmo, mas igualmente sofre com revéses alheios à sua vontade. É difícil descolar a imagem do partido ao escândalo Alstom-Siemens de distribuição de propinas em São Paulo ou livrar o candidato da crítica à escolha do ex-ministro Pimenta da Veiga ao governo de Minas. Sabia-se que Pimenta era vulnerável, mas o comando do partido não levou esse componente em consideração. O PSDB, com o atual discurso, ainda não ganhou os pontos que já esperava obter a esta altura do campeonato.

O presidenciável Eduardo Campos anuncia, agora de casamento consolidado com a ex-ministra Marina Silva, que irá percorrer 150 municípios para buscar seu mais conhecido. Dele pode-se dizer que ainda não está no domínio do eleitorado das regiões Sudeste e Sul, especialmente, mas mesmo onde tem seu berço político, no populoso Nordeste, Campos consegue obter mais intenções do que Dilma. E muito menos frente a Lula.

Um fenômeno, se se quer achar algum a esta altura da eleição, é a incapacidade mostrada até aqui pela oposição de galvanizar as agruras do governo num voto de troca. No frigir dos ovos das pesquisas, o governo que é criticado continua a ser o representante da mudança. Os números das pesquisas mostram essa situação ambígua, porém real. Todos os levantamentos tem colocado sempre, e sem incômodos até aqui, desde o início da atual gestão federal, Dilma e Lula na liderança, com índices altos o suficiente para vencerem quaisquer outros em primeiro turno.

Os ataque da oposição ao governo – e as críticas veiculadas pela mídia tradicional à política econômica – não são novidades. Este cenário está dado há pelo menos dois anos. A novidade é que o governo, Dilma e Lula se mostram bem mais resistentes do que gostariam seus adversários.

Nenhuma novidade



Como já estava previsto, o ababosado, abestalhado, abobado, abobalhado, abobarrado, acanhotado, alarve, alonso, alvar, alvarinho, apalermado, aparvado, aparvalhado, aparvanhado, apatetado, apombocado, apoucado, arara, aruá, asneirão, asneirento, asneirista, atolado, atolambado, atoleimado, azêmola, babaca, babanca, babão, babaquara, baboso, badana, badó, bajoujo, basbaque, bate-orelha, belarmino, beldroegas, beliz, bertoldo, bestalhão, bestiaga, bestiola, bobo, bobó, boboca, bocó, boleima, bolônio, boquiaberto, boto, broco, calino, cândido, capadócio, cepo, chapetão, coió, crédulo, curto, débil, enxovedo, escroto, estólido, estulto, estúpido, fátuo, gaivota, girolas, hebetado, hebetizado, idiota, imbecil, incapaz, inepto, inexperiente, inhenho, inocente, intelijumento, jegue, jerico, jumento, lamecha, lapardão, lapardeiro, lapuz, lorpa, mandu, mané, mané-coco, mané do jacá, mané-jacá, manema, manembro, manicaca, maninelo, marinelo, maroto, marruá, mazanza, mentecapto, molongó, obtuso, orelhudo, otário, paca, pacóvio, pai-mané, paio, palerma, palonço, palúrdio, pancrácio, pandorga, papalvo, parrana, parvajola, parvalhão, parvo, párvulo, pascácio, pasmado, paspalhão, paspalho, pataco, pataloco, pataloto, patamaz, patarata, pataroco, patau, pateta, patocho, patureba, paturega, pengó, pongó, prego, primário, puro, raca, sambanga, sandeu, sandio, sarambé, saranga, sarango, simples, simplório, soronga, sorongo, tacanho, tanso, tapado, toleirão, tonto, trouxa, urumbeba, urumbeva, xexé, zamboa, zote, zuco do Reinaldo Azevedo tinha que vomitar suas merdas acerca de García Márquez. 
Sempre peço a meu pai Xangô que nunca me faça chegar perto desse verme!
Marcos Bagno

Aprendi

Aprendi com os erros, que não errar é melhor 

Com os amigos, que nem todos são sinceros
Com o trabalho, que fazer o que gosta é o que te faz feliz
Comigo mesma, achar a saída pra não se perder. 

Aprendi a não se magoar, menos ainda guardar mágoas.

Aprendi a lutar e me defender muito bem, do mal !

