[...] Ou todos, ou ninguém
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem o mérito de não esconder as ideias, e mantém o fio condutor a ligá-las ao longo do tempo. É um caso de intelectual que virou político e na volta à planície consegue combinar bem as duas maneiras de interpretar o mundo.
Errando ou acertando, FHC oferece matéria prima de qualidade para o debate.
O mais recente artigo do ex-presidente, publicado na revista Interesse Nacional, trouxe notícia. FHC prega a inutilidade de o PSDB disputar os movimentos sociais e o povão com o PT. É a notícia no texto, apesar de não ser talvez o "mais importante", ou o que FHC gostaria de destacar.
Notícia é sinônimo de novidade. Esprema-se o longo texto de FHC e sairá essa única novidade. As outras coisas todas ele já havia dito, algumas mais de uma vez.
Eis um detalhe que políticos têm muita dificuldade para compreender: jornalismo trata de notícias, não de informações organizadas por critérios, também subjetivos, de importância.
Se não houvesse no texto de FHC a referência ao povão, provavelmente a obra teria passado despercebida. Seria mais um texto, só que caudaloso.
Mas o debate em torno da notícia oferecida por FHC é bom. Num certo sentido, FHC ajudou a oposição. Expôs a principal dificuldade dela.
Desde sempre, o PT consolida a hegemonia ao operar a conexão entre o geral e o particular. Uma esfera faz concessões à outra, mas elas dançam juntas. Luta pelo salário mínimo, para redistribuir renda. Não é só para ajudar quem ganha o mínimo.
Quando é para arrochar o salário mínimo, explica pela necessidade de preservar a estabilidade e combater a inflação.
O PSDB ou o Democratas provavelmente dariam a mesma explicação. Por que então o PT consegue arrochar sem praticamente provocar reação? Por que tem mais legitimidade para pedir sacrifícios?
A tese mais simplista é a cooptação dos líderes dos movimentos sociais. Mas os líderes não vivem num universo paralelo. Se podem apoiar quase qualquer coisa que o governo petista faz é porque a base está de acordo.
Ou pelo menos a base acha que não seria boa a relação custo-benefício de trocar o comando.
Pois o PT tem crédito, acumulou crédito. Por ter defendido ao longo dos anos, com razão ou sem, com lógica ou sem, com oportunismo ou sem, com patriotismo ou sem, reivindicações setoriais, localizadas, fragmentadas.
Juntou assim seu capital político, fez a conexão entre, de um lado, o empenho para melhorar a vida de cada um e, de outro, a visão partidária de mundo.
O PT falava do grande milagre, mas não esperava sentado por ele. Buscava no meio tempo pequenos milagres para melhorar o aqui e agora da turma que o apoiava.
Mas o PT só conseguiu o grande salto quando substituiu o "cada um" por "todos". Quando juntou todos os "cada um". Quando conseguiu dizer coisas não apenas para alguns pedaços, mas para todos os pedaços. Pobres e ricos, além das diversas cores do arco-íris da classe média.
Pois talvez seja impossível falar para o conjunto da sociedade sem conseguir falar para cada pedaço dela, sem exceção. Ainda que o pedaço não goste do partido. Ainda que ele hoje não vote no partido.
Isso vale sempre. E vale mais ainda num país marcado pela desigualdade, e no qual a busca da igualdade é um valor prático, e também simbólico.
No Brasil não há como ser nacional sem ser popular. Talvez um dia haja. O que quer o PSDB? Esperar sentado a chegada desse dia?
Esperar o PT completar a obra de inclusão para, a partir daí, do adensamento final das classes médias, buscar a volta ao poder com base na insatisfação dessas classes médias com o PT?
Precisaria combinar com o adversário, como disse um dia Garrincha sobre os russos/soviéticos.
Pois o PT não está dormindo. O governo Dilma Rousseff vai claramente orientado a reduzir a resistência nas classes médias.
Infelizmente para o PSDB, a vida não vai esperar o PSDB acordar.
