Ciro Gomes explica o novo governo de Dilma Rousseff

Ambicioso?

Eu só quero ganhar sozinho a mega da virada, isso é ser ambicioso?...
Acho que não.


Belluzzo: tem gente interessada na crise da Petrobras

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Papo de homem

Um poeta português disse que as cartas de amor são ridículas. Mas mais ridículo ainda é não escrever cartas de amor. Tenho um acréscimo à voz do poeta: algumas cartas de amor ultrapassam os limites do ridículo. São pomposas, verborrágicas, exageradas. A grande carta de amor é necessariamente simples e objetiva. Assim como a grande declaração de amor. A simplicidade é bela ao falar e ao escrever. Uma pessoa afetada na forma de se comunicar com as demais é afetada em outras esferas. “A verdade tem que falar uma linguagem simples, sem artifícios”, escreveu um filósofo da Antigüidade. O amor também. Isto é, se for verdadeiro.

As virtudes da economia ao se expressar têm notáveis exemplos históricos. Conta-se que os embaixadores de uma cidade grega tentavam convencer o rei de Esparta a aderir a uma esforço de guerra. O espartano deixou-os falar longamente. Depois disse: “Não lembro do começo nem do meio da argumentação de vocês. Quanto à conclusão, simplesmente não me interessa”.

Num outro caso, dois arquitetos atenienses disputavam a honra de construir um grande edifício. A platéia à qual cabia a escolha ouviu um extenso discurso do primeiro arquiteto. As pessoas já se inclinavam por ele quando o segundo disse apenas: “Senhores atenienses, o que este acaba de dizer eu vou fazer”. Para o pensador romano Sêneca, nos grandes arroubos da eloqüência há mais ruído que sentido”.

Os espartanos serão eternamente reverenciados pela simplicidade com que viviam e se expressavam. Uma vez perguntaram a uma autoridade de Esparta por que os espartanos não colocavam por escrito as regras da valentia para que os jovens pudessem lê-las. A resposta foi que os espartanos queriam acostumar seus jovens aos feitos e não às palavras. “O mundo é apenas tagarelice e nunca vi homem que não dissesse antes mais do que menos do que devia”, escreveu o filósofo francês Montaigne.

(Realmente sinto que estou exagerando nas citações. Deus, pareço um almanaque. Mas olho para trás e tento cortar algumas citações, e não consigo, não por mérito meu, mas dos donos das frases. Dá para deletar a seguinte reflexão do escritor e historiador Plutarco? Disse ele: “A palavra expõe-nos, como nos ensina o divino Platão, aos mais pesados castigos que deuses e homens podem infligir. Mas o silêncio jamais tem contas a dar. Não só não causa sede como confere um traço de nobreza”.)

Também no amor, há mais “ruído que sentido” nas frases espalhafatosas ditas ou escritas. A mais genuína, a mais poderosa declaração de amor é, muitas vezes, o olhar silencioso, o gesto mudo, e, no entanto, estamos quase sempre inclinados a berrar nossa paixão. Na cama, sobretudo, trava-se muitas vezes uma competição para ver quem gritar mais alto, um torneio de gemidos geralmente insinceros e ensurdecedores que cada parceiro acredita, numa mistura de ignorância e ingenuidade, serem excitantes. O berro amoroso incomoda o ouvido e dificilmente chega ao coração. E provoca não orgasmos maravilhosos, não maratonas sexuais inacreditáveis, mas simplesmente sede.

por Fábio Hernandez

O ponto onde convergem Venina e o MH17 derrubado na Ucrânia

J. Carlos de Assis

Há uma coisa em comum entre a denúncia norte-americana de que o voo MH17 da Malásia foi derrubado por insurgentes ucranianos ligados a Moscou e a denúncia de Venina de que a presidente da Petrobras, Graça Foster, não deu ouvidos a suas denúncias de irregularidades na empresa: nos dois casos, a uma campanha maciça da imprensa para validar as denúncias sucedeu, em poucos dias, o mais estrondoso silêncio. No caso de Venina, só falam agora no assunto os que a ridiculizam, com razão. No caso do MH17, o silêncio é total.

Esses dois casos ilustram muito bem o papel que a “liberdade” de imprensa vem exercendo em nosso tempo. É um instrumento sobretudo de manipulação da opinião pública. Os manipuladores contam com a falta de espírito crítico da sociedade, o que, por sua vez, justifica-se exatamente pela ausência de noticiário imparcial sobre acontecimentos com valor político e estratégico. Sabe-se agora, com certeza, que o MH17 foi derrubado por forças de Kiev. Sabe-se agora que Venina, antes de ser denunciante, foi ela própria denunciada.

A ausência recente na imprensa ocidental de notícias sobre o monstruoso ataque ao MH17, um avião civil derrubado provavelmente por um míssil ou por um caça de Kiev sobre o Leste da Ucrânia, é a maior evidência do esgotamento da estratégia de exaustão de uma versão destinada a cobrir os fatos reais com uma máscara favorável. Eu costumava ouvir de um grande manipulador da imprensa brasileira a observação de que “o importante é a versão, não o fato”. Assim, para “plantar uma versão”, era necessário divulgá-la antes dos fatos.

Putin atribuiu formalmente a Kiev a responsabilidade pelo crime numa reunião com personalidades estrangeiras na Rússia, mas a imprensa ocidental praticamente o ignorou. Uma vez estabelecida a versão é extremamente difícil retificá-la. Mesmo porque, no caso do MH17, estão envolvidos aspectos técnicos de difícil aferição por internautas. Os internautas, que são hoje a consciência crítica da grande mídia, não tem como penetrar em alguns de seus segredos, exceto numa situação em que interfere o gênio de um Wikileaks.

O desmascaramento de Venina tem sido uma operação relativamente mais fácil. Os internautas se lançaram a investigações próprias, independentes dos grandes jornais e tevês, para descobrir que a moça estava sendo processada pela Petrobras por incompetência ou má fé no acompanhamento de contratos na construção de Abreu e Lima; que tinha feito contratos sem licitação com o então marido ou namorado, algo que nem o jornal Valor, nem a TV Globo cuidaram de revelar em suas bombásticas entrevistas na versão original.

Sim, houve uma denúncia de Venina fundamentada. Relacionava-se com contratos superfaturados na área de comunicação, mas em 2008. A denúncia gerou uma comissão de inquérito da qual resultou a comprovação do superfaturamento e a demissão do responsável. Na interpretação de um jornalista da Globo, isso lhe dava credibilidade para fazer as outras denúncias. Mas quais denúncias? Tudo o que ela disse no Valor, e repetido na Globo, eram ilações vagas, inclusive a alegação de que exortara Graça Foster das irregularidades.

Se a Lava Jato seguir o curso retilíneo que vem seguindo até aqui, não se admirem se Venina vier a ser condenada por irregularidades na Abreu e Lima, das quais há indícios fortes no relatório da comissão de inquérito da própria Petrobras sobre o assunto, já entregue ao Ministério Público. Ela disse insistentemente que ia “até o fim”. Estamos aguardando que fim é esse. O fato é que até mesmo os jornalões e a Globo perceberam que deram um tiro na água. Daí seu significativo silêncio. Não é nada diferente do silêncio da imprensa ocidental sobre o avião derrubado no Leste da Ucrânia. E esse é o preço que a gente tem que pagar pelo valor supremo da liberdade de imprensa, agora felizmente vigiado pelos internautas.

J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

Lava jato: Camargo Corrêa negocia acordo

A inédita passagem de executivos das maiores empreiteiras do país pela carceragem da Polícia Federal está prestes a produzir uma revolução nos costumes político-empresariais do país. Gigante do setor da construção pesada, a Camargo Corrêa negocia com o Ministério Público Federal os termos de um acordo de leniência, como são chamadas as delações premiadas de empresas. Significa dizer que o bloco   Leia mais>>>

Os 10 piores casos de complexo de messias em 2014

Do Diário do Centro do Mundo

O fim do ano é o momento em que nos lembramos do messias JC, mas é impossível deixar de lado os malas sem alça que possuem o complexo de messias. O ano de 2014 foi pródigo em megalomaníacos com fórmulas infalíveis para a salvação do Brasil e, em última análise, do universo.

Alguns tentaram nos livrar de uma ditadura comunista, outros ameaçaram seus discípulos se não seguissem seu voto — em comum, todos incapazes de admitir qualquer erro e eternamente tentando encaixar os fatos em sua visão de mundo. O tipo de gente que estraga qualquer festa de réveillon.

Lobão
O velho cantor já vinha há alguns anos num ritmo pesado e intenso de paranoia, trocando Herbert Viana pelo PT em sua doideira. Na sequencia da eleição de Dilma, adotou uma longa barba de profeta, copiada do bispo Edir Macedo, e resolveu incorporar o papel de líder revolucionário. Ficou chateado quando tomou um cano de Aécio numa manifestação com 15 pessoas, rompeu com outros colegas de extrema direita, foi até o Congresso com aloprados. Junto com seu guru Olavo de Carvalho e o brucutu Marcello Reis, do grupo Revoltados Online, alertou os brasileiros sobre o socialismo. Sua grande vitória política foi tomar um café com Marco Feliciano.

Gilmar Mendes
O ministro do STF é o Palpiteiro Oficial da República. Denunciou o perigo do Supremo se converter "numa corte bolivariana", disse que Lula não passaria no teste do bafômetro, suspeitou de lavagem de dinheiro nas doações para pagar as multas de petistas condenados no mensalão, culpou Dilma pelas suspeitas de fraude nas eleições etc etc. Com exceção, talvez, do futebol, não houve assunto em que Gilmar não tenha emprestado um átimo de sua sabedoria. "Os fatos são chocantes. Há uma cleptocracia instalada", diz ele. Dependendo do ângulo, Gilmar dá saudade de Joaquim Barbosa.

Joaquim Barbosa
JB saiu da história para cair na vida, mas não deixa o posto de Batman nem sob decreto. Ninguém mais se importa com o menino pobre que mudou o Brasil, mas no Twitter ele continua trovejando. Entre uma saída e outra para ir ao teatro com a atriz Antônia Fontenelle — ninguém é de ferro — , JB dita os rumos da nação, eventualmente em inglês e francês. "The ousting of a congressman by his peers for his involvement in this disgusting scheme. A new check for the Brazilian political system?", mandou. "Min Público é órgão de contenção do poder político. Existe para controlar-lhe os desvios, investigá-lo, não p assessorá-lo. Du jamais vu!". "Du jamais vu" é sua releitura pedante do bordão lulista "nunca antes" etc. Dependendo do ângulo, Barbosa dá saudade de Gilmar Mendes.

Silas Malafia
O pastor mais sem noção da América Latina gritou suas excentricidades ao longo do ano, guiando seu povo contra o PT. Mostrou-se um pé frio. Primeiro apoiou Marina Silva, evangélica como ele. Quando Marina beijou a lona, inclusive por causa de seu apoio, pulou para o barco de Aécio. Quando se trata de Malafaia, tudo assume ares de histeria e convocação divina. Conclamou seus fieis para "tuitaços" que micaram, ameaçou com o fogo do inferno os que votassem em Dilma, mentiu, ofendeu — e perdeu. Malafaia deu voz à estupidez da extrema direita religiosa.

Marina Silva
Ela surgiu do útero da floresta com a promessa da nova política, batendo na polarização PT-PSDB, se vendendo como uma opção nem de esquerda e nem de direita. Sua candidatura tomou um direto no queixo com quatro tuítes de Malafaia, para sucumbir de vez diante de suas próprias contradições. O fanatismo religioso fez com que utilizasse o velho messias (no caso, Jesus Cristo) para justificar seus problemas, como o da falta de clareza. Segundo ela, Jesus "tergiversava". Devemos a Marina a popularização do termo "desconstrução", usado por ela para explicar a tática de seus adversários e hoje aplicado até mesmo em receitas de risoto de frango.

Felipão
O ex-técnico da seleção jamais assumiu qualquer erro na condução da seleção brasileira. Jogadores choravam antes de bater o escanteio, mas o time não tinha problema de desequilíbrio emocional. Neymar se machuca, os atletas têm um chilique, mas e daí? Até acontecer o inolvidável 7 a 1 diante da Alemanha e, na partida seguinte da Copa, os 3 a 0 para a Holanda. Na coletiva, a casa já em escombros, Felipão deu declarações como "desde 2002 não chegávamos às semifinais", "disputei três Copas do Mundo e fiquei entre os quatro em todas", "não jogamos mal" e "tivemos momentos muito bons". Felipão foi visto no Grêmio.

O juiz da lei seca
Uma agente da Lei Seca dirimiu uma dúvida ancestral: se juízes achavam, mesmo, que eram Deus. Ela cumpriu sua função ao tentar multar o juiz João Carlos de Souza Correa, que dirigia um Land Rover preto sem placa e estava sem a carteira de habilitação no momento da abordagem. (Depois se descobriu que Correa, titular da 1ª Vara de Búzios, é protagonista de uma coleção de imbróglios jurídicos). Mas o doutor Correa não precisa cumprir a lei porque, afinal, está acima de você. "Imagina eu, que faço Justiça, sendo injustiçado. Ela disse: 'Ele é juiz, não é Deus'. Foi desacato", afirmou.

Fernão Lara Mesquita e os editoriais do Estadão
Ninguém lê, mas os editoriais do Estadão e os artigos de um dos herdeiros são como uma máquina do tempo em direção ao nada. A missão de resguardar os valores liberais se transforma numa necessidade doentia de orientar seus pobres leitores no sentido de se precaverem diante de qualquer coisa que cheire a bolivarianismo, seja lá o que isso quer dizer. Isso inclui dar conselhos para os EUA sobre como conduzir a reaproximação com Cuba. Fernão Lara Mesquita –fotografado num protesto com um cartaz com os dizeres "Foda-se a Venezuela" — mantém a tradição batendo no inimigo morto da família: Getúlio Vargas. No dia 25 último, escreveu que Getúlio "veio para combater a corrupção, impôs o fascismo como instrumento do desenvolvimento e encarregou o Estado, com o Trabalho e o Capital a reboque, de promovê-lo".

Edir Macedo
O dono da Universal inaugurou o Templo de Salomão no Brás, em São Paulo, uma atualização brega do santuário arrasado pelos romanos na Antiguidade. Com uma barba de profeta, copiada de Lobão, e um novo cerimonial inspirado em ritos do judaísmo, com direito a quipá e xador, Edir levou Dilma, Alckmin e outros políticos à abertura de sua obra máxima, numa prova de seu poder e prestígio terrenos. Edir vive garantindo a volta de Jesus, mas Jesus provavelmente olha para ele e pensa que é melhor ficar de boa onde está.

Arnaldo Jabor
Jabor começou a pirar no ano passado, ao mudar de opinião sobre as manifestações em 48 horas. Perdeu o posto de comentarista no Jornal da Globo, mas continua dando conselhos e advertências importantes no rádio e em jornais. O tom apocalíptico cresceu e hoje tem-se a nítida impressão de que o cineasta está trancado numa quitinete no Leblon, com as persianas permanentemente fechadas e um chimpanzé de estimação chamado Igor para servi-lo. Suas memórias andam cada vez mais estranhas. "Um dia, um companheiro (que morreu há pouco) me disse: 'Não tema a morte. Marx disse que somos seres sociais. O indivíduo é uma ilusão. Para o comunista a morte não existe'. E eu sonhei com a vida eterna". A reeleição de Dilma aconteceu apesar de seus alertas. "Tudo vai explodir em 2015, o ano da verdade feia de ver", disse. "Essas são algumas das doenças mentais que estão levando o Brasil para um pântano institucional. Temos que nos salvar desse determinismo suicida". Deus é pai.