Eu cheguei de viagem e abri a internet. Fui ver uns blogs que se publicam sob o rótulo da “Veja”. Senti vontade de me matricular num curso de yoga, para sublimar o nojo, a revolta, a indignação. Talvez por isso tenha ido descansar e retomar o trabalho mais tarde, no silêncio da madrugada, quando tudo é mais sereno.
Então troquei minha revolta por reflexão. O que será que faz um jornalista se prestar ao papel crápula de usar um personagem inventado para dizer que “nossa Zelig (Dilma) é uma jeca com nível intelectual de copeira da Casa Civil, que não conhece sequer os códigos da faixa de pedestre e que evidentemente desconhece rudimentos da cultura europeia ou de qualquer forma de cultura”?
E depois, quando Dilma diz que só dá entrevistas uma vez por dia, ficar repetindo que ela “só dá uma vez por dia”?
O que leva um ser humano a tamanha abjeção?
Dinheiro? Não, não, ele receberia o mesmo com 10% disso…Muito menos convicções, que ele poderia expressar, mesmo batendo duro, mas sem chafurdar nessa baixaria sexista e senhorial, que pensa isso sobre mulheres e copeiras…
Não, não. Nada disso. É mesmo delírio, desespero elitista, ódio transtornante que assoma à mente de quem se vê, em poucos anos, decair do altar de voz importante, quase divina, para fiapos de sons esganiçados aos quais ninguém mais dá atenção, senão seus companheiros de desdita.
Uma vez, no aeroporto Santos Dumont, meu avô deu um soco em David Nasser. Perguntado se tinha agredido o jornalista, respondeu: não, bati num canalha. Os tempos mudaram. Nada justifica uma agressão física, mesmo a um canalha.
Eles estão sendo nocauteados por uma mão muito mais poderosa e alegre. São pobres farrapos de gente, feitores diante da abolição, capitães de mato estalando seus chicotes que já não amedrontam.
Que maravilha a força da realidade, que beleza o nosso povão, as nossas copeiras, os nossos pedreiros, nossos irmãos e irmãs de todas as cores e todos os jeitos, “que não conhecem os rudimentos da cultura européia”, tomando deles as rédeas do país.
Para ele, para essa gente a quem sobrou o papel de bobos da corte decaída, o melhor e mais gentil tapa que podem levar é esse, que o video aí de cima mostra, para a gente começar o domingo com alegria e otimismo.
Está passando e vai passar.
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