Os sinais já são claros. Marina Silva teve 20 milhões de votos, mesmo com um tempo de televisão mixuruca. E o PSB se alimenta pelas beiradas, acumulando musculatura.
Errando ou acertando, FHC oferece matéria prima de qualidade para o debate.
O mais recente artigo do ex-presidente, publicado na revista Interesse Nacional, trouxe notícia. FHC prega a inutilidade de o PSDB disputar os movimentos sociais e o povão com o PT. É a notícia no texto, apesar de não ser talvez o "mais importante", ou o que FHC gostaria de destacar.
Notícia é sinônimo de novidade. Esprema-se o longo texto de FHC e sairá essa única novidade. As outras coisas todas ele já havia dito, algumas mais de uma vez.
Eis um detalhe que políticos têm muita dificuldade para compreender: jornalismo trata de notícias, não de informações organizadas por critérios, também subjetivos, de importância.
Se não houvesse no texto de FHC a referência ao povão, provavelmente a obra teria passado despercebida. Seria mais um texto, só que caudaloso.
Mas o debate em torno da notícia oferecida por FHC é bom. Num certo sentido, FHC ajudou a oposição. Expôs a principal dificuldade dela.
Desde sempre, o PT consolida a hegemonia ao operar a conexão entre o geral e o particular. Uma esfera faz concessões à outra, mas elas dançam juntas. Luta pelo salário mínimo, para redistribuir renda. Não é só para ajudar quem ganha o mínimo.
Quando é para arrochar o salário mínimo, explica pela necessidade de preservar a estabilidade e combater a inflação.
O PSDB ou o Democratas provavelmente dariam a mesma explicação. Por que então o PT consegue arrochar sem praticamente provocar reação? Por que tem mais legitimidade para pedir sacrifícios?
A tese mais simplista é a cooptação dos líderes dos movimentos sociais. Mas os líderes não vivem num universo paralelo. Se podem apoiar quase qualquer coisa que o governo petista faz é porque a base está de acordo.
Ou pelo menos a base acha que não seria boa a relação custo-benefício de trocar o comando.
Pois o PT tem crédito, acumulou crédito. Por ter defendido ao longo dos anos, com razão ou sem, com lógica ou sem, com oportunismo ou sem, com patriotismo ou sem, reivindicações setoriais, localizadas, fragmentadas.
Juntou assim seu capital político, fez a conexão entre, de um lado, o empenho para melhorar a vida de cada um e, de outro, a visão partidária de mundo.
O PT falava do grande milagre, mas não esperava sentado por ele. Buscava no meio tempo pequenos milagres para melhorar o aqui e agora da turma que o apoiava.
Mas o PT só conseguiu o grande salto quando substituiu o "cada um" por "todos". Quando juntou todos os "cada um". Quando conseguiu dizer coisas não apenas para alguns pedaços, mas para todos os pedaços. Pobres e ricos, além das diversas cores do arco-íris da classe média.
Pois talvez seja impossível falar para o conjunto da sociedade sem conseguir falar para cada pedaço dela, sem exceção. Ainda que o pedaço não goste do partido. Ainda que ele hoje não vote no partido.
Isso vale sempre. E vale mais ainda num país marcado pela desigualdade, e no qual a busca da igualdade é um valor prático, e também simbólico.
No Brasil não há como ser nacional sem ser popular. Talvez um dia haja. O que quer o PSDB? Esperar sentado a chegada desse dia?
Esperar o PT completar a obra de inclusão para, a partir daí, do adensamento final das classes médias, buscar a volta ao poder com base na insatisfação dessas classes médias com o PT?
Precisaria combinar com o adversário, como disse um dia Garrincha sobre os russos/soviéticos.
Pois o PT não está dormindo. O governo Dilma Rousseff vai claramente orientado a reduzir a resistência nas classes médias.
Infelizmente para o PSDB, a vida não vai esperar o PSDB acordar.
Os sinais já são claros. Marina Silva teve 20 milhões de votos, mesmo com um tempo de televisão mixuruca. E o PSB se alimenta pelas beiradas, acumulando musculatura.
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