Não aprendi a derrubar ninguém para alcançar vitórias.

Luto, venço sem precisar que meu adversário esteja no 
chão.

Vencer é encarar o vencido de pé, olho no olho !

Leônia Teixeira

Paulo Moreira Leite - Dirceu na Comissão da Verdade

Brutalidade contra Dirceu é uma tentativa de nos convencer de que não adianta reagir

Num país que levou um mais de 40 anos para constituir uma Comissão da Verdade para apurar os crimes do passado do regime militar, talvez seja o caso de pedir a abertura de um novo item de sua pauta para investigar ataques aos direitos humanos que tem sido cometidos nos dias de hoje. O primeiro nome é José Dirceu.

O caso é exemplar.

Embora nunca tenha recebido, em forma definitiva, uma sentença em regime fechado, o esforço para impedir Dirceu de respirar  o oxigênio que só se encontra fora de uma prisão foi reforçado. Tudo se move para impedir que ele possa sair  à rua, caminhar como uma pessoa durante oito horas por dia,  trabalhar como um cidadão, conversar com homens e mulheres que não são nem carcereiros, nem advogados, nem parentes tensos, de olhos úmidos, nas horas tensas de visita.

Como se fosse um delírio, assistimos a um ato de terrorismo que não ousa dizer o seu nome, mas não pode ser definido de outra forma.

Ou como você vai definir um pedido de grampo telefônico que envolve o palácio da Presidência da República, o Congresso?  Vamos fingir que é um ataque à privacidade de Dilma Rousseff, constranger 513 parlamentares, humilhar onze ministros, apenas para  maltratar os direitos de Dirceu?

Não. É um esforço para rir do regime democrático, gargalhar sobre a divisão de poderes, atingir um poderes emanam do povo e em seu nome são exercidos. 

Pensando em nossos prazos históricos, eu me pergunto se vale à pena deixar para homens e mulheres de 2050 a responsabilidade de coletar informações para apurar fatos desconhecidos  e definir responsabilidades pelo tratamento abusivo e injusto que tem sido cometido contra Dirceu.

Sim, Dirceu foi um entre tantos combatentes que a maioria de nós não pode conhecer pelo nome nem pelo rosto, lutadores corajosos daquele Brasil da ditadura.

Depois de ajudar a liderar um movimento de estudantes que impediu, por exemplo, que o ensino brasileiro fosse administrado por pedagogos do governo norte-americano, Dirceu tomou parte da vitória do país inteiro pela democracia. Sem abandonar jamais uma ternura pelo regime de Fidel Castro que ninguém é obrigado a  partilhar, mostrou-se um líder político capaz de negociar com empresários, lideranças da oposição e governantes estrangeiros.

Hoje ele se encontra no presídio da Papuda, impedido de exercer direitos elementares que já foram reconhecidos pelo ministério público e até pelo serviço Psicossocial. Trabalha na biblioteca. Já se ofereceu para ajudar na limpeza.

Sua situação é dramática mas ninguém precisa esperar até 2050 para tentar descobrir que há alguma coisa errada, certo? 

Basta caráter. Em situações políticas determinadas, este pode ser o  dado decisivo da situação politica. Pode favorecer ou pode prejudicar os direitos das vítimas e também iluminar a formação das novas gerações. Os direitos humanos elementares, as garantias sobre a vida e a liberdade, costumam depender disso com frequência.

Vejam o que aconteceu com o general José Antônio Belham. Em 1971, ele exibia a mais alta patente na repartição militar onde Rubens Paiva foi morto sob torturas.

Quando precisou explicar-se, 43 anos mais tarde, Belham afirmou que não se encontrava ali. Estava de ferias. Acabou desmentido de forma vergonhosa. Consultando suas folhas de serviços, a Comissão da Verdade concluiu que o general não era verdade. Ele não só estava lá como recebera os proventos devidos pelo serviço daqueles dias.

Esse é o problema. Ninguém é obrigado a ser herói. Como ensina Hanna Arendt, basta cumprir seu dever. Caso contrário, a pessoa se deixa apanhar numa situação que envergonha a mulher, os filhos, os netos – sem falar nos amigos dos filhos, nos amigos dos netos. Nem sempre é possível livrar-se do vexame de prestar contas pela própria história.

