O ano que termina foi muito ruim para as oposições. O que não é bom para a democracia.
Os partidos de oposição cometeram um erro fundamental em 2010, do qual não se recuperaram. Na verdade, dois. Não foi, apenas, o equívoco da candidatura Serra, em si, mas o modo como o ex-governador de São Paulo a posicionou e conduziu.
Tudo começou com uma leitura errada das pesquisas de intenção de voto. Mal lidas, deram a Serra a ilusão de que era favorito. Que Dilma não decolaria, apesar da popularidade de Lula.
Embalados por essa miragem, ele e seus apoiadores montaram uma campanha cuja única meta era a vitória. Não interessava construir uma imagem pessoal, muito menos partidária. Tudo era permitido, pois o resultado apagaria qualquer coisa que tivesse que ser feita para alcançá-lo.
Não ganhou, e a conta, que achava que não teria que pagar, chegou. Hoje, mal alcança 15% como candidato a prefeito de São Paulo, depois de ter sido deputado, senador, governador e de ter administrado a cidade (é fato que durante breves quinze meses). Sua rejeição é a maior, entre os mais de dez nomes que estão sendo testados.
(Talvez existam casos parecidos em outros países, de políticos que minguaram desse jeito. No Brasil, é o primeiro. Nunca tínhamos visto um esfarinhamento tão acentuado.)
Derrotadas na eleição presidencial, enfraquecidas no Congresso, divididas e cheias de quizílias internas, as oposições não conseguiram capitalizar a votação que Serra recebeu. Seus 44 milhões de votos, ao que parece, viraram fumaça.
Hoje, de acordo com as pesquisas de final de ano, o governo Dilma só recebe avaliação negativa de 9% da população adulta. Em números, isso equivaleria a cerca de 12 milhões de pessoas.
Ou seja, mais de 70% dos eleitores de Serra (no segundo turno) devem sentir-se bem com o que aconteceu: consideram o governo ótimo, bom ou, no mínimo, regular.
As oposições perderam a oportunidade de se renovar e foram puxadas para trás (e para a direita) por Serra. O prejuízo que terão que compensar não é pequeno.
A vitória de Aécio na convenção peessedebista de maio foi o primeiro passo. Ali, a grande maioria do partido - hoje a única força expressiva que resta, dado o estado quase terminal em que se encontram DEM e PPS - reconheceu que era hora de mostrar ao país um novo rosto.
Para dizer o quê? Qual o discurso que essa oposição rejuvenescida pretende apresentar?
De um lado, dizer-se “competente” e “ética”, querendo se contrapor ao PT e seus governos. A ideia pode ser boa, mas nada tem de original (será que existe um partido que não fala a mesma coisa?). Além disso, esbarra no que pensa a opinião pública, que não acredita na tese.
De outro, anuncia que fará o que acha que já deveria ter feito há muito: valorizar a “herança de Fernando Henrique”.
Em debates e encontros realizados ao longo do ano, parece que se tornou majoritária, no PSDB, a opinião de que foram derrotados porque não a assumiram. Que não foram suficientemente aguerridos na sua defesa, assim permitindo que Lula, com sua “esperteza”, se apropriasse dela.
Talvez não entendam que a discussão a respeito de quem começou uma política é bizantina para a opinião pública. Que insistir, por exemplo, que o Bolsa-Escola veio antes do Bolsa-Família não interessa a ninguém (salvo os historiadores). Que, andando cada vez mais para trás, vamos encontrar as boas coisas que Sarney, Collor e Itamar fizeram, necessárias para que estivéssemos como estamos.
Mais da metade (cerca de 55%) de nosso eleitorado tem menos de 40 anos. São pessoas que mal haviam chegado aos 20 anos em 1994, quando o real foi criado e Fernando Henrique se elegeu (das quais muitas - perto de 15% - não tinham nem nascido). Querer que uma campanha quase arqueológica as atraia é ilusão.
É possível que o panorama fique mais favorável para as oposições no ano que vem, com as eleições municipais, mas ninguém apostaria nisso. Do jeito que estão, elas se parecem com certos times de futebol, que não dependem apenas de si mesmos para alcançar seus objetivos em um campeonato.
Se o outro lado - isto é, o governo - não errar (em muito), as perspectivas para elas não são boas. Pelo menos, no curto e no médio prazos.
Tomara que melhorem, para o bem da democracia, em um futuro não muito remoto.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Nenhum comentário:
Postar um comentário