por Carlos Chagas

A lua-de-mel vai acabar

Corte de 50 bilhões no orçamento, reajuste insuficiente no salário  mínimo, proibição de contratações no serviço público, mesmo para os já aprovados em concurso,  nenhum reajuste para os funcionários públicos,  negativa de recursos adicionais para os estados do Nordeste, juros em alta, perspectiva de um novo  imposto para custear a saúde pública -  só  notícias ruins, até agora. Fala-se dos primeiros dois meses do governo Dilma Rousseff.  A ninguém foi dado esperar que a nova presidente chegasse ao poder  disposta a abrir o saco de bondades, mas sucedem-se  as maldades. Muitas devem-se às gastanças do último  ano do governo Lula, mas se não fosse a farra de 2010 o ex-presidente talvez não tivesse feito a sucessora. Explica-se essa fase de vacas magras também pela própria personalidade da chefe do governo, para quem os sacrifícios devem ser feitos de uma só vez, ao tempo em  que as benesses  aos poucos, em conta-gotas.

Agora  tem um problema, talvez já detectado por sua assessoria:  as elites econômico-financeiras  andam felizes, nenhum de seus privilégios foi cortado e elas permanecem faturando o diabo, como demonstram  os lucros dos bancos e a remuneração  do capital especulativo. Evidência disso tem sido os editoriais dos  jornalões.  Mas o povão e a  classe média, como vem reagindo?

Coincidência ou não, os  institutos  de pesquisa andam paralíticos, sem consultar a população. Ou se o fazem, pior ainda, porque não revelam os resultados senão para clientes privilegiados, entre os quais o governo.

O risco, para Dilma Rousseff,   será receber logo  percentuais   de popularidade muito abaixo daqueles conquistados pelo Lula. Por  um par de meses ou pouco mais ainda  será possível aproveitar o vácuo da vitória de outubro passado, assim como os índices do antecessor.  Demonstra a experiência, porém, que a lua-de-mel dos governantes com a opinião pública dura   no máximo seis  meses. Aconteceu até  com os generais-presidentes e seguintes. José Sarney passou do  sucesso  do Plano Cruzado às picaretadas; Fernando Collor se viu cobrado e abandonado em pouco tempo;  Itamar Franco terá sido uma exceção, entrando sem qualquer expectativa mas saindo exaltado; Fernando Henrique foi a esperança bem-nascida e  desfeita nos andares de baixo que, relegou ao abandono;  Lula conseguiu provar a quadratura do círculo por conta das origens e de muita sorte, daqueles fenômenos que apenas acontecem uma vez em cada século.

 E Dilma? Ainda dispõe de algum tempo para  dar a volta por cima e reverter os ventos, primeiro da indiferença e depois da impopularidade, mas seria necessário que se mexesse no sentido oposto ao que vem seguindo até agora.  Alguma coisa precisa ser feita e anunciada para o povão. Só fazer o árido dever de casa não  basta, até por falta de quem o corrija, fora das elites.  Uma retomada de direitos sociais surripiados ao longo das últimas décadas, como a volta do salário-família, da estabilidade  no  emprego, da participação  dos empregados no lucro das empresas e da co-gestão seria um bom começo ou um sonho de noite de verão? Certamente um pesadelo para os neoliberais...

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