Lembra daquele frase comum em filmes de gangster, quando o herói recebe uma advertência criminosa: "você vai se arrepender de estar vivo?"  Isso também pode acontecer com pessoas que não tem caráter. 

Imagine como vai ser difícil, para homens e mulheres de 2050, explicar seu silêncio diante de tantos fatos que envolvem o tratamento dispensado a Dirceu. Ele foi cassado em 2005 por "quebra de decoro parlamentar", essa acusação que, sabemos há mais de meio século, é tão subjetiva que costuma ser empregada para casos de vingança e raramente serviu para fazer justiça --  porque dispensa provas e fatos, vale-se apenas de impressões e convenções sociais que, como se sabe, variam em função de tempo e lugar, de pessoa, de geração e até classe social.

Em 2012, não se encontrou nenhuma prova capaz de envolver Dirceu no esquema de arrecadação e distribuição de recursos financeiros para as campanhas do PT. A necessidade de garantir sua punição de qualquer maneira explica a importação da teoria do domínio do fato. Inventaram uma quadrilha porque era preciso condenar Dirceu como seu chefe  mas o argumento não durou dois anos. Depois que o STF concluiu que não havia crime de quadrilha, ficou difícil saber qual era a atuação real de Dirceu nessa fantasia.

Pensa que o Estado brasileiro pediu desculpas, numa daquelas solenidades que nunca receberão a atenção merecida, com as vítimas dos torturadores do  pós-64? Pelo contrário. O sofrimento imposto a Dirceu aumentou, numa forma perversa de punição.

Numa sequencia da doutrina Luiz Fux, que disse no STF que os acusados devem provar sua inocência, coube-lhe tentar provar o que não falou ao celular com um Secretário de Estado da Bahia.

Foi invadido em sua privacidade, desrespeitado em seus direitos humanos. Para que? É um espetáculo didático.

Como cidadão, tenta-se fazer Dirceu cumprir a função de ser humilhado em publico – ainda que boa parte do público não se dê conta de que ele próprio também está sendo ultrajado. Através desse espetáculo, tenta-se enfraquecer quem reconhece seu papel político,  quem reconhece uma injustiça – e precisa ser convencido de que não adianta reagir para tentar modificar essa situação.

Não poderia haver lição mais reacionária, própría daqueles homens que fogem da Comissão da Verdade com mentirinhas e desculpas vergonhosas. Não se engane: o esforço para inocular um sentimento de fraqueza em cidadãos e homens do povo é próprio das ditaduras. Fazem isso pela força -- e pela demonstração de força. 

Outra razão é política. Tenta-se demonstrar que o sistema penitenciário do governo do Distrito Federal – cujo governador é do PT como Dirceu e todos os réus dessa história, você sabe -- não é capaz de cuidar dele, argumento sob medida para que seja conduzido a uma prisão federal, onde não poderá cumprir o regime semiaberto.

Este é o objetivo. Vai ser alcançado? Não se sabe.

Animal consciente dos estados de opressão, o que distingue os homens dos vegetais – e de alguns animais inferiores – é o reconhecimento da liberdade.

O que se quer é encontrar uma falta disciplinar grave, qualquer uma, que sirva como pretexto para revogar os  direitos de Dirceu. Pretende-se obter uma regressão de sua pena e conseguir aquilo que a Justiça não lhe deu, apesar do show – o regime fechado.

Isso acontece porque o projeto, meus amigos, é o ostracismo – punição arcaica, típica dos regimes absolutistas. Você lembra o que disse Joaquim Barbosa:  

"Acho que a imprensa brasileira presta um grande desserviço ao país ao abrir suas páginas nobres a pessoas condenadas por corrupção. Pessoas condenadas por corrupção devem ficar no ostracismo. Faz parte da pena".

  Imagine a maldade que é deixar tudo isso para os homens e mulheres de 2040. Imagine as páginas nobres da imprensa, dos jornais, das revistas. Pense como vai ser difícil, para os leitores do futuro,  entender o que Joaquim Barbosa quis dizer com isso.

Mais uma vez teremos uma página horrenda da história e cidadãos perplexos a perguntar: como foi possível? O que se queria com tudo aquilo?

E, mais uma vez, num sinal de que se perdeu todo limite, vamos pedir desculpas. As futuras gerações merecem um pouco mais, concorda?   

