Moro Sabia?
“E aquilo que nesse momento se revelará aos povos surpreenderá a todos não por ser exótico. Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o óbvio”. (Caetano Veloso, in Um índio).
Com um “todo mundo sabia” e um “‘Há 30 anos se faz isso”, Emilio Odebrecht revelou ao povo brasileiro algo que sempre se soube ou se presumia. O povo, ainda que mal informado, sempre desconfiou, ao ouvir dizer que políticos gastavam muito para ganharem tão pouco. Haviam inclusive aqueles que seduzidos pela dinheirama trocavam voto até por cestas básicas e dentadura. Se o povo que vive distante sabia, desconfiava ou presumia, imagina a corja de acólitos que paparicavam o poder, nela incluída a dita grande mídia, ávida por garantir espaço publicitário. A sabujice, Seu Emílio, está na falsa perplexidade, na cara de pau dos que acreditam em capitalismo samaritano. Empresário não doa, investe.
E a Justiça Eleitoral? Com ou sem restrições sempre foi muito pródiga na aprovação de contas de campanha. Contas entregues a mal remunerados técnicos judiciários, auxiliares disso e daquilo, que se limitavam ao cruzamento de CPFs, CNPJ, entre outras burocracias. A JE vivia alheia aos partidos nanicos, alguns dos quais comprados para atacar o candidato ou partido X ou Y, sempre cobertos pelo anonimato das siglas milionárias.
Sem contar as vistas grossas para a desproporcionalidade entre os valores declarados para financiar campanhas e o que se via nas ruas, nas festas, comícios, shows, espetáculos de rádio e televisão. Uma dinheirama que ninguém queria saber de onde vinha, porque já se sabia e era conveniente. Caixa dois? Era normal. Sempre se soube.
Sem contar as vistas grossas para a desproporcionalidade entre os valores declarados para financiar campanhas e o que se via nas ruas, nas festas, comícios, shows, espetáculos de rádio e televisão. Uma dinheirama que ninguém queria saber de onde vinha, porque já se sabia e era conveniente. Caixa dois? Era normal. Sempre se soube.
Por falar em Justiça Eleitoral, numa de nossas falas nesse GGN, tivemos a oportunidade de revelar a venda de recibos eleitorais. Lembramos aqui que um grande banco pedia recibo de R$ 500 para cada R$ 50 doados, deixando ao léu os candidatos que teriam que procurar notas falsas para cobrir o restante. Notas, aliás, aceitas. A mesma Justiça useira e vezeira em negar direito de resposta aos partidores populares ou concedê-los sem tempo de corrigir o estrago feito em candidatos ou partidos. Essa tal Justiça Eleitoral nem juiz tem. Eles são recrutados Brasil afora nos tribunais estaduais, pois eleição é algo tão efêmero e sem importância que arautos do Direito e da moralidade disso não se ocupam. Tudo em clima de “sempre se soube”. Obvio, não?
Sobre a tal imprensa, “que também sempre soube”, como o senhor não é leitor do GGN, só nos resta refrescar a memória de quem nos lê sobre as concessões de rádio e TV, que sempre foram um mistério, predominando interesses políticos, econômicos, religiosos e…!!! Nesse GGN registramos: “Com ares de cercadinho ou máfia, o pensamento único da sociedade brasileira parece imposto de forma coronelesca pelas famílias Abravanel (SBT), Barbalho (RBA), Dallevo e Carvalho (Rede TV), Civita (Abril), Frias (Folha), Levy (Gazeta), Macedo (Record), Marinho (Globo), Mesquita (O Estado de S.Paulo), Queiroz (SVM), Saad (Band), Sarney (TV Mirante?) e Sirotsky (RBS)”. Nessa mesma fala, documentamos algumas falcatruas por elas praticadas, sempre a serviço de seus candidatos financiados pela Odebrecht. Não é curioso, Seu Emílio?
Sua perplexidade, Seu Emílio, é tão falsa quanto a dos patos da FIESP. O senhor foi criado e forjado na mesma cultura de Moros, Marinhos, Malafaias, Maçons. Todos herdeiros e ou filhotes de uma cultura que sempre se nutriu de tudo o quanto hoje se finge combater. O senhor é símbolo da riqueza, é um ícone da meritocracia que nós, de origem humilde, somos incentivados a imitar. Pela sua cultura, trabalhador tem que comer com uma mão e apertar parafuso com a outra. Tem que ser esterco para que o jardim de sua conta bancária e o capitalismo floresçam. Luta de classe, mais valia são balelas. Quanto menos vagas mais mão de obra reserva existirá. A lei da oferta e da procura foi revogada. Vale acordo de cavalheiros e com o trabalhador, vale o combinado na conversa do pescoço com a guilhotina.
Essa é sua cultura Seu Emílio, de forma que quando o senhor, às vésperas da Páscoa, apareceu com cara de Madalena arrependida para prosear com o Ministério Público foi melhor rir. O senhor confessou ser corrupto. Mais risível ainda foi a perplexidade da mídia que “sempre soube”, surpresa com o óbvio do qual sempre tirou proveito. Aliás, um sempre soube sacramentado por tribunais, hoje com status de santuário. Olha, Seu Emílio, o trecho divulgado de sua fala parecia conversa de compadres, naquela de sujo falando de mal lavado. Até a PF riu. De lá veio uma mensagem destacando a diferença “daquilo” com um interrogatório feito por um delegado federal.
De qualquer modo, sua fala ensaiada para a Globo deu Ibope, principalmente ao acusar Lula e Dilma. Prova pra que? O Jornal Nacional deu o dobro do tempo para eles em relação aos demais citados. Todos sabem que no prostíbulo não tem virgem. O problema é fingir que o bordel era igreja, sempre com sua ajuda. O senhor tratou o “Parquet” como meninos (filhotes de sua cultura), kkk!. Só eles não sabiam! Moro também? Papai e mamãe não contaram. “Por que só agora?” foi sua pergunta. Isso nós respondemos: pra destruir o PT, pegar Lula, vender o Brasil. Enquanto eram os outros podia, e não estamos advogando o direito do PT roubar, mesmo numa sociedade de Moros, Marinhos e Malafaias.
Só dois detalhezinhos: dinheiro roubado ou solicitado em nome de Lula/Dilma, se não provado serem eles reais destinatários, é de quem pediu. O outro é que a Farsa Jato já pavimentou a estrada dos tiranos: a classe política e o voto já estão desmoralizados, desqualificados. Isso tem preço. Quem pagou? Instaurada a crise, quem sabe a saída seja um militar ou um gestor, não é? Que tal o Dória, que Deus nos livre?
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo