Por Rodrigo de Almeida
Com a experiência de quem trabalhou nas vitoriosas campanhas de Sérgio Cabral para o Senado e o governo do Rio, e de Eduardo Paes para a prefeitura carioca, o publicitário Renato Pereira engrossa o coro segundo o qual o PSDB enfrentará uma pedreira na sucessão presidencial do ano que vem. Mais do que sair de um terreno movediço aparentemente intransponível (pelo menos no horizonte visto a partir deste inverno), os tucanos precisarão resolver um dilema para o qual não estão contando nem com a sorte, nem com o tempo. Não será fácil, diz Pereira, vencer a candidata apoiada por um presidente cujo governo conserva a popularidade nas nuvens, preservada em meio a uma crise econômica internacional, com uma cartela de programas bem-sucedidos e um discurso público afinadíssimo, contra o qual não mostra efeito prático qualquer liame oposicionista, seja ético ou administrativo.
Estivemos juntos numa mesa-redonda na semana passada, ao lado do cientista político Marcus Figueiredo. Professor do Iuperj, Figueiredo coordena ali o Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, o Doxa, hoje referência na investigação de processos eleitorais e de comunicação política no Brasil, com produção de teses, publicações, análises e um bem frequentado curso anual de extensão em mídia e política. O debate com Renato Pereira, que encerrou o curso deste ano, voltou-se para as nuances da primeira eleição presidencial, desde a redemocratização, sem Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, como sublinhou Figueiredo, é a primeira disputa sem Lula e, embora com Lula no centro da ribalta, o fato de não ser candidato torna tudo muito diferente.
A primeira e habitual dúvida – aquela que mobilizou os primeiros passos da ministra Dilma Rousseff, seus aliados e seus potenciais adversários – é a capacidade do presidente de transferir votos para a candidata. Esse dilema parece estar resolvido. “As pesquisas feitas tanto pelo PT quanto pelo PSDB estão mostrando que, no ritmo de crescimento e exposição dos últimos meses, Dilma deve alcançar José Serra até o fim do ano”, afirma o publicitário. Sem a campanha começar de fato. O risco da ministra-candidata, por outro lado, é a zona de sombra existente sobre seu comportamento em plena campanha: ela reagirá bem às rudezas da disputa, aos eventuais ataques, aos embates com a mídia? “Dilma dá conta do recado”, sugere. “Tem dado conta até aqui, quando confrontada sobre problemas como sua saúde, seu currículo e a crise”.
Que tucanos – Serra ou Aécio Neves – terão dificuldades em 2010 não chega a ser novidade. O interessante são os argumentos para explicá-las e as possíveis luzes capazes de iluminar uma saída para o PSDB. O publicitário lembra três fatores-chave numa campanha: a avaliação do governo; o potencial de crescimento do(a) candidato(a), em que se olha para o grau de conhecimento e a imagem junto ao eleitor; e as narrativas construídas.
Dessa tríade, Dilma e Aécio saem-se melhor do que Serra, na avaliação de Renato Pereira. Seus argumentos: Dilma pela avaliação do governo Lula, porque tem muita margem para crescer e um discurso bem aceito pelo eleitorado, o discurso da continuidade de um governo bem-sucedido. (O publicitário reconhece, porém, que seu desempenho futuro tem um quê de incógnita, já que é noviça em campanhas eleitorais). Aécio porque exibe uma imagem de conciliação (não será um anti-Lula, portanto), tem potencial para crescer (ainda pouco conhecido, mas com baixa rejeição) e uma narrativa de campanha possivelmente mais eficaz do que Serra, mais voltada para a novidade na forma de fazer política. Em outras palavras, segundo o publicitário, será mais fácil ao PSDB achar um norte de campanha com Aécio do que com o governador paulista.
Acrescentei no debate do Iuperj e acrescento aqui: nos sete anos de governo Lula, o PSDB deixou-se levar, por convicção ou pelas circunstâncias, por um projeto de poder de formato conservador. É um modelo que só tem espaço para crescer pelo que tem de negativo (o contra, o medo, o antilulismo, o antipetismo, o antiestado) do que pelo que poderia ter de positivo (um Estado eficiente e moderno, projetos e gestão de longo prazo, etc.). Nesse formato, o partido tornou-se dependente de um desgaste do governo e do presidente para agregar votos.
Renato Pereira lembra que a crise era “a grande janela de oportunidade” do PSDB. No fim das contas, porém, mostra-se cada vez mais parecida com a marolinha defendida pelo presidente Lula no alvorecer da turbulência internacional. Recebida com ironia e galhofa na época, a metáfora tem adquirido ares de realidade. Para desgosto tucano.
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