Nenhum dos cabeças do sistema de contratação de obras públicas por meio de corrupção foi alcançado pela operação Lava Jato. Se pode ser o caso de dizer “ainda não foi”, ou se o não é definitivo, fica para esclarecimento futuro. Mas a exclusão não se deve a que o jato lançado pelos investigadores tenha orientação seletiva.
“Executivos” profissionais são postos nos altos cargos, até nas presidências das empreiteiras, também ou sobretudo para arcar com os riscos de complicação pessoal e, no dia a dia, entrar com o rosto nas ações indecentes. É para dar essa fachada aos donos e acionistas majoritários, detentores do verdadeiro comando, que os “executivos” têm as elevadas remunerações que os levam a ser audaciosos e arrogantes.
Dos 36 denunciados na Lava Jato, os mais próximos da zona protegida nas empreiteiras são Sérgio Cunha Mendes, como o sobrenome indica, um dos vice-presidentes da Mendes Júnior; Dario Queiroz Galvão Filho, presidente do conselho de administração, e Eduardo Galvão, vice de gestão corporativa da Galvão Engenharia, empresa desdobrada da empreiteira Queiroz Galvão. Os demais são acionistas ou não, mas nunca detentores da decisão nos grandes negócios com estatais e com governos, por intermédio dos incontáveis Paulos Robertos Costas.
Até que altura o jato alcançará as empreiteiras é uma boa curiosidade. Mas, no mesmo capítulo, há pelo menos outra de igual gabarito: a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, que formam com a Camargo Corrêa o trio das maiores, dominadoras das obras públicas e das privatizações e concessões, não são molhadas nem por um jatinho? Então temos que mudar a história econômica do Brasil desde os primórdios da ditadura.
Uma curiosidade novinha e de tipo pouco frequente. Talvez em atenção à moda em que estão aqui os militares e a corrupção, a americana Dallas Airmotive International reconheceu na Justiça dos EUA que pagou suborno na FAB, de 2008 a 2012, para assegurar contratos de manutenção de motores. Não foi notícia que interessasse a muitos jornais, para publicação ainda na semana passada. Tanto mais que o ex-governador José Anchieta Jr., de Roraima, foi citado na mesma admissão da Dallas. E Anchieta é do PSDB.
Os mensalões e a corrupção no metrô e nos trens paulistas já mostraram que corrupção não é a mesma coisa quando se trata de PT ou de PSDB. Os militares, por sua vez, há muito tempo resolvem essas e outras coisas desagradáveis lá entre eles, nos silêncios da Justiça Militar —silêncios tão preferidos lá como resguardados pela imprensa, a menos que os réus sejam soldados da PM.
Assim se explica a curiosidade por saber se corrupção na Petrobras e entre militares são a mesma ou coisas diferentes. Se depender do nome, tratando-se de aviões Lava Jato caiu do céu.
E uma falsa curiosidade. A Secretaria de Aviação Civil, a Polícia Federal e a Aeronáutica, pelo que foi noticiado ao completar-se o quarto mês da morte de Eduardo Campos, ainda não sabem quem “era o responsável” pelo avião. A enrolação sugere ilegalidade. Antes da mal alegada venda, para mal identificados compradores, o avião tinha proprietário registrado. E esse proprietário, se vendeu o avião, sabe quem e como pagou. O fato de Eduardo Campos estar morto não justifica que o esclarecimento seja dispensado. Ou evitado. Inclusive porque há envolvidos vivos. Lava Jato aí também.