Não precisam encarar esta derrota colossal de todos que lutaram  com tanta coragem pela democracia. 

Paulo Moreira Leite - Dirceu na Comissão da Verdade

Brutalidade contra Dirceu é uma tentativa de nos convencer de que não adianta reagir

Num país que levou um mais de 40 anos para constituir uma Comissão da Verdade para apurar os crimes do passado do regime militar, talvez seja o caso de pedir a abertura de um novo item de sua pauta para investigar ataques aos direitos humanos que tem sido cometidos nos dias de hoje. O primeiro nome é José Dirceu.

O caso é exemplar.

Embora nunca tenha recebido, em forma definitiva, uma sentença em regime fechado, o esforço para impedir Dirceu de respirar  o oxigênio que só se encontra fora de uma prisão foi reforçado. Tudo se move para impedir que ele possa sair  à rua, caminhar como uma pessoa durante oito horas por dia,  trabalhar como um cidadão, conversar com homens e mulheres que não são nem carcereiros, nem advogados, nem parentes tensos, de olhos úmidos, nas horas tensas de visita.

Como se fosse um delírio, assistimos a um ato de terrorismo que não ousa dizer o seu nome, mas não pode ser definido de outra forma.

Ou como você vai definir um pedido de grampo telefônico que envolve o palácio da Presidência da República, o Congresso?  Vamos fingir que é um ataque à privacidade de Dilma Rousseff, constranger 513 parlamentares, humilhar onze ministros, apenas para  maltratar os direitos de Dirceu?

Não. É um esforço para rir do regime democrático, gargalhar sobre a divisão de poderes, atingir um poderes emanam do povo e em seu nome são exercidos. 

Pensando em nossos prazos históricos, eu me pergunto se vale à pena deixar para homens e mulheres de 2050 a responsabilidade de coletar informações para apurar fatos desconhecidos  e definir responsabilidades pelo tratamento abusivo e injusto que tem sido cometido contra Dirceu.

Sim, Dirceu foi um entre tantos combatentes que a maioria de nós não pode conhecer pelo nome nem pelo rosto, lutadores corajosos daquele Brasil da ditadura.

Depois de ajudar a liderar um movimento de estudantes que impediu, por exemplo, que o ensino brasileiro fosse administrado por pedagogos do governo norte-americano, Dirceu tomou parte da vitória do país inteiro pela democracia. Sem abandonar jamais uma ternura pelo regime de Fidel Castro que ninguém é obrigado a  partilhar, mostrou-se um líder político capaz de negociar com empresários, lideranças da oposição e governantes estrangeiros.

Hoje ele se encontra no presídio da Papuda, impedido de exercer direitos elementares que já foram reconhecidos pelo ministério público e até pelo serviço Psicossocial. Trabalha na biblioteca. Já se ofereceu para ajudar na limpeza.

Sua situação é dramática mas ninguém precisa esperar até 2050 para tentar descobrir que há alguma coisa errada, certo? 

Basta caráter. Em situações políticas determinadas, este pode ser o  dado decisivo da situação politica. Pode favorecer ou pode prejudicar os direitos das vítimas e também iluminar a formação das novas gerações. Os direitos humanos elementares, as garantias sobre a vida e a liberdade, costumam depender disso com frequência.

Vejam o que aconteceu com o general José Antônio Belham. Em 1971, ele exibia a mais alta patente na repartição militar onde Rubens Paiva foi morto sob torturas.

Quando precisou explicar-se, 43 anos mais tarde, Belham afirmou que não se encontrava ali. Estava de ferias. Acabou desmentido de forma vergonhosa. Consultando suas folhas de serviços, a Comissão da Verdade concluiu que o general não era verdade. Ele não só estava lá como recebera os proventos devidos pelo serviço daqueles dias.

Esse é o problema. Ninguém é obrigado a ser herói. Como ensina Hanna Arendt, basta cumprir seu dever. Caso contrário, a pessoa se deixa apanhar numa situação que envergonha a mulher, os filhos, os netos – sem falar nos amigos dos filhos, nos amigos dos netos. Nem sempre é possível livrar-se do vexame de prestar contas pela própria história.

Lembra daquele frase comum em filmes de gangster, quando o herói recebe uma advertência criminosa: "você vai se arrepender de estar vivo?"  Isso também pode acontecer com pessoas que não tem caráter. 

Imagine como vai ser difícil, para homens e mulheres de 2050, explicar seu silêncio diante de tantos fatos que envolvem o tratamento dispensado a Dirceu. Ele foi cassado em 2005 por "quebra de decoro parlamentar", essa acusação que, sabemos há mais de meio século, é tão subjetiva que costuma ser empregada para casos de vingança e raramente serviu para fazer justiça --  porque dispensa provas e fatos, vale-se apenas de impressões e convenções sociais que, como se sabe, variam em função de tempo e lugar, de pessoa, de geração e até classe social.

Em 2012, não se encontrou nenhuma prova capaz de envolver Dirceu no esquema de arrecadação e distribuição de recursos financeiros para as campanhas do PT. A necessidade de garantir sua punição de qualquer maneira explica a importação da teoria do domínio do fato. Inventaram uma quadrilha porque era preciso condenar Dirceu como seu chefe  mas o argumento não durou dois anos. Depois que o STF concluiu que não havia crime de quadrilha, ficou difícil saber qual era a atuação real de Dirceu nessa fantasia.

Pensa que o Estado brasileiro pediu desculpas, numa daquelas solenidades que nunca receberão a atenção merecida, com as vítimas dos torturadores do  pós-64? Pelo contrário. O sofrimento imposto a Dirceu aumentou, numa forma perversa de punição.

Numa sequencia da doutrina Luiz Fux, que disse no STF que os acusados devem provar sua inocência, coube-lhe tentar provar o que não falou ao celular com um Secretário de Estado da Bahia.

Foi invadido em sua privacidade, desrespeitado em seus direitos humanos. Para que? É um espetáculo didático.

Como cidadão, tenta-se fazer Dirceu cumprir a função de ser humilhado em publico – ainda que boa parte do público não se dê conta de que ele próprio também está sendo ultrajado. Através desse espetáculo, tenta-se enfraquecer quem reconhece seu papel político,  quem reconhece uma injustiça – e precisa ser convencido de que não adianta reagir para tentar modificar essa situação.

Não poderia haver lição mais reacionária, própría daqueles homens que fogem da Comissão da Verdade com mentirinhas e desculpas vergonhosas. Não se engane: o esforço para inocular um sentimento de fraqueza em cidadãos e homens do povo é próprio das ditaduras. Fazem isso pela força -- e pela demonstração de força. 

Outra razão é política. Tenta-se demonstrar que o sistema penitenciário do governo do Distrito Federal – cujo governador é do PT como Dirceu e todos os réus dessa história, você sabe -- não é capaz de cuidar dele, argumento sob medida para que seja conduzido a uma prisão federal, onde não poderá cumprir o regime semiaberto.

Este é o objetivo. Vai ser alcançado? Não se sabe.

Animal consciente dos estados de opressão, o que distingue os homens dos vegetais – e de alguns animais inferiores – é o reconhecimento da liberdade.

O que se quer é encontrar uma falta disciplinar grave, qualquer uma, que sirva como pretexto para revogar os  direitos de Dirceu. Pretende-se obter uma regressão de sua pena e conseguir aquilo que a Justiça não lhe deu, apesar do show – o regime fechado.

Isso acontece porque o projeto, meus amigos, é o ostracismo – punição arcaica, típica dos regimes absolutistas. Você lembra o que disse Joaquim Barbosa:  

"Acho que a imprensa brasileira presta um grande desserviço ao país ao abrir suas páginas nobres a pessoas condenadas por corrupção. Pessoas condenadas por corrupção devem ficar no ostracismo. Faz parte da pena".

  Imagine a maldade que é deixar tudo isso para os homens e mulheres de 2040. Imagine as páginas nobres da imprensa, dos jornais, das revistas. Pense como vai ser difícil, para os leitores do futuro,  entender o que Joaquim Barbosa quis dizer com isso.

Mais uma vez teremos uma página horrenda da história e cidadãos perplexos a perguntar: como foi possível? O que se queria com tudo aquilo?

E, mais uma vez, num sinal de que se perdeu todo limite, vamos pedir desculpas. As futuras gerações merecem um pouco mais, concorda?   

Não precisam encarar esta derrota colossal de todos que lutaram  com tanta coragem pela democracia. 

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