[...] e a jaboticaba
Como a gente tem comentado aqui, dá para notar que o recrudescimento da inflação é um fenômeno da economia mundial, não da brasileira, apenas.
E decorre, como todos sabem, da imensa disponibilidade de recursos financeiros que, desde a crise de 2008, “se soltaram” das economias centrais rumo aos países que, em meio a ela, em lugar de entrarem em recessão – como ocorreu com os EUA e a Europa – continuaram(ou até aceleraram) seu crescimento econômico.
O impacto em 2009 foi imenso: o PIB dos Estados Unidos, recuou 2,4%, o Reino Unido, teve contração de 4,8%, e o Japão fechou o ano com queda de 5%. As economias da Alemanha e Itália também despencaram 5%, enquanto a do conjunto da União Europeia caiu 4,1%, e a do Canadá, 2,6%.
A resposta daquelas economias foi baixar os juros a praticamente zero, o que continuam a praticar, porque o crescimento que tiveram em 2010 sequer recuperou a retração do ano anterior. E, com isso, suas disponibilidades de capital fluíram em busca de taxas de remuneração mais atraentes.
E a remuneração mais líquida e mais direta são as taxas de juros públicas, direta ou indiretamente, pois elas eterminam, também, se as empresas irão se financiar interna ou externamente.
As medidas tomadas pelo Governo, como todos sabiam – apesar de dizerem ao contrário – cessaram em parte a entrada de dólares de curto prazo (leia-se, menos risco cambial), mas não anularam este movimento. Ao mercado interessa que suba a inflação e subam os juros.
É só olhar o mapa lá em cima e ver o quanto os juros brasileiros estão descolados da inflação interna. E, se depender do “mercado”, ficarão mais, com a elevação da taxa Selic, na próxima reunião do Conselho de Política Monetária, na semana que vem.
Como, além da jaboticaba, tudo o que só acontece no Brasil deve ser olhado com atenção, à procura da batata que está entro da chaleira, a pressão por um aumento de juros nada tem a ver com uma “ação natural” da economia. Não é uma fatalidade das regras econômicas e não é a única forma de evitar que a expansão do crédito gere um crescimento da demanda que pressione a inflação.
A inflação brasileira não é de demanda. A inflação é a pressão do mercado, do capital, por condições mais vantajosas para a sua remuneração. E a autoridade econômica que se opuser a isso, ou ao menos não se entregar prazeirosamente a isso, vira alvo de seus mecanismos de pressão: a mídia.
O resto, meus amigos, é jaboticaba.
por Brizola Neto
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