Dilma x mercado - A especulação casada
O IBOPE envolveu-se num episódio ate hoje nebuloso, durante as últimas eleições presidenciais: no fim de 2009, o presidente do instituto, Carlos Augusto Montenegro, disse que a então pré-candidata petista não conseguiria ultrapassar o teto de 15% dos votos.
Montenegro jamais mostrou quais eram os dados objetivos que o levaram a fazer tal afirmação. Àquela altura, a “previsão” parecia destinada a criar um fogo de barragem, impedindo que Dilma aparecesse como uma candidata viável: isso traria dificuldades para fechar alianças e também para obter doaçõe$ para a campanha.
Dilma, na época, passou como um trator pelas suposições de Montenegro. Mas a estranha previsão levantou (mais) uma nuvem de suspeitas sobre o instituto.
Agora, estamos a pouco mais de 6 meses de mais uma eleição. Dilma é favorita. A oposição – com seu braço midiático – parece desesperada para enfraquecer Dilma, e fazer com que ela (mesmo que vença) seja obrigada a assumir compromissos que impeçam um segundo mandato fora das regras do chamado “mercado”.
E é assim que, esta semana, o país assiste a mais uma onda de especulaçõe$. Mais uma vez o IBOPE aparece associado à boataria. Desde ontem, agências de notícias, rádios, jornais, sites e TVs martelam - em uníssono, como se fosse um discurso combinado - a seguinte série de informações: 1) uma pesquisa IBOPE (ainda em tabulação) apontaria redução nas intenções de voto de Dilma; 2) o “mercado” estaria satisfeito com isso (porque Dilma é vista como “intervencionista”, e o “mercado” gostaria que ela perdesse as eleições, ou ao menos ficasse mais fraca); 3) por isso, as ações de Petrobras e outras estatais estariam em alta na Bovespa.
A especulação com papéis começou na quarta-feira e avançou para esta quinta (20/março). Desde quando iniciei a carreira como repórter, na TV Cultura lá no começo dos anos 90, aprendi que a quinta-feira é o dia dos boatos na Bolsa, dia de especular, de usar a mídia e embolsar algum.
Esta seria apenas mais uma quinta-feira de especulaçãoes e boatos. Só que dessa vez especula-se com papéis e índices do IBOPE. E$peculação casada, isso está claro. Mas e$peculação causada por quem?
Em 25 anos de jornalismo, vi de perto como operam quase todas editorias de Economia por aí. Perto da hora do fechamento, em dias mais nervosos, jornalistas ligam pra duas ou três fontes (no máximo); quase todas as “fontes” são economistas que trabalham para bancos ou são consultores ligados ao mercado fenanceiro. Essas fontes interpretam os movimentos do “mercado”, e os jornalistas traduzem isso pra uma linguagem mais ou menos popular: o “mercado” acha isso, o “mercado” acha aquilo…
Reparem: quem interpreta e passa as informações é também quem tem interesse em juros mais ou menos (quase sempre mais) altos, em ações mais ou menos valorizadas… A velha imprensa é parceira da e$peculação. E aí estamos falando de especulação “apenas” financeira…
Dessa vez, há algo mais grave: há e$peculação casada. Trata-se de uma operação casada entre setores que querem, desde já, sequestrar a política econômica de um eventual segundo mandato Dilma. Qualquer movimento que ela faça recebe a resposta do “mercado”, que não gosta do tal intervencionismo. Qualquer subida da oposição no IBOPE é vendida como um “bom sinal”, aprovado pelo mercado.
Na cobertura televisiva, no rádio e nas agências de notícias, ninguém explica que o tal “mercado” não somos você, eu e a dona Maria que faz a feira na esquina. Esse “mercado” é formado por menos de 100 mil pessoas que detêm títulos da dívida pública e não gostaram nada dos movimentos feitos por Dilma para tentar baixar os juros em 2011 e 2012.
A mídia tenta substituir o eleitorado (formado por todos os cidadãos) por uma espécie de corpo técnico – o ”mercado” (formado pela elite fnanceira). É como se essa elite tentasse sequestrar e chantagear a cidadania. Não é um jogo novo. Mas voltou agora com toda força.
Não quero dizer com isso que os números do IBOPE (que devem ser conhecidos nas próximas horas) sejam verdadeiros ou falsos. Mas há uma nuvem de suspeita no ar. 3 ou 4 pontos pra cima ou pra baixo, a essa altura, é tudo que a turma do “mercado”, do “blocão” no Congresso e da velha mídia precisa pra deixar Dilma sob fogo cerrado.
Ameaça de CPI, ameaça de rebelião parlamentar, chantagem do mercado. Tudo junto! E há quem diga que - entre Dilma, Aécio ou Eduardo – não há qualquer diferença. Todos “liberais”. Então qual seria a explicação pra tanto alvoroço?
O governo Dilma tem muitos defeitos, mas nos últimos dias está sob ataque da direita e do “mercado” (associado à velha mídia) não por seus erros: mas pelo acerto de ter enfrentado a especulação e a farra financeira que ainda dominam o Brasil.
Para ganhar essa batalha, Dilma teria que mostrar mais coragem, mais disposição para um enfrentamento completo: a guerra passa pela mídia, por um embate diário. Dilma não parece disposta a esse combate total.
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