De onde ela vem

Mesmo no meio de um processo eleitoral há espaço para a lógica. No fim de semana o presidente da República fez o que fez, disse o que disse sobre os veículos jornalísticos que publicam acusações de supostas irregularidades no governo. Já ontem, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, saiu de um encontro da coordenação de governo afirmando que Luiz Inácio Lula da Silva mandou apurar tudo, para a punição dos eventuais responsáveis.



Qual é a face real do comboio governista, o Lula do fim de semana ou o Padilha de ontem? Provavelmente ambos. O presidente deve sim estar enfurecido com a sucessão de acusações contra a administração, e é normal que veja nelas motivação político-eleitoral, mas numa democracia não há jeito de a autoridade escapar das obrigações legais. É preciso mover-se, produzir providências. Até por razões político-eleitorais. Pelo andar da carruagem, o governo sairá das urnas com motivos para sorrir. Mas a vida segue, e a política idem.



Lula deseja que a atual oposição encare outubro dizimada, e tem uma chance de conseguir. E daí? E daí nada, ou muito pouco. O Brasil já assistiu antes a belas hegemonias eleitoriais. Em 1970 a Arena massacrou o MDB, que chegou a pensar em autodissolução. Em 1986 o PMDB reacendeu os temores de “mexicanização”, ao ganhar tudo e mais alguma coisa. Tomou o Planalto, quase todos os governos estaduais e a maioria esmagadora na Constituinte. E em 1994 o PSDB abocanhou a Presidência da República, São Paulo, Minas Gerais e o Rio de Janeiro.



O poder absoluto, ou quase, não foi suficiente para a Arena, o PMDB e o PSDB se eternizarem. A “mexicanização” frequenta esporadicamente o noticiário, mas nunca se consumou. Por quê? Assunto para os doutores. De todo jeito, a oposição aos governos não nasce nos parlamentos, nem lhe é indispensável deter orçamentos públicos para azeitar a vida diária e suas campanhas. A origem da oposição é sempre social, e mesmo governos maravilhosamente bem avaliados, e votados, podem virar pó se o vento na rua muda de sentido.



Desde, é claro, que exista um ambiente institucional favorável à democracia. Como aqui.



Governos sempre colhem os frutos da bonança econômica. Este não é exceção. E as hegemonias recentes no Brasil foram minadas por frustrações econômicas. O eleitor sempre encontrou uma maneira de, nessas crises, manifestar o desejo de mudança. E recebeu a bola quem estava, como diria o Capitão Coutinho, no ponto futuro. Só isso. O problema é que para chegar a esses pontos futuros as forças da esperança precisaram atravessar, cada uma a seu tempo, um deserto particular.

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