O mundo gira e a Justiça roda

Artigo


 “O Mundo gira e a Luzitana roda”, reclamava um reclame nos anos 50, ao anunciar a competência de uma empresa de mudanças e fretes rodoviários. Roda, roda e a cobra engole o rabo. O primeiro escândalo que abalou o governo Lula começou pelos Correios e o último, assim espero, chega por envelope da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

Em 14 de maio de 2005, Maurício Marinho, chefe do MECA / ECT, é gravado e mais tarde exibido a cerca de 70 milhões de telespectadores, recebendo a bufunfinha de 3 mil reais. Era corrupção pequena, mas escondia coisa grossa.
A partir dessa esmola de rico, Maurício abre o verbo e entrega o chefe da ladroagem na empresa. Roberto Jefferson, presidente do PTB e dono da sesmaria dos Correios é acusado por Maurício de ser o chefe da quadrilha que envolve outras pessoas e novos setores da instituição. Jefferson dá uma entrevista e incendeia o mundo.
Agora é a vez do envelope dos Correios, versão 2010.
Dessa vez, o governo Lula, menos lento, não se deixou enredar pela esperteza que há cinco anos Roberto Jefferson usou para o emparedá-lo.
Após alguns dias de sangria em público, Erenice foi demitida, a quadrilha da Casa Civil foi desmontada e o nome de Dilma foi preservado. Belo resultado de fina estratégia do ministro Franklin Martins e ato de justiça, pois Dilma teve uma crise de choro compulsivo quando soube da traição da melhor amiga.
Entretanto, em 2005 o mal levou a melhor. Jefferson criou o neologismo mensalão, o nome pegou, o procurador geral da República, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, partiu para o deboche quando fez uma denúncia associando os acusados aos 40 ladrões de Ali Babá e o ministro Joaquim Barbosa transformou a aceitação da denúncia no STF em declaração de voto condenatório.
Jefferson inventou uma história verdadeira, mas mal contada. Verdadeira o suficiente para livrá-lo de um flagrante de assalto aos cofres públicos e mal contada porque misturou alhos com bugalhos. Nessa história ninguém é inocente e grandes crime ficaram ocultos. Agiotas, doleiros e especuladores do sistema financeiro foram cuidadosamente resguardados.
Perguntas que levitam: você acredita que o Professor Luizinho do PT, precisava de mesada de 20 mil reais para votar com o governo Lula? ; e João Paulo, do PT e ex-presidente da Câmara dos Deputados?; Janene e seu PP, talvez, porque não foram tão bem aquinhoados na distribuição dos cargos; e José Alencar, vice-presidente da República e influente no Ministério dos Transportes, que mais ambicionaria? ; o PMDB, supremo conselheiro na distribuição de empregos federais, iria se lambuzar com merrecas?
O que houve, em alguns casos, é que a tesouraria do PT tornou-se um pronto-socorro da aflição dos partidos aliados, para atender emergências ou para sanar velhas dívidas de campanha.
É a Justiça que temos e os juízes que nos julgam. A maioria dos togados tem muitas virtudes e nem todo mundo é baixo clero, mas a instituição está ferida pelos maus exemplos espelhados pela imprensa. Cada um tem seu pecado, mas o diabo é um só .
É bem verdade, que por mais virtudes que acumule, o Judiciário vinha perdendo há tempo o brilho das togas que cobriram ombros como Evandro Lins e Silva, Epitácio Pessoa, José Linhares, Orozimbo Nonato, Cândido Barata Ribeiro, Clovis Ramalhete, Hermes Lima, Vitor Nunes Leal, Nelson Hungria, Prado Kelly ou Aliomar Baleeiro, apenas para lembrar alguns que já não se encontram entre nós.
Quem dera, o passado de glória e sabedoria se encarnasse dentro das togas dos 11 do STF. Todos lucrariam, pois finalmente o atual Supremo, salvo ilustres exceções, poderia, no futuro, ser lembrado como um exemplo a ser seguido. As novas gerações encontrariam, nos compêndios de direito constitucional, lições edificantes extraídas de votos dos atuais ocupantes daquela Suprema Corte.
Ronald de Carvalho é jornalista

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