Sílvia Lisboa: Deixa eu te contar algumas histórias...




Desde 2018, o Intercept Brasil tem uma editoria chamada Vozes, e eu sou a responsável por ela. Vozes é a seção que utilizamos para publicar histórias relevantes e que têm pouco espaço em veículos tradicionais. São relatos em primeira pessoa que revelam experiências, modos de vida e situações que se tornam importantes porque contribuem para a compreensão da sociedade, suas desigualdades e desafios. 
O Vozes não é feito por reportagens de fôlego – aquelas que você está acostumado a encontrar no TIB. Mas a editoria segue os mesmos princípios de tudo que fazemos. Buscamos relatos de impacto, que levem os leitores a conhecer novas realidades e encarar problemas que se erguem sutilmente na sociedade. Por isso, o universo temático dos textos é muito amplo. Em uma semana, você pode ler sobre a instigante história do rapaz que teve os estudos custeados pelo pai traficante e, na outra, descobrir como é a dura vida dos garotos que, pelo sonho de jogar futebol, precisam suportar as categorias de base de grandes clubes
O que fazemos no Vozes reafirma ainda algo que o Intercept persegue de maneira incansável. O jornalismo também é feito com histórias do cotidiano. É possível olhar para as microrrelações e encontrar nelas fundamentos que nos inspiram. É por isso que nos orgulhamos de contar ensaios com perspectivas únicas que você certamente não leria por aí, como a experiência da Stéfani, aluna de um colégio militar em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. O relato dela sobre os abusos que os estudante sofrem na escola é chocante. Este foi um texto que causou enorme revolta entre os leitores, e a mobilização pode dar origem a um núcleo de apoio para os alunos de colégios militares com a intenção de colher relatos e apoiá-los diante da violência que sofrem.
A mobilização por conta do texto da Stéfani não é um caso isolado. Como eu disse, o que nós queremos é impacto! É por isso que você estão conosco nessa, não é mesmo?
Outra boa história que contamos é a do Houssan Nour, refugiado que trabalhava por mais de 14 horas como motorista de aplicativo com o objetivo de juntar dinheiro e trazer sua família da Síria para o Brasil. Depois da publicação, leitores criaram uma vaquinha para Houssan que arrecadou R$ 4 mil com o objetivo de ajudar nos trâmites da viagem.  
Mas talvez o caso mais emblemático tenha sido o do professor Pedro Mara. Ele estava na lista das pessoas pesquisadas por Ronnie Lessa, o PM acusado de matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes. 
Pedro tem uma história de luta na educação do Rio de Janeiro e diante das ameaças buscou apoio na Comissão de Direitos Humanos da Alerj, na OAB e no Sepe-RJ. Apesar do apoio desses órgãos, o professor passou a enfrentar um processo de exoneração por ter faltado duas semanas de aula na qual cumpria um protocolo de segurança. Correndo sério risco de vida, Pedro ficou afastado da escola e sem salário. 
Nós o convidamos para compartilhar sua história, que foi inclusive contada em vídeo. A repercussão foi bastante positiva e contribuiu para a luta que Pedro já enfrentava. Semanas depois ele foi reintegrado aos quadros da secretaria estadual de educação, e o processo, extinto. 
É gratificante fazer parte do Intercept Brasil por essas e muitas outras histórias. O Brasil tem muito para nos contar e queremos ser o megafone. Quem sabe ainda contamos a sua história
Em tempos tão difíceis como estes que estamos vivendo, o que me motiva é fazer um jornalismo que preza pelos ideais democráticos, de justiça social e igualdade. Porque não há jornalismo sem democracia – e vice-versa. Não é à toa que a imprensa é a primeira a ser atingida quando regimes autoritários assumem o poder. 
Editora de Vozes

A emoção de descobrir a origem da minha família negra em um país que ignora suas raízes africanas

Eliana Alves Cruz
Para a esmagadora maioria dos 54% de brasileiros negros, a origem africana é ainda um mistério. Eu consegui desvendar o meu passado.

'Tenho uma doença rara incompreendida pelos médicos': como é conviver diariamente com a dor.

Anália Maia Portela
Cirurgias, disputas com planos de saúde e dores terríveis: o desafio de viver com uma doença rara que afeta o cérebro e causa dores de cabeça que não passam.

Bolsonaro despreza os nordestinos. E ele não está sozinho.

Alexandre Andrada, Nayara Felizardo
Muitos fatores atrapalharam a ascensão do Nordeste na economia e reforçaram preconceitos regionais contra nordestinos. Bolsonaro quer aumentar esse fosso.

Diário de um bombeiro: 'voltarei a atender acidentes graves com reformas de Bolsonaro no Código de Trânsito'

Jorge Anderson da Silva
Bombeiro há 22 anos pensa que Código de Trânsito promulgado em 1997 previne acidentes.
Leia a série com as mensagens secretas da Lava Jato
The Intercept Brasil
Uma enorme coleção de materiais nunca revelados fornece um olhar sem precedentes sobre as operações da força-tarefa anticorrupção que transformou a política brasileira e conquistou a atenção mundial.




Charge da noite

Chora apedeutas
Chora petralhas
Chora petezada

Caiu na rede

Artigo do dia


Brasil vive um clima de pré-nazismo enquanto a oposição emudece
O Brasil está vivendo, segundo analistas nacionais e internacionais, um clima político de pré-nazismo, enquanto a oposição progressista e democrática brasileira parece muda. Somente nos últimos 30 dias, de acordo com reportagem do jornal O Globo, o presidente Jair Bolsonaro proferiu 58 insultos dirigidos a 55 alvos diferentes da sociedade, dos políticos e partidos, das instituições, da imprensa e da cultura.
E à oposição ensimesmada, que pensa que o melhor é deixar que o presidente extremista se desgaste por si mesmo, ele acaba de lhes responder que “quem manda no Brasil” é ele e, mais do que se desfazer, cresce cada dia mais e nem os militares parecem capazes de parar seus desacatos às instituições.
Há quem acredite que o Brasil vive um clima de pré-fascismo, mas os historiadores dos movimentos autoritários preferem analisá-lo à luz do nazismo de Hitler. Lembram que o fascismo se apresentou no começo como um movimento para modernizar uma Itália empobrecida e fechada ao mundo. De modo que uma figura como Marinetti, autor do movimento futurista, acabou se transformando em um fervoroso seguidor de Mussolini que terminou por arrastar seu país à guerra.
nazismo foi outra coisa. Foi um movimento de purga para tornar a Alemanha uma raça pura. Assim sobraram todos os diferentes, estrangeiros e indesejados, começando pelos judeus e os portadores de defeitos físicos que prejudicavam a raça. De modo que o nazismo se associa ao lúgubre vocábulo “deportação”, que evoca os trens do horror de homens, mulheres e crianças amontoados como animais a caminho dos campos de extermínio.
Talvez a lúgubre recordação de minha visita em junho de 1979 ao campo de concentração de Auschwitz com o papa João Paulo II tenha me feito ler com terror a palavra “deportação” usada em um decreto do ministro da Justiça de Bolsonaro, o ex-juiz Sérgio Moro, em que ele defenda que sejam “deportados” do Brasil os estrangeiros considerados perigosos.
Bolsonaro, em seus poucos meses de Governo, já deixou claro que em sua política de extrema direita, autoritária e com contornos nazistas, cabem somente os que se submetem às suas ordens. Todos os outros atrapalham. Para ele, por exemplo, todos os tachados de esquerda seriam os novos judeus que deveriam ser exterminados, começando por retirá-los dos postos que ocupam na administração pública. Seu guru intelectual, Olavo de Carvalho, chegou a dizer que durante a ditadura 30.000 comunistas deveriam ter sido mortos e o presidente não teve uma palavra de repulsa. Ele mesmo já disse durante a campanha eleitoral que com ele as pessoas de esquerda deveriam se exilar ou acabariam na cadeia.
Inimigo dos defensores dos direitos humanos, dos quais o governador do Rio, Witzel, no mais puro espírito bolsonarista, chegou a afirmar que são os culpados pelas mortes violentas nas favelas, Bolsonaro mal suporta os diferentes como os indígenas, os homossexuais, os pacíficos que ousam lhe criticar. Odeia todos aqueles que não pensam como ele e, ao estilo dos melhores ditadores, é inimigo declarado da imprensa e da informação livre.
Sem dúvida, o Presidente tem o direito de dizer que foi escolhido nas urnas com 53% dos votos, que significaram 57 milhões de eleitores. Nesse sentido o problema não é seu. Os que votaram nele sabiam o que pensava, ainda que talvez considerassem seus desatinos de campanha como inócuos e puramente eleitoreiros. O problema, agora que se sabe a que ele veio, e que se permite insultar impunemente gregos e troianos começando pelas instituições bases da democracia, mais do que seu, é da oposição.
Essa oposição, que está muda e parece impotente e distraída, demonstra esquecer a lição da história. Em todos os movimentos autoritários do passado moderno, os grandes sacerdotes da violência começaram sendo vistos como algo inócuo. Como simples fanfarrões que ficariam somente nas palavras. Não foi assim e diante da indiferença, quando não da cumplicidade da oposição, acabaram criando holocaustos e milhões de mortos, de uma e outra vertente ideológica.
Somente os valores democráticos, a liberdade de expressão, o respeito às minorias e aos diferentes, principalmente dos mais frágeis, sempre salvaram o mundo das novas barbáries. De modo que o silêncio dos que deveriam defender a democracia pode acabar deixando o caminho aberto aos autoritários, que se sentem ainda mais fortes diante de tais silêncios.
Nunca existiram democracias sólidas, capazes de fazer frente aos arroubos autoritários, sem uma oposição igualmente séria e forte, que detenha na raiz as tentações autoritárias. Há países nos quais assim que se cria um governo oficial, imediatamente a oposição cria um governo fictício paralelo, com os mesmos ministros, encarregados de vigiar e controlar que os novos governantes sejam fieis ao que prometeram em suas campanhas e, principalmente, que não se desviem dos valores democráticos. Sem oposição, até os melhores governos acabarão prevaricando. E o grande erro das oposições, como vimos outras vezes também no Brasil, foi esperar que um presidente que começa a prevaricar e se corromper se enfraqueça sozinho. Ocorrerá o contrário. Crescerá em seu autoritarismo e quando a oposição adormecida perceber, estará derrotada e encurralada.
Nunca em muitos anos a imagem do Brasil no mundo esteve tão deteriorada e causando tantas preocupações como com essa presidência de extrema direita que parece um vendaval que está levando pelos ares as melhores essências de um povo que sempre foi amado e respeitado fora de suas fronteiras. Hoje no exterior não existe somente apreensão sobre o destino desse continente brasileiro, há também um medo real de que possa entrar em um túnel antidemocrático e de caça às bruxas que pode condicionar gravemente seu futuro. E já se fala de possíveis sanções ao Brasil por parte da Europa, em relação ao anunciado ataque ao santuário da Amazônia.
O Brasil foi forjado e misturado com o sangue de meio mundo que o fizeram mais rico e livre. Querer ressuscitar das tumbas as essências de morte do nazismo e fascismo, com a vã tentativa da busca da essência e pureza da brasilidade é uma tarefa inútil. Seria a busca de uma pureza que jamais poderá existir em um país tão rico em sua multiplicidade étnica, cultural e religiosa. Seria, além de uma quimera, um crime.
Urge que a oposição democrática e progressista brasileira desperte para colocar um freio nessa loucura que estamos vivendo e que os psicanalistas confirmam que está criando tantas vítimas de depressão ao sentirem-se esmagadas por um clima de medo e de quebra de valores que a nova força política realiza impunemente. Que a oposição se enrole em suas pequenezas partidárias e lute para ver quem vai liderar a oposição em um momento tão grave, além de mesquinho e perigoso é pueril e provinciano.
Há momentos na história de um país em que se os que deveriam defender os princípios da liberdade e da igualdade cruzam os braços diante da chegada da tirania, incapazes até de denunciá-la, amanhã pode ser tarde demais. E então de nada servirá chorar diante dos túmulos dos inocentes.
Juan Arias

Boa tarde!

Tenha fé em Deus
Tenha fé na vida
Faça o bem sem olhar a quem
E agradeça por mais um dia feliz

Das verdades que doi


O pior que existem filhos que agem exatamente assim. Vergonhoso!

Estratégia de Bolsonaro é destruição institucional do Brasil


Brasília - 
Já passamos há muito tempo da dúvida se há interferência indevida e autoritária do presidente Jair Bolsonaro em órgãos do Estado Brasileiro. Estamos diante de um processo de destruição institucional do Coaf, da Receita Federal, do Inpe, do Ibama, do ICMBio, da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, entre outros órgãos do país.
Também inexiste dúvida a respeito da intenção do presidente no processo de escolha do novo chefe da PGR (Procuradoria-Geral da República): enfraquecer o Ministério Público buscando alguém que não incomode familiares e aliados e o próprio presidente do ponto de vista “ético”.
O “padrão” Lava Jato, que agora sabemos pela Vaza Jato como operava, deixa Bolsonaro desconfortável para o exercício do poder. Ele gostava desse “padrão” quando aplicado aos seus adversários políticos.
Hoje, o inimigo da Lava Jato não é a Vaza Jato, que expôs um modus operandi que corrompeu o sistema judiciário com abusos inadmissíveis para operadores do direito, que conhecem a lei.
Está claríssima a tentativa de destruição institucional. As interferências do presidente em órgãos de Estado não decorrem de motivos nobres nem porque ele foi eleito e tem o direito de fazer o que quiser. Um presidente da República pode muito, mas não pode tudo. A Constituição, demais Poderes e o sistema de freios e contrapesos da democracia impõem um claro e adequado limite. Mas Bolsonaro não aceita essas barreiras porque é um demagogo e autocrata.
Na “Folha de S.Paulo”, Celso Rocha de Barros escreveu um artigo que vale a pena ser lido: “Aparelhamento Bolsonarista”.
O Brasil assiste ao enfraquecimento das suas instituições. São normais divergências técnicas, políticas e conflitos internos em qualquer governo. Mas as intervenções de Bolsonaro têm caráter pessoal.
Ao tirar credibilidade e enfraquecer instituições, fica mais fácil adotar medidas autoritárias contra elas, como indicar para o comando de órgãos de Estado e não de governo pessoas que precisarão entender a necessidades do mando presidencial.
Trocando em miúdos: essas alterações, como tirar o Coaf da Fazenda e alojá-lo no Banco Central com novo chefe, como pressionar por trocas em posições na PF e na Receita, como demitir o presidente do Inpe, resultam da contrariedade presidencial com a democracia e de eventuais incômodos a parentes e aliados.
Kennedy Alencar - Blog do Kennedy