O economista Paulo Nogueira Batista Jr, publica um artigo hoje em que, delicadamente, chama de “pensamento grupal” o que mereceu o nome – fora de moda, hoje – de pensamento único.
Diz ele:
Nas últimas semanas, tivemos um exemplo extraordinário de pensamento grupal – a forte reação do mercado à decisão do Banco Central de aumentar em “apenas” 0,25 ponto percentual a taxa básica de juro. Se bem percebi daqui de longe, foi uma unanimidade ululante. O aumento foi considerado “insuficiente” para o controle da inflação, indício de fraqueza do BC e até mesmo da sua suposta subordinação ao “desenvolvimentismo” que domina o Ministério da Fazenda.Fantástico. Quem ouve esse coro de especialistas e financistas e não tem acesso a certas informações básicas pode ficar completamente desorientado. Na realidade, entre os bancos centrais de economias emergentes, o do Brasil está entre os que reagiram mais rapidamente, em termos de política de juros, ao risco de aquecimento. Desde abril de 2010, a meta para a taxa Selic passou de 8,75% para 10,75% no final do ano. No governo atual, os aumentos continuaram, com a taxa alcançando 12% depois da última decisão do Copom”.
E essa, acrescenta ele, é uma taxa gorda, pra rentista nenhum botar defeito. Dá o triplo da taxa real de juros de qualquer país do mundo, mostra ele, assinalando que, de 40 grandes economias, hoje 36 praticam taxas negativas – isto é, os juros públicos são menores que a inflação.
Então, o que é a política financeira que o “pensamento único” defende para o Brasil, tão original quanto a jaboticaba, que só dá aqui?
Acho que se compõe de três fatores.
O primeiro, o crônico “subalternismo” de nossas elites e das camadas intelectuais que a elas aderem, porque reproduzem com elas o mesmo tipo de atitude. Quem não tem, nem digo a capacidade, mas ao menos o desejo de pensar por sua própria cabeça, repete o que ouve, com a genialidade do papagaio.
O segundo, o poder avassalador e a natureza homogênea de nossa mídia – um monolito que é apenas triscado pelas exceções na imprensa, como o próprio artigo de Nogueira Batista e a blogosfera independente – que trabalha exclusivamente sob a ótica do capital e, mais, sob a visão de que a prosperidade brasileira é a prosperidade colonial, que depende de sermos agradáveis, disponíveis e dóceis às metrópoles – e a metrópole é o capital, nem mesmo as economias centrais, que agem diferente do que suas lições nos apregoam.
E o terceiro é o fato – bom e ruim, ao mesmo tempo – de sermos um país tão vasto, tão rico e tão capaz que, mesmo sangrado impiedosamente, é capaz não apenas de sobreviver como de, mesmo com pequenas e pífias defesas, agigantar-se.
Então, o pensamento grupal a que se refere Nogueira Batista é mesmo, como ele próprio diz, o pensamento – e a defesa dos interesses – da “turma da bufunfa” e dos satélites tecnocráticos e midiáticos que gravitam em torno dela. E é difícil fugir do poder de atração deste “buraco negro” da inteligência econômica, que a tudo devora, como um vórtice.
As razões do lobo se autoconstróem e, se deixarmos nossos pensamentos e atos seguirem por sua lógica, seremos sempre a presa a ser devorada.
Não tenho muita esperança de que se forme, espontaneamente, uma corrente majoritária de pensamento econômico fora desta “ordem mundial”, que tem duas regras diferentes para os dois personagens da fábula.
A nossa sorte é que, de um lado, passamos a ter governos que, mesmo sem romperem com ela abruptamente, deixaram de balir como cordeiros e, já agora, procuram dizer que ela faliu em seus próprios pressupostos, pois o lobo mal dá conta de se manter de pé.
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