Ódio conservador invade as ruas e redes

Dilma abre vantagem 54% x 46%
por Rodrigo Vianna

As pesquisas DataFolha e Ibope mostram o avanço de Dilma Rousseff na reta final. Ela abre uma vantagem que parece estar entre 6 e 8 pontos: 54% x 46%  (IBOPE) ou 53% x 47% (DataFolha). Mas esse não é o tema central deste texto.
Minha preocupação é entender como lidar com o ódio que se espalha pelas ruas. A perspectiva da derrota deixa o aparato conservador ainda mais ouriçado. 
O ódio não brotou da terra. Foi insuflado por colunistas insanos, comentaristas gagos, ex-cineastas e ex-roqueiros apopléticos, blogueiros dementes, revistas da marginal e marginais de revista. Todos eles sob o comando da Globo.


A eleição não está decidida. Dilma e os apoiadores da petista devem manter a guarda alta. E, ao mesmo tempo, desde já devem se preparar para uma nova escalada da ofensiva conservadora.
O artigo do ex-governador Alberto Goldman (ex-comunistas são sempre os mais raivosos) é apenas o sinal mais visível da temperatura a que chegou o lado de lá. Goldman (clique aqui para ler) tenta tirar a legitimidade de um eventual segundo governo Dilma.
O tucano usa um misto de preconceito odioso e golpismo matreiro em seu texto – que recebeu belíssima resposta de Breno Altman (leia aqui).
Pelas redes sociais, surgem (dos núcleos duros do tucanato) propostas de “impeachment” de Dilma.
Nessa reta final, os conservadores (apopléticos com o avanço de Dilma) promoveram um baile de bruxas na avenida Faria Lima, esparramando ódio pelas sarjetas do luxuoso shopping Iguatemi em São Paulo.
Os tucanos já tiveram como candidatos a presidente o anódino Alckmin, e o antipático Serra… Mas dessa vez escolheram um rapaz que concentra todos os vícios da pior elite brasileira.
Aécio jacta-se de jamais ter arrumado a cama em sua casa. Jacta-se de ser um filho daquelas famílias que possuem serviçais para atender todas suas vontades e caprichos (leia aqui no Tijolaço mais detalhes sobre isso).
Aécio é o menino que fala em “meritocracia” – tendo ganho os primeiros empregos em órgãos públicos, sempre por indicação familiar. Já teve carteirinha de “puliça” em Minas (sem nunca ter sido policial pra valer). Ganhou rádios de presente, tem irmã pra cuidar das verbas públicas de comunicação, e tem a mania odiosa de perseguir jornalistas.
Mas não é só isso. Aécio é aquele tipo de rapaz que toma umas e outras e não para em blitz. É o tipo de garotão tardio, que gosta da noite e da farra, mas na hora de se apresentar em público cria a imagem hipócrita de um “bom pai de família”.
O PSDB de Serra centrava o debate em aspectos econômicos e políticos (apesar de ter resvalado, algumas vezes, para o terreno religioso – com aborto e outra sujeiras). Já o PSDB de Aécio aposta no “homem de bem” para “limpar” o Brasil.
Se a ideia dos tucanos era essa, parecem ter escolhido o candidato errado.
Homem “de bem” não levanta o dedo e a voz para mulheres, com a arrogância de Aécio (leia aqui o texto que mostra porque as mulheres rejeitam Aécio)
Homem “de bem” não insufla seus seguidores, berrando que vai “libertar o Brasil do PT”.
Embalado nessa onda, em São Paulo e no sul surge um lamentável discurso contra “pobres”, “favelados”, “nordestinos” – toda essa “raça” que “gosta de votar no PT”.
A soma do ódio com a arrogância elitista desemboca agora num ensaio golpista.
A oposição brasileira prepara um discurso muito parecido ao discurso da oposição venezuelana: “acabou”, “fora”, “não aguentamos mais”. Não é um discurso de quem pretenda conviver dentro da ordem democrática. Mas de quem flerta com o golpe e a desestabilização.
Essa elite perversa tentou envergonhar o Brasil na Copa. Perdeu!
Tentou incendiar o Brasil nas eleições. Vai perder!
Mas os que a derrotam – com energia nas ruas, e com a força dos bons argumentos nas redes sociais – terão que mostrar ainda mais maturidade para enfrentar o que vem depois de outubro.
A Casa-Grande, com seus aécios, lobões e pequenos militantes do preconceito prepara-se para novos ataques.
Envolvidos pela baba do ódio, eles se tornam mais asquerosos e mais perigosos. E por isso é ainda mais importante que sejam isolados, e derrotados.
É preciso estabelecer pontes e diálogo. Nem todo eleitor de Aécio é preconceituoso. Ouso dizer que a maioria não é.
Mas o núcleo duro do tucanato e da oposição aposta no ódio.
A política brasileira vai entrar em nova fase. Não há mais espaço para consensos produzidos apenas nos bastidores. O ódio na rua e nas redes precisa ser barrado com debate, política, ação, disputa simbólica permanente.
A onda conservadora será derrotada nas urnas.
Precisamos agora derrotá-la também na sociedade.

Frase do Dia

Querem saber?...
A edição da Veja me fez dar boas gargalhadas.
Agora sei a razão pela qual médicos e dentistas colocam nas salas de espera dos seus consultórios. É como se dissessem aos pacientes mais covarde:

"Podem entrar, pelo pior vocês já passaram".

de Gilson Caroni Filho


Luis Nassif: Dilma e o desafio do terceiro turno

Ontem a boca do jacaré abriu. Essa é a imagem que os estatísticos usam quando as linhas de desempenho de dois candidatos abrem em direções opostas.
Na pesquisa Datafolha, Dilma abriu 7 pontos de diferença; 8 na do Ibope; 9 no Vox Populi. Em uma campanha em que tudo parece ter acontecido, apenas um evento totalmente imprevisível poderá mudar o rumo das eleições.


Na segunda-feira começará o terceiro turno das eleições, o verdadeiro desafio de Dilma, que será administrar a vitória e preparar a conciliação.
No dia do debate na TV Record, escrevi o artigo "Todos perderam nesse circo de horrores"(http://goo.gl/Ur9EWf). Nele, admitia a eficácia da estratégia adotada pelo marqueteiro João Santana mas, também, o seu custo posterior: "No plano puramente eleitoral, liquidou a fatura. A tática adotada foi de profissionais, mostrando que o marketing político brasileiro tem o João Santana e a rapa. Minhas críticas à tática de Dilma se prendem a razões extra-eleitorais: o estímulo ao acirramento ainda maior dos nervos, as dificuldades futuras para a grande pacificação nacional".
Jogando toda a campanha na ofensiva, com as denúncias da Petrobras, quando exposto ao contra-fogo Aécio se perdeu, não tinha uma estratégia pronta. Sua reação foi descontrolada, passando a imagem de agressivo com mulheres. Ainda ontem, no horário gratuito, enquanto a campanha de Dilma era uma festa, Aécio ficou só, ele e a câmera, para exprimir sua indignação.
A campanha, que já se caracterizara por uma radicalização pesada, extrapolou. Desde 1964, nunca o ódio político chegou aos níveis de agora.
O suplente de senador por São Paulo, José Anibal, chamou de "vagabundo" o diretor da ANA (Agências Nacional de Águas) que, convocado pela Câmara Municipal de São Paulo, apresentou o quadro trágico do abastecimento de água no estado; Alberto Goldmann, coordenador de campanha de Aécio Neves, chamou Lula de "bêbado", o mesmo que Gilmar Mendes, juiz que perdeu todos os limites do pudor graças à cobertura que recebe da mídia.
Nos próximos meses haverá o chamado jus esperneandi, com a tentativa de transformar o caso Petrobras em um processo de impeachment da presidente.
Não se tenha dúvida que essa cartada será estimulada por grupos de mídia. Tem a seu favor o sucesso do julgamento do "mensalão" e o fato de que o episódio Paulo Roberto Costa deixou marcas profundas na opinião pública.
O STF (Supremo Tribunal Federal) de hoje tem muito mais responsabilidade institucional que o de alguns anos atrás. Mas, de qualquer modo, não se deve menosprezar a indignação pública com o episódio.
Vencendo as eleições, o melhor que Dilma teria a fazer seria se cercar de estrategistas para o terceiro tempo. Tem que apresentar um Ministério de primeiro nível, que de certa forma sinalize a conciliação com setores que se afastaram dela; atacar de cara a questão da reforma política.


E dar uma resposta definitiva ao caso Petrobras, medidas que garantam, daqui para frente, a blindagem total da companhia e das estatais em geral contra interferências políticas.
P.S: Neste blog o jacaré abriu a bocarra desde antes de ontem. Aqui a prova, confira!