Fabiana Ribeiro e Danielle Nogueira
Nos últimos seis anos, mais gente passou a ter acesso a bens mais caros. Na cesta de compras das famílias, apareceram pela primeira vez os produtos light, diet e orgânicos — além de ter aumentado a participação de itens como carnes, frutas e legumes.
Também passaram a fazer parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE os pacotes de telefonia, TV e internet, antes apurados separadamente.
E, ainda que o brasileiro continue a poupar pouco, os investimentos em imóvel e carro foram intensificados nos últimos seis anos. As mudanças de hábitos refletem, segundo especialistas, a melhora no mercado de trabalho, a maior formalização, a expansão do crédito e o crescimento da renda do trabalhador.
— Os avanços do mercado de trabalho e os ganhos de renda dos últimos anos ajudam a explicar as mudanças no padrão de consumo dos brasileiros — diz Edilson Nascimento Silva, gerente da POF, acrescentando que as famílias de menor renda apresentaram fortes avanços no rendimento no período.
Nos últimos seis anos, as famílias ampliaram seus gastos com a casa própria: em 2002/2003, estes representavam 2,77% das despesas; em 2008/2009, são 4% do total. Já a participação dos veículos passou de 5,93% para 6,9% do orçamento doméstico.
Gastos com eletrodomésticos passaram de 1,88% a 2,1% Segundo especialistas, o crédito foi um dos responsáveis pela maior participação dos eletrodomésticos nas despesas das famílilas. Na POF anterior, eram 1,88% dos gastos e, agora, são 2,1%. A ampliação dos financiamentos também elevou a participação da compra dos veículos: de 39% dos gastos com transportes em 2002/2003, agora são 43,1%.
— Mais gente passou a ter acesso a produtos e serviços mais sofisticados, a exemplo do que já acontece em países desenvolvidos. Na década de 1960, ter um automóvel era para poucos. Agora, famílias de baixa renda possuem um carro — explica o professor Heron do Carmo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Caíram as despesas com os serviços de telefonia fixa, de 1,79% para 1%. Com os celulares, o movimento foi inverso: de 0,63% para 1%, refletindo o fato de que muitos lares só contam hoje com a telefonia móvel.
Esse é o caso da empregada doméstica Adriana dos Santos, de 31 anos, cujo trabalho como diarista lhe garante R$ 770 por mês. No mês passado, ela comprou um celular por R$ 159, o equivalente a 20,6% de sua renda bruta. Parcelou a compra em três vezes e não descarta pedir dinheiro aos amigos ou à família — seu marido está desempregado — para quitar as duas parcelas restantes.
— Nunca conseguiria comprar o celular à vista. O que ganho é pouco e, quando chega no fim do mês, tenho que dar meu jeito — diz.
Professor vê consumo mais coerente com o país É o segundo celular que Adriana compra. Como não tem telefone fixo, um fica em casa e o outro ela leva para o trabalho. Assim, pode ter notícias de seus três filhos durante o dia. As despesas com transporte (R$ 160 mensais), por outro lado, respondem por 20,7% de sua renda.
— A cesta de compras do brasileiro vem melhorando desde a década de 30. Isso se refere à quantidade e à qualidade.
A mudança não é limitada a classes mais altas as famílias de renda baixa passam a ter mais acesso a produtos e serviços mais caros, de petshops a viagens — diz Carmo.
Dados da POF mostram que o consumo de orgânicos ainda é insignificante, mas sua presença na pesquisa é um sinal de que esses produtos já começam a aparecer na mesa dos brasileiros. Também é mínima a participação de artigos light e diet (0,1%).
Para Carmo, a inflação sob controle contribuiu — e muito — para melhorar a qualidade da cesta de compras do brasileiro e influenciou nas mudanças dos hábitos dos brasileiros.
— Isso também permitiu que o país apresente um padrão de consumo mais coerente com seu nível de desenvolvimento.
O consumo ficou menos desigual e mais democrático — afirma o professor da USP. Continua>>>
Nenhum comentário:
Postar um comentário