Dilma, como milhares de jovens ela não viu outra saída...


Duarte disse...


Alon, instigado por sua nota, eu revi o vídeo do PT, e o narrador diz claramente (antes do presidente citar Mandela):

"Como milhares de jovens ela não viu outra saída..."

Ou seja, em nenhum momento está dizendo que não existia outra saída, está dizendo que ela não viu.

No contexto da época isso era bastante razoável. Havia golpes seguidos dentro do golpe, cada vez fechando mais o regime. Ninguém imaginava em 1968 que Geisel iria liberar criticas do MDB na eleição de 1974 na TV, dando início à abertura lenta e gradual, para entregar o poder 11 anos depois. A própria Dilma, após cumprir sua pena por subversão integralmente (saiu em 1973 em pleno governo Medici), não retomou a guerrilha, nem viveu na clandestinidade. Continuou vivendo no Brasil e passou a fazer política partidária.

Em 1968, era natural pensar que sem resistência não acabaria a ditadura. A história de ditaduras latino americanas eram de perpetuação no poder do grupo dominante.

Quero lembrar que várias pessoas que hoje estão no PSDB, no PV, em diretorias de empresas e bancos, pensaram e agiram da mesma forma, na época. Por isso não são pessoas loucas e muito menos criminosas. São pessoas que agiram como soldados voluntários de exército rebelde, combateram em missão, e de forma até inocente, porque a maioria não tinha treinamento nem aptidão para isso.

Em 1968, após a passeata dos 100 mil, um grupo de estudantes com Hélio Pelegrino foram recebidos por Costa e Silva para negociar a libertação de estudantes presos em passeatas estudantis. O General queria uma moratória: o fim das passeatas. Não houve acordo. Os estudantes continuaram presos por "subversão", e as passeatas continuaram. Daí veio o AI-5 em dezembro. O fato é narrado no livro "1968 o ano que não acabou".

Aqueles estudantes que estavam no planalto negociando com o general poucos meses antes, entraram para a luta armada, quando entenderam que todas as portas estavam fechadas.

O que leva estudantes intelectualizados que não ingressaram no exército, que não gostariam que o serviço militar fosse obrigatório para si, a ingressar numa organização militar rudimentar como a guerrilha?

A falta da existência de partidos socialistas legalizados na época, a proibição da UNE e perseguição à Diretórios Acadêmicos, a intervenção em sindicatos.

Se houvesse liberdade de organização partidária, estudantil, sindical, direito de greve, estariam como estão hoje os jovens que estão na UJS, no PCO, no PSTU, o PSOL, no PCdoB, no PT, na CONLUTAS, etc.

A redemocratização foi o conjunto da obra de todos que lutaram por ela, tanto quem não pegou em armas, como quem pegou. Acho injusto desconsiderar que o filho da Zuzu Angel, por ter entrado na guerrilha e na lista de desaparecidos, não tenha ajudado a formar pressões de Congressistas estadunidenses (considerados de esquerda para os padrões de lá) por normalidade democrática no Brasil. Outros inúmeros casos também geraram pressões sobre o Brasil de outros países. Assim como o Mandela preso como "terrorista" nas leis vigentes de lá, ajudou nas pressões internacionais pelo fim do Apartheid.

A lógica de Mandela também foi essa. Ele partiu para a guerrilha, quando o CNA foi jogado na clandestinidade, e os protestos eram proibidos.

Mandela também não chegou ao poder pela guerrilha do MK que nunca teve força militar para vencer o exército sul-africano, mas a luta da guerrilha do MK de Mandela, deu visibilidade para as pressões internacionais, viabilizarem a transição negociada na África do Sul.

Regimes ditatoriais, se todo mundo ficar sossegado e não fizer oposição (inclusive pela rebeldia das armas, quando a oposição não é consentida), não caem nunca.

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