O Tinder não torna as pessoas prosmíscuas

...apenas revela quem é

O Tinder tem sido muito comentado ultimamente. É um aplicativo para smartphone que te ajuda a conhecer gente. Funciona assim: você determina um raio desejado de distância. “Eu quero conhecer pessoas num raio de 2 km”, por exemplo. Vai de 2 a 150 km.
Você também diz se é menino ou menina, interessado em meninos ou meninas. Ele faz a matemática para você (nem sempre acerta, mas em geral, sim).
Isto resolvido, ele funciona assim: vai aparecer uma foto de uma pessoa. Você aperta o coraçãozinho ou o X, que significam o óbvio. Se você apertou coração para a pessoa e a ela também apertou coração pra você, abre um bate papo entre vocês.
É mais ou menos isso. Mas na prática, o Tinder é um bar. Nada mais que isso.
Voltemos para o começo: a maior parte das pessoas acha que vai a uma pista de dança para dançar. Não vai. É para sentir prazer sexual, em qualquer nível de consciência e de intensidade que seja.
A dança livre, essa que a gente dança sozinho com os movimentos que dá vontade de fazer, é uma simulação inconsciente de sexo. É por isso que dançar no quarto não é a mesma coisa que dançar numa pista. A pista oferece proximidade humana, troca de feromônios, troca de olhares e tudo mais que tem a ver com sexo, e é isso que vai te deixar com a sensação de satisfação na hora de ir embora.
Por mais que no nível consciente a pessoa realmente não tenha interesse em sair para pegar ninguém (isso pode perfeitamente ser verdade), existe essa questão inconsciente. Do nosso lado animal, isso é basicamente comandado pela possibilidade de reprodução.
Senão, como já disse, nós dançaríamos em casa.
E então aparecem os sites e aplicativos de encontros, e algumas pessoas começam a dizer que nós estamos ficando mais promíscuos por causa deles. Um deles é o Tinder.
Não!
Mas nem de perto.
Nós sempre fomos promíscuos. Apenas temos uma ferramenta que nos ajudam a ser o que sempre fomos.
O Tinder faz exatamente a função de um bar, uma balada, uma antessala de cinema, uma livraria.
Dez anos atrás, se você tivesse algum impulso sexual (por mais inconsciente que fosse) você ia a um lugar desses. Um bar, digamos. O bar nunca existiu para que você tomasse cerveja. Cerveja é mais barata no supermercado. Ele é um agenciador de pessoas. É um lugar onde elas se encontram, ou se conhecem, ou ambos.
Então, com sorte, você conhecia uma pessoa nesse bar, se dava bem com ela, e ia para casa se fosse o caso.
Na era do Tinder, o agenciador é o aplicativo. Mas a pessoa que está na outra ponta é exatamente a mesma. Tem as mesmas aspirações, inseguranças e desejos. A pessoa que está no Tinder provavelmente é aquela que passa por você na rua, senta ao seu lado no metrô, espera atrás de você na fila do supermercado.
Porque é legal conhecer alguém num parque, num vernissage e não no Tinder? O fato é que não é pior, por mais que pareça. Só ainda não é romantizado. Nosso cinema, nossas músicas, nossas artes ainda falam sobre bares, restaurantes, parques, etc. Algum dia, vão falar sobre os Tinders.
Mas voltemos à promiscuidade: no Tinder, você tem contato com muito mais gente. Agora responda: é mais fácil encontrar uma pessoa que tenha o mesmo desejo que você num grupo de um bar ou no grupo de um bairro?
Assim, não duvido que se faça mais sexo através do Tinder do que sem ele. Mas não é porque você se tornou um puto. Você sempre foi. Só que não encontrava uma pessoa com fetiche por pés em todo lugar que queria. Agora, você encontra.
É verdade que, de algum forma, isso banaliza o sexo. Mas que ótimo, afinal. Isso é muito mais próximo da natureza humana do que todos os costumes que há anos imperam nas nossas sociedades – a começar pelo hábito de usar roupas.
O Tinder não nos torna anormais. Nos torna muito mais normais do que nós jamais fomos.
Somos todos putas. Ainda bem.
Sobre o Autor
Emir Ruivo é músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London. Produziu algumas dezenas de álbuns e algumas centenas de singles. Com sua banda, Aurélios, possui dois álbuns lançados pela gravadora Atração. Seu último trabalho pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=dFjmeJKiaWQ

Eleição 2014 - Eduardo Campos se aliou ao atraso em Pernambuco pela “nova política” no Brasil


Por Gregório Silva*, de Recife, especial para Escrevinhador

É infortúnio afirmar que política não é futebol. Observar as movimentações, estratégias e táticas é um exercício instigante. Pena, também, que a esquerdinha brasileira não joga como o time do Chile, que ao observar o modelo de jogo da Espanha, atacou. A Espanha perdeu para ela mesma. Perdeu para o modelo e a permanência no errôneo modelo.

A política com p minúsculo tem uma movimentação própria, às vezes presumíveis, às vezes surpreendentes. O rei sem trono Eduardo Campos não consegue emplacar o filho na Presidência da Juventude do seu partido… É o jogo neste feudo.

A política com p minúsculo ficou igual à plástica do futebol plástico. Um jogo de patrocínios canalizados por grupos econômicos com interesses próprios, que utilizam a regra do jogo como meio para adquirir um poder exclusivo de administrar o Estado. Quando as regras são alteradas com o jogo acontecendo, dá a moléstia dos cachorros.

Em Pernambuco, esse jogo é mais claro. A candidatura de Eduardo Campos é uma tragédia. Começa e logo vem uma greve da Polícia Militar e um assessor de comunicação publica uma foto do candidato em um jatinho; outro no twitter escreve “vai ter coca Aécio” e é demitido.

Paulo Câmara, candidato imposto por Campos ao governo de Pernambuco, concede uma entrevista e faz propaganda da construção de três hospitais e seis UPAs.

Logo depois, o ex-secretário de saúde de Pernambuco, Antonio Carlos Figueira, foi questionado sobre os detalhes dessas ações na área de saúde. E afirmou que não sabia da construção dessas unidades de saúde…

E por último, para ficar aqui, com a frase “podemos apoiar qualquer um ou nos abster”, a prima Marília Arraes deixa transparecer o nível de contradição interna que vive o PSB hoje.

Pode isso, Arnaldo? Pode. Pode porque a regra é clara quando se vende e se compra o patrimônio político como quem compra e vende o voto. É a lógica do mercado: se tem quem compre, tem quem venda. Nas eleições, são moedas distintas como cargos e tempos de TV.

Eduardo Campos representa uma tragédia porque se aliou com o que é mais atrasado do Velho Mundo, em nome da “nova política” no Brasil. Leia a matéria completa »

Álbum de figurinhas

Para Francisco, a Copa não existe mais

Postado ao lado da cratera onde há pouco mais de duas semanas ficava a escadaria da Rua Guanabara, à beira da Via Costeira de Natal, o comerciante Francisco Gomes de Souza observa o trabalho da Defesa Civil e evita fazer contas. A casinha verde de dois quartos, sala, cozinha, banheiro e um barracão que alugava para duas famílias de inquilinos não existe mais – assim como outras 34 de seus vizinhos no bairro Mãe Luíza.
As chuvas ininterruptas dos dias 13 e 14 de junho tiraram a alegria das ruas decoradas da vizinhança em que vive há 44 anos logo após o pontapé inicial da Copa do Mundo. O que começou com o vazamento de uma manilha de água e esgoto se transformou numa erosão que consumiu casas, carros, motos, móveis e eletrodomésticos, apesar de não causar nenhuma vítima fatal entre as famílias da região. A Prefeitura decretou estado de calamidade.
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Abrigado na casa que possui na rua Atalaia, imediatamente acima do desastre, o potiguar decidiu manter abertas as portas do Mercadinho Irmã Rejane, que funciona no mesmo local. Mas os parentes foram embora. Disposto a permanecer para guardar o estoque, os freezers e tentar diminuir o prejuízo, mandou a mulher, os quatro filhos, a nora e os três netos para o Conjunto Cidade Satélite, a 13 quilômetros de distância.
E apesar da camisa amarela com detalhes em verde, do calção azul e dos chinelos na mesma cor ornados com a bandeira do Brasil, a torcida de Francisco não poderia estar mais longe dos gramados. Tudo o que ele espera é que seu comércio e as dezenas de casas interditadas que agora povoam a região não sejam tragados por novas chuvas e possíveis deslizamentos de terra.
Eu fiz um voto com Deus. Para que Ele resolvesse esse problema aqui, eu não vou assistir nem um jogo da Copa não. A pior Copa que eu já vi na minha vida foi essa, só trouxe azar pra nós.
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***
Uma Copa do Mundo se faz com pessoas.
As que entram em campo, as que viajam para testemunhá-la, as que enchem as ruas, as que se voluntariam, as que torcem e as que veem no evento uma oportunidade para garantir seu sustento ou para extravasar.
A seção “Álbum de Figurinhas” pretende contar, com um microrrelato artesanal e um retrato por dia, a história de algumas dessas pessoas, muitas vezes invisíveis, que povoam os bastidores da Copa do Mundo do Brasil.
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Para ler todos os textos, basta entrar no nosso Álbum de Figurinhas.
Ismael dos Anjos


É mineiro, jornalista, fotógrafo, devoto de Hunter Thompson e viciado em internet. Quanto mais abas abertas, melhor.

Outros artigos escritos por 

Distribuição de renda

Uma controvérsia voltou à tona nas últimas semanas. Afinal, o ciclo lulista distribuiu ou concentrou renda? De acordo com reportagem publicada nesta quinta (26) pelo "Valor" (bit.ly/vecdes), a fatia apropriada no Brasil pelo 1% mais rico da população não caiu entre 2000 e 2010. Tal faixa abocanhava cerca de 17% da renda nacional no início do século 21, e continuava a fazê-lo uma década depois. Estaria provado, então, que não houve redistribuição no período petista?
O primeiro impulso é responder que sim, mas a questão é mais complicada. A depender do lugar em que se decida fazer o corte estatístico, aparecem aspectos contraditórios da realidade. A reportagem, assinada por Denise Neumann, mostra que se tomarmos a renda dos 10% mais ricos, veremos que caiu de 51% para 48% do total no período considerado.
Mais ainda. A proporção subtraída do que se convenciona chamar de classe média tradicional parece ter ido parar no bolso dos pobres. A jornalista indica que os 60% pior aquinhoados tiveram os seus rendimentos elevados, indo de 18% para 22%. Desse ângulo, houve ou não distribuição de renda? O impulso é responder que sim.
Uma hipótese plausível é que tenham ocorrido as duas coisas ao mesmo tempo: enquanto a imensa massa dos pobres via a própria renda crescer, ainda que de maneira moderada e a partir de um ponto inicial muito baixo, a classe média perdia algo, produzindo-se, assim, um efeito distributivo, ainda que seja visível a desproporção: 10% detêm 48% da renda; 60% ficam com 22%.
Por outro lado, os mais ricos dentro da classe média (o 1%) não perderam nada. Pode-se supor até que no interior do segmento rico houve concentração, ou seja, os megarricos ficando ainda mais poderosos.
Um exemplo interessante, embora posterior ao período até aqui observado: apenas em 2013 o número de bilionários brasileiros aumentou em 50%, passando de 43 para 65, de acordo com a revista "Forbes". Ou seja, o patrimônio estaria se concentrando na ponta da ponta da ponta.
É possível, assim, que a mesma tendência detectada por Thomas Piketty em escala mundial tenha se dado por aqui, embora simultaneamente houvesse ocorrido um movimento distributivo do meio para baixo. Em resumo, teria havido uma melhora nas pontas, com uma piora relativa no setor intermediário. Note-se que enquanto de um lado cresceu o número de bilionários, de outro a renda dos 10% mais pobres aumentou 106% entre 2003 e 2012 (Marcelo Neri, "Valor", 26/6, bit.ly/mneri2606). Trata-se apenas de uma hipótese, mas admita-se que o raciocínio é compatível com a ira da classe média tradicional em relação ao lulismo.
de André Singer

Reflexão dominical

"Nós já dialogamos naturalmente com Deus, através da oração. Rezar é quebrar o silêncio. E a necessidade de reconhecer e ser reconhecido. Rezar é o som criado pelo mais profundo de nossos sentimentos".
"Eu não estou falando apenas das preces formais que costumamos dizer na igreja ou no quarto, antes de dormir. Eu falo daqueles vestígios, fragmentos de oração que as pessoas usam, mesmo dizendo que não acreditam em nada, sem sequer se darem conta de que estão rezando. Algo inesperado acontece, e as pessoas dizem 'Meu Deus!', ou então, 'Nossa Senhora!', e ali está uma prece, muitas vezes escondida, proferida com vergonha, medo do ridículo, escondida sob a forma de blasfêmia".
"A oração é um instinto humano de se abrir naquilo que tem de mais profundo. É impossível evitar este instinto. De uma maneira ou de outra, todas as pessoas rezam e rezaram deste o início dos tempos".
de Frederik